Neste post, discutimos o papel da piora das expectativas a respeito das contas públicas brasileiras na determinação do comportamento da taxa de câmbio. Como mostramos no post anterior, uma parte relevante da dinâmica da taxa de câmbio BRL/USD pode ser explicada pelo movimento mundial de valorização do dólar que foi observado a partir de outubro, o qual ganha "momentum" particularmente após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas. Quando analisamos o comportamento da taxa de câmbio BRL/USD ao longo de 2024, percebe-se as seguintes características: ◾ Ao longo de todo o ano, o BRL sofreu uma desvalorização frente ao USD da ordem de 27,4%. Esta desvalorização é significamente mais elevada quando comparada com o comportamento do Índice de Moedas Emergentes (EMCI). Ao longo do mesmo período, o EMCI se valorizou em 0,77% frente ao USD. Na comparação com o DXY, o BRL também exibe uma desvalorização bem mais elevada. No período, o USD se valorizou cerca de 6,2% frente à cesta de moedas dos países desenvolvidos. ◾A observação das figuras 1 e 2 mostra que a desvalorização do BRL claramente se intensificou a partir do início de outubro, precisamente o período em que o USD inicia sua forte trajetória de valorização. Assim, entre janeiro e setembro, o BRL se desvaloriza 12,3%, enquanto o EMCI se desvaloriza apenas 2,9%. A cesta de moedas dos países desenvolvidos, por seu turno, se valoriza 1,4% frente ao USD. ◾ A forte valorização do USD a partir de outubro não foi observada na cesta de moedas dos países emergentes. Entre outubro e dezembro, o EMCI se valorizou 3,6%, enquanto o BRL se desvalorizou expressivos 13,5%. O DXY, por outro lado, mostra o USD se valorizando 7,7% frente às moedas dos países desenvolvidos. ◾ A fim de "testar" a hipótese da "incerteza fiscal", observamos o comportamento do CDS Brasil para 5 e 10 anos nestes mesmos períodos (figura 3). Observamos que: • O CDS de 5 anos se eleva expressivos 62,9% entre janeiro e dezembro. O CDS de 10 anos se eleva 40,9% no mesmo período • Entre janeiro e setembro, o CDS de 5 anos aumenta 16,4% e o CDS de 10 cresce 11,2% • Entre outubro e dezembro, portanto, encontramos as altas mais expressivas deste indicador do risco Brasil. O CDS de 5 anos aumenta nada menos que 40%, enquanto que o CDS de 10 anos sobe 26,7% É digno de nota que estas altas nos CDS a partir de outubro não "transbordaram" integralmente para a taxa de câmbio BRL/USD que, como observado, tem aproximadamente a mesma desvalorização relativa nestes dois períodos. É necessário reconhecer que houve uma aceleração da desvalorização do BRL a partir de outubro. É possível creditar parte desta aceleração ao aumento da "incerteza fiscal". Contudo, esta não é a única responsável por este comportamento.
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O esquema abaixo mostra a evolução das expectativas de cortes na taxa básica de juros americana entre o início de novembro, logo após o resultado das eleições presidenciais, e o dia 24/12. Percebe-se que houve uma significativa piora nestas expectativas. O mercado hoje trabalha com um cenário de apenas um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica para todo o ano de 2025. Este quadro ajuda a entender a piora recente na taxa de câmbio USD-BRL. A manutenção da taxa básica americana praticamente nos níveis atuais, somada à expectativa da imposição generalizada, pelo governo Trump, de tarifas sobre produtos importados pelos EUA, torna o quadro bastante desafiador, em especial para a inflação. O efeito do repasse da desvalorização para os preços será, provavelmente, o principal fator a explicar a dinâmica da inflação brasileira em 2025, haja visto que não se vislumbra a repetição dos choques de oferta que foram observados neste ano de 2024, bem como os impulsos fiscal e de crédito deverão ser menos intensos, diminuindo a pressão da demanda agregada sobre os preços. É ilustrativo observar o comportamento do índice DXY ao longo deste ano de 2024. O DXY mede o valor do dólar americano (USD) em relação a uma cesta de moedas - o euro (EUR), o yen (JPY), a libra esterlina (GBP), o dólar canadense (CAD), a krona sueca (SEK) e o franco suíço (CHF). Percebe-se claramente que, desde outubro, o USD engrenou uma trajetória de forte valorização, refletindo precisamente os efeitos das sucessivas pioras das expectativas quanto aos cortes da taxa básica de juros americana, bem como os impactos esperados das políticas protecionistas que deverão caracterizar o governo Trump. Podemos também observar o comportamento do MSCI Emerging Market Currency Index (EMCI) ao longo deste ano, o qual mede o comportamento do dólar frente a uma cesta de moedas de países emergentes em consonância com o índice de mercados emergentes da MSCI (MSCI Emerging Markets Index). Tal como observado para o DXY, o EMCI mostra que as moedas emergentes vêm sofrendo uma intensa desvalorização frente ao dólar americano desde o final de setembro. Mais uma vez, este comportamento reflete a piora das expectativas de corte na taxa básica de juros americana e os efeitos esperados da provável imposição de sobretaxas aos produtos importados pelos EUA no futuro governo Trump.
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📊 IPCA-15 de Novembro O IPCA-15 apresentou uma alta de 0,62% em novembro, acima do consenso de 0,42% Analisando-se o comportamento dos grupos, percebe-se que houve desaceleração em praticamente todos eles na comparação com outubro, com exceção de alimentos e bebidas, transportes e despesas pessoais No caso de alimentos e bebidas, o principal subgrupo responsável pela alta foi alimentação no domicílio, que passou de 0,95% em outubro para 1,65% em novembro No caso do grupo transportes, o principal responsável pela alta foram as passagens aéreas que subiram nada menos que 22,56% em novembro, contra uma deflação de -11,4% em outubro Quanto ao grupo despesas pessoais, o que explica sua alta é principalmente o comportamento do subgrupo recreação que sobe 0,83% em novembro contra uma alta de 0,27% em outubro No ano, o IPCA-15 acumula uma alta de 4,35% Em 12 meses, a alta é de 4,77%
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🌎 Ambiente externo e impactos sobre o Brasil O ambiente externo segue sua trajetória de deterioração, caracterizada (1) pela perspectiva da imposição generalizada de tarifas sobre produtos importados pelo governo Trump a partir de 2025; (2) pelas dúvidas quanto à capacidade da economia chinesa reagir, mesmo considerando os impactos do conjunto de medidas de estímulo anunciado em outubro; e (3) pelo aumento da incerteza decorrente do agravamento das tensões entre Rússia e Ucrânia, somada às tensões do Oriente Médio Especificamente em relação à economia americana, é digno de nota a piora no cenário para os cortes na taxa básica de juros - a Federal Funds Rate (FFR). No início de outubro, o quadro esperado para os cortes a serem realizados nas reuniões do banco central americano - o Fed - era o seguinte: Cortes esperados na FFR: 🗓️ Início de outubro (1/10/2024): Dez: 0,5 pp Jan: 0,25 pp Mar: 0,25 pp Maio: 0,25 pp Jun: 0,25 pp TOTAL DE CORTES: 1,5 pp 🗓️ Dia imediatamente anterior ao conhecimento do resultado das eleições americanas (5/11/2024): Dez: 0,25 pp Jan: nenhum corte Mar: 0,25 pp Maio: nenhum corte ou 0,25 pp Jun: nenhum corte TOTAL DE CORTES: 0,75 pp 🗓️ Dia em que se conheceu o resultado das eleições americanas (6/11/2024): Dez: 0,25 pp Jan: nenhum corte Mar: 0,25 pp Maio: nenhum corte Jun: nenhum corte ou 0,25 pp, com forte aumento da probabilidade de "nenhum corte" neste dia TOTAL DE CORTES: 0,75 pp 🗓️ Ontem (20/11/2024): Dez: nenhum corte Jan: nenhum corte Mar: nenhum corte Maio: 0,25 pp Jun: nenhum corte TOTAL DE CORTES: 0,25 pp Nota-se, assim, uma substantiva piora nas expectativas quanto ao afrouxamento da política monetária americana, com o mercado antecipando quase nenhum corte nos juros no primeiro semestre do ano que vem. Este quadro, naturalmente, diminui as chances (1) de uma taxa de juros terminal do novo ciclo de contração monetária no Brasil; e (2) de que a duração do ciclo de contração seja curta. Assim, em que pese o comportamento do IPCA de 2024 possa ser majoritariamente explicado pelos efeitos dos choques de oferta observados neste ano - seca e catástrofe no Rio Grande do Sul - o ambiente externo poderá se revelar bastante desafiador em termos dos seus efeitos sobre os preços domésticos.
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📊IPCA O IPCA de outubro (0,56%), seguindo o que foi sinalizado pelo IPCA-15, manteve a trajetória de forte alta. O índice veio acima do consenso, que era 0,53% 📈Foram observadas elevações significativas em praticamente todos os subgrupos em relação ao mês de setembro: ⏺️Alimentação e bebidas: 1,06% (0,5% em setembro) -Alimentação no domicílio: 1,22% (0,56% em setembro) -Alimentação fora do domicílio: 0,65% (0,34% em setembro) ⏺️Artigos de residência: 0,43% (-0,19% em setembro) ⏺️Vestuário: 0,37% (0,18% em setembro) ⏺️Despesas pessoais: 0,7% (-0,31% em setembro) ⏺️Comunicação: 0,52% (-0,05% em setembro) O subgrupo "Energia elétrica residencial" apresentou alta ainda significativa (4,74%), embora esteja sinalizando uma desaceleração na comparação com setembro (alta de 5,36%) O IPCA acumulado em 12 meses está agora em 4,76%, superior ao teto da meta de inflação No acumulado do ano, o IPCA está em 3,88%
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📊 IPCA-15 📈 O IPCA-15 de outubro (0,54%) acelerou sobremaneira em relação ao índice de setembro (0,13%). O índice trouxe elevações significativas em praticamente todos os subgrupos: Alimentação e bebidas: 0,87% (0,05% em setembro) Habitação: 1,72% (0,5% em setembro) Artigos de residência: 0,41% (0,17% em setembro) Vestuário: 0,43% (0,12% em setembro) Saúde e cuidados pessoais: 0,49% (0,32% em setembro) Despesas pessoais: 0,35% (-0,04% em setembro) Comunicação: 0,4% (0,07% em setembro) 📉 Em termos de deflação, é digno de nota a redução observada no grupo "Transporte": -0,33%, contra -0,08% em setembro Dentro do grupo "Transporte", também foi relevante a queda apresentada pelo subgrupo "Gás Veicular": -0,71% contra 2,94% em setembro O IPCA-15 acumulado em 12 meses está em 4,47%
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📊 IPCA-15 O IPCA-15 de setembro foi de 0,13% O índice veio bem abaixo do consenso (0,28%) e mostra uma tendência de arrefecimento da alta dos preços, como pode ser visto abaixo: IPCA-15 Maio/24: 0,44% Junho/24: 0,39% Julho/24: 0,30% Agosto/24: 0,19% Setembro/24: 0,13% 📉Principais altas: -Gás veicular: 2,94% (1,31% em agosto) -Saúde e cuidados pessoais: 0,32% (0,27% em agosto) -Alimentação fora de domicílio: 0,22% (0,49% em agosto) -Artigos de residência: 0,17% (0,71% em agosto) 📈Principais baixas: -Etanol: -1,22% (5,81% em agosto) -Gasolina: -0,66% (0,98% em agosto) Dos nove grupos de preço monitorados pelo IBGE para cálculo do índice, observou-se desaceleração – desinflação ou deflação – em seis deles. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 ficou igual a 4,12% contra 4,35% em agosto. No acumulado do ano, o IPCA-15 ficou igual a 3,15%.
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📊 IPCA O IPCA de agosto (-0,02%) veio abaixo do consenso (0,02%), indicando a continuidade da desaceleração de alguns grupos/subgrupos que estiveram pressionando os preços nos últimos meses, notadamente alimentação no domicílio. 📉 Principais baixas: -Alimentação e bebidas: -0,44% (-1% em julho) -Alimentação no domicílio: -0,73% (-1,51% em julho) -Habitação: -0,51% (0,77% em julho) 📈 Principais altas: -Gás veicular: 4,1% (-0,2% em julho) -Artigos de residência: 0,74% (0,48% em julho) -Educação: 0,73% (0,08% em julho) -Gasolina: 0,67% (3,15% em julho) -Combustíveis (veículos): 0,61% (3,31% em julho) -Vestuário: 0,39% (-0,02% em julho) Outros grupos que apresentaram alta importante foram: óleo diesel (0,37% contra 1,03% em julho) e alimentação fora do domicílio (0,33% contra 0,39% em julho). A inflação acumulada em 12 meses ficou em 4,24% e no ano em 2,85%. O índice de difusão - que mede o espalhamento da alta de preços sobre a economia - ficou em 55,97%, contra 46,95% em julho.
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Nível de atividade Nesta semana foram publicadas as pesquisas setoriais do IBGE – PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) e PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) – juntamente com o indicador do PIB calculado pelo Banco Central (IBC-BR) e o monitor do PIB da FGV. No início do mês foi publicada a Pesquisa Industrial Mensal (PIM). Em conjunto, as pesquisas e os indicadores antecedentes do PIB fornecem um quadro bastante completo sobre o nível de atividade da economia brasileira no primeiro semestre deste ano. Os indicadores em conjunto mostram uma atividade econômica exibindo um desempenho forte, em especial no segundo trimestre do ano, refletindo um cenário de demanda aquecida
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CPI Há pouco foi divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI) americano de julho. O índice veio em linha com o consenso, apresentando uma alta de 0,2% no mês, levando a inflação acumulada em 12 meses a 2,9% (sem ajuste sazonal). As maiores altas ficaram concentradas em "shelter" (alta de 0,4% em julho contra alta de 0,2% em junho) e serviços de transporte (alta de 0,4% em julho contra deflação de -0,5% em junho). Com isso, o grupo "Serviços menos serviços de energia" apresentou uma elevação dos preços de 0,3% em julho contra uma alta de 0,1% em junho. O subgrupo "shelter", inclusive, foi sozinho o responsável por quase 90% da elevação do CPI no mês. Já o grupo alimentação manteve a mesma alta de 0,2% observada em junho e alimentação em casa exibiu os mesmos 0,1% de alta observado em junho, não mostrando, portanto, sinais de aceleração nos preços. O grupo energia não apresentou elevação nos preços, ainda que tenha revertido as deflações observadas em junho (-2,0%) e em maio (-2,0%). O núcleo de inflação - todos os ítens menos alimentos e energia - por sua vez apresentou alta de 0,2% contra uma elevação de 0,1% em junho, revertendo a tendência de desaceleração observada desde abril. Diante de tal quadro, é possível que as expectativas do mercado continuem bastante divididas em relação ao esperado corte que o Fed deverá realizar na taxa básica de juros. Como mostrado no último Panorama Navigator, publicado no dia 12/8, as expectativas de um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de setembro do Fed voltaram a ganhar força, movimento que deve continuar ocorrendo após a divulgação destes números do CPI.