Quem eram as pessoas bem sucedidas que você convivia na infância?
Tinha algum médico ou advogado no seu bairro?
Hoje, assistindo esse vídeo emocionante eu voltei algumas vezes no tempo.
Nasci e cresci naquela que já foi a maior favela da América Latina, Heliópolis, na zona Sul de São Paulo.
Na minha família todos eram trabalhadores braçais: pedreiros, operários, jardineiros, cozinheiras, donas de casa.
A minha convivência na infância era com as pessoas da minha escola e da igreja. Só com mais de 20 anos eu conheci uma pessoa que o pai era médico. Obviamente uma pessoa branca.
Convivendo intimamente durante muitos anos com pessoas brancas eu fui percebendo como as referências profissionais te moldam e como a periferia, em meio a tantas crises, sofre também com a crise de referências.
Um churrasco comum com vizinhos ou uma viagem à praia em que você tem engenheiros, médicos, advogados, designers, publicitários, juízes, administradores. E todas essas pessoas se parecem fisicamente com você.
O acesso fácil a essas histórias cria possibilidades de futuro. Te permite imaginar trabalhando com o que se gosta, a idealizar uma jornada próspera.
Nós, pessoas negras, crescemos sem essas referências.
Enquanto assistia a esse vídeo lembrei também das primeiras conversas com a Valéria Reis enquanto idealizávamos o Anuário (Se)mentes: uma publicação que construísse novas referências profissionais para pessoas negras, que apresentasse profissões que muitos desconhecem ou sequer se imaginam possíveis de exercer.
Lançamos a primeira edição no ano passado com 31 histórias de profissionais como o doutor Marcelo, cirurgião plástico do vídeo abaixo. Gente preta comum, não exatamente famosos. Gente que você facilmente cruzaria passeando com o cachorro no bairro.
E agora estamos começando a pré-produção do Anuário 2024. Vamos selecionar, fotografar e contar mais 30 histórias de pessoas incríveis. Acompanhe nossas redes sociais para não ficar de fora das inscrições.
Ano passado fizemos toda a produção com recursos próprios. Esse ano estamos buscando patrocinadores que acreditem no poder de criar novas referências negras para levar essa representatividade ainda mais longe.
Tem um grupo de afinidade na sua empresa? Ou é profissional de Diversidade & Inclusão, Marketing e etc? Não é nada disso mas conhece quem pode ser parceiro?
Comente aqui ou chame no privado! Acreditamos que é assim que a gente faz um país.
Link do anuário 2023: https://lnkd.in/gBNMdfgP