Saúde

Por Giulia Vidale

Desde o início da pandemia de Covid-19, a gripe, infecção causada pelo vírus influenza, ficou um pouco de lado. Mas a verdade é que a doença pode ser extremamente prejudicial, em especial para grupos de risco, como os idosos.

Por isso, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza anualmente, de forma gratuita, um imunizante contra a gripe para a população vulnerável. Entretanto, a campanha desde ano alcançou apenas 55% deste público. De acordo com a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a taxa representa um recorde de baixa cobertura.

O fenômeno ocorre em um cenário preocupante: os idosos são mais suscetíveis a quadros graves e complicações da doença, e a população com mais de 60 anos está aumentando no país. Dados do Ministério da Saúde mostram que os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por influenza em idosos aumentaram 4,5 vezes em 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado, sendo que 96,1% desses casos levaram à hospitalização até o mês de maio deste ano.

— Existe um paradoxo entre cobertura vacinal e aumento da população de risco, porque no momento em que mais precisamos de altas coberturas vacinais, já que há crescimento da população mais vulnerável, vemos a menor taxa — avalia Richtmann.

Em entrevista ao EXTRA, a infectologista explica os motivos que levaram a essa queda histórica e alerta para a importância da vacinação contra a gripe, em especial entre idosos. Confira abaixo.

Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas 55% dos idosos foram vacinados contra a gripe durante a campanha nacional. Essa taxa é preocupante?

Muito. Essa é a menor cobertura da história. A vacinação continua e aos poucos a taxa está subindo, mas mesmo que chegue aos 70% de cobertura, por exemplo, ainda será o menor índice.

Por que uma baixa taxa de vacinação nesse público é preocupante?

Quando pensamos em gripe, que é a doença causada pelo vírus influenza, a primeira coisa que vem à cabeça são os sintomas do impacto direto do vírus, que é um quadro clínico de febre, dor no corpo, coriza, cansaço e fadiga. Mas isso é a ponta do iceberg. O influenza desencadeia uma série de complicações, em especial em pessoas com mais de 60 anos de idade que já têm comorbidades, como diabetes, enfisema, hipertensão e colesterol alto, entre outras.

Quais são essas complicações?

Uma das mais comentadas hoje em dia é o infarto agudo do miocárdio. O idoso tem um quadro de influenza e naquela primeira semana pós-gripe, o risco de ter um infarto é praticamente seis vezes maior do que alguém na mesma idade que não teve influenza. O vírus causa uma infecção sistêmica, que afeta do fio do cabelo até a ponta do pé. Quando o vírus circula pela corrente sanguínea, o que chamamos de viremia, ele pode inflamar a parede de um vaso sanguíneo. Com isso, aquele trombo ou aquela placa de gordura que estava aderida à parede do vaso consegue se desgrudar e causar uma trombose, um infarto ou um derrame, por exemplo. Então, hoje, a relação do influenza com complicações cardiovasculares é muito grande. Lembrando que a maior causa de morte na população acima de 70 anos são exatamente as doenças cardio e cerebrovasculares. Mas a população não sabe disso. Uma pessoa com doença pulmonar crônica e que já respira com certa dificuldade nunca mais vai recuperar seu limite respiratório após uma gripe. O influenza também pode descompensar o diabetes, por exemplo, ou favorecer uma pneumonia bacteriana. Então, falar que a vacina de gripe protege contra febre, dor no corpo etc, é só um pedaço da história. Tem a proteção contra essas complicações também.

É comum ouvirmos pessoas dizerem “tomei a vacina e peguei gripe” e, por isso, muitas optam por não se vacinar. O que acha disso?

A vacina da gripe está longe de ter 100% de eficácia na prevenção da doença, e quanto maior a idade da pessoa, menor é a eficácia. Por exemplo, uma pessoa de 50 anos vai ter uma proteção em torno de 60% a 65%. Já em alguém de 70 anos, essa proteção cai para 40% a 50%. Então, é claro que a vacina tem suas limitações. Mas conseguir evitar metade dos casos numa população tão vulnerável já é um grande ganho.

Além disso, mesmo que a vacina não proteja 100% contra a infeccção, ela minimiza a intensidade do quadro e reduz o risco de todas aquelas complicações, incluindo problemas cardiovasculares. Outro pronto importante é que muita gente que fala que tomou a vacina e teve gripe, mas não sabe se foi gripe realmente, porque é comum confundir a doença com sintomas causados por outros vírus respiratórios. Outro ponto importante é que leva duas semanas após a vacina para estar protegido. Assim, o ideal é se vacinar antes da circulação do vírus. Mas isso não significa que quem não se vacinou não deva se imunizar. Nas últimas semanas estou vendo mais influenza do que Covid. Então, o vírus ainda está circulando, principalmente o influenza A, que é o H1N1.

Como saber se é gripe ou outro vírus?

Do ponto de vista clínico, a gripe habitualmente é um quadro febril, de início agudo e abrupto. A pessoa se sente bem e, de repente, começa uma febre. É diferente de um quadro em que a pessoa já vem se sentindo mal ou com outros sintomas nos dias anteriores à febre. Além da febre elevada, de início abrupto, ela sente muita dor de cabeça, muita dor no corpo, tosse, coriza etc. Como existem outras doenças que podem ter um quadro semelhante, o ideal é fazer logo o teste. Isso é importante principalmente porque existe um tratamento específico para gripe, que precisa ser iniciado precocemente e pode mudar a evolução da doença, em especial para grupos de risco, como os idosos.

Quais são os motivos da baixa taxa de vacinação entre idosos?

Há uma associação de vários fatores que contribuem para essas coberturas tão baixas. Em primeiro lugar, todo mundo está muito cansado de falar em vacina e doença respiratória. O segundo ponto é que como a vacinação contra gripe foi atrelada à vacina bivalente contra a Covid, que muita gente não quer tomar, as pessoas estão com medo de ir ao posto para tomar a vacina da gripe e ter que tomar a bivalente. Terceiro, as pessoas não estão sentindo a circulação do influenza, o que traz uma falsa sensação de que não é necessário se vacinar. Mas ele está circulando. Outro motivo da baixa cobertura é a hesitação vacinal. Houve um monte de notícia falsa e as pessoas ficam em dúvida se a vacina realmente funciona. Há ainda a piora da situação econômica da população após a pandemia. Hoje, as pessoas estão mais preocupadas em saber se terão o que comer do que em ir ao posto de saúde para tomar uma vacina. Além disso, no caso dos idosos, há a necessidade de precisar que alguém os leve até o local. E também faltou campanha para alertar sobre os riscos do influenza.

Como aumentar essa taxa de vacinação?

Acho que comunicação é fundamental. A gente precisa se comunicar melhor. Existem os famosos três “Cs” da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre vacinação. O primeiro deles Confidence, que é a confiança. As pessoas precisam ter confiança naquela vacina. O outro é Compliance, que é no sentido de percepção de risco. A população precisa entender que aquela doença representa um risco para ela. E o último é convenience, que é conveniência. Ou seja, a vacina precisa estar disponível em um local e horário que a pessoa possa ir, que não tenha fila e que, ao chegar lá, a vacina esteja realmente disponível. E muitas vezes as pessoas trabalham, não consegue levar o idoso para vacinar. Então está na hora de analisarmos cada um destes três “Cs” e entender como podemos melhorá-los. Por exemplo, os postos funcionam das 8h às 17h, o que já atrapalha na conveniência da vacina. Então, precisamos fazer campanha explicando sobre os riscos da gripe, que pode ter consequências de médio e longo prazo; repensar os horários de funcionamento dos postos de saúde e dos locais de vacinação etc.

Existem outras medidas de prevenção contra a gripe além da vacina?

Sim. A higiene das mãos é a principal delas. Sempre que alguém pegar um transporte coletivo, abrir uma porta, for a uma farmácia e a qualquer outro lugar com muitas pessoas, é preciso higienizar as mãos depois com álcool gel ou água e sabão. Manter uma boa hidratação também é muito importante. Muitas vezes, o idoso esquece de beber água e isso também aumenta a predisposição a infecções. Ter uma alimentação saudável também ajuda na resposta imunológica. Quem puder, deve fazer atividade física. Está cada vez mais provado que a atividade física melhora a nossa resposta imune, então isso também é importante para ser feito. Ir ao médico regularmente e manter o controle de doenças crônicas, como diabetes, é importante. Outro ponto importante é manter o bem-estar mental porque isso também afeta a imunidade.

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