Em 2023, São Paulo registrou quatro casos de febre amarela no interior do estado, culminando em duas mortes. O retorno da infecção em humanos acendeu o alerta para um possível novo surto da doença. Entre 2016 e 2018 ocorreram duas ondas de febre amarela no Brasil. Na primeira, foram confirmados 778 casos e 262 mortes. Já na segunda foram 1.376 infecções e 483 óbitos.
A principal forma de se proteger contra a doença é através da vacinação, que é gratuita e está disponível em todo o país. Veja abaixo perguntas e respostas sobre a doença.
O que é a febre amarela?
A febre amarela é uma doença infecciosa grave causada pelo vírus amarílico, que é do gênero Flavivírus, o mesmo que provoca dengue e zika. A infecção é considerada uma arbovirose por ser transmitida por mosquitos. Nas áreas de floresta, os principais vetores são os mosquitos Haemagogus e Sabethes. Já nas regiões urbanas, quem transmite é o Aedes aegypti.
— A febre amarela é classificada como uma febre hemorrágica, assim como a dengue. A diferença é que o vírus da febre amarela provoca uma agressão contra o fígado bem maior do que as outras doenças. Por isso, é uma doença que tem um potencial de gravidade muito grande — diz Celso Granato, infectologista da Clínica Felippe Mattoso, do Grupo Fleury.
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Quais são os sintomas?
Os sintomas da febre amarela são início súbito de febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. A maioria das pessoas melhora depois de quatro a cinco dias apresentando esses. No entanto, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 15% dos pacientes passam de um a dois dias sem sintomas e, então, voltam a se sentirem mal, o que se caracteriza como a forma grave da doença.
O agravamento da febre amarela é caracterizado pelos seguintes sintomas: febre alta; icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos); hemorragia (especialmente a partir do trato gastrointestinal); e eventualmente choque e insuficiência de múltiplos órgãos, principalmente do fígado e dos rins. Dados apontam que até metade das pessoas que desenvolvem febre amarela grave morre.
Como é ciclo de transmissão da febre amarela?
A transmissão da doença começa nas áreas silvestres por meio dos mosquitos Haemagogus e Sabethes. Quando pessoas não vacinadas contra a febre amarela circulam em áreas de mata, elas correm o risco de serem picadas pelo mosquito e desenvolverem a doença.
Uma maneira de investigar se o vírus da febre amarela está ou não circulando em determinada região é observando o adoecimento de macacos daquela área. Esses animais são verdadeiras sentinelas da doença, e a morte deles serve de alerta para autoridades sanitárias das regiões próximas a florestas.
A febre amarela é uma doença que necessita de um vetor para ser transmitida, e esse vetor é o mosquito. Portanto, a enfermidade não é passada de humano para humano, nem de macaco para humano. Os animais são tão vítimas da febre amarela quanto nós.
Com os casos de febre amarela diagnosticados no interior de São Paulo, quais são os riscos de um novo surto da doença?
Nas áreas mais urbanizadas, como capitais e regiões metropolitanas, a incidência da febre amarela é considerada erradicada: o último caso ocorreu em 1942. No entanto, isso não significa que as pessoas que moram nas grandes cidades não precisam se preocupar com a doença. Se uma pessoa não vacinada visitar uma região de mata onde há circulação do vírus, for infectada e retornar à sua cidade de origem, ela pode iniciar um surto urbano da doença. Isso porque se o mosquito Aedes aegypti picar a pessoa infectada, ele é capaz de transmitir a doença para outras pessoas não vacinadas contra a febre amarela. Além disso, a fêmea do Aedes aegypti também pode passar o vírus em seus ovos, criando novos mosquitos infectantes capazes de espalhar a doença.
— O grande risco é que o Aedes aegypti é um mosquito muito bem adaptado ao ambiente urbano. A febre amarela silvestre não é diferente da urbana. No entanto, em um ambiente de cidade, o número de pessoas é muito maior. Consequentemente, o número de mortes também será. Se olharmos para a cidade de São Paulo, que tem 12 milhões de habitantes, o mosquito infectado com a febre amarela pode fazer um estrago gigante — alerta o médico.
Para quem a vacina é indicada?
A vacina da febre amarela é indicada para brasileiros de todo o território nacional, de 9 meses a 59 anos. Disponível gratuitamente nos postos de saúde por fazer parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), ela é oferecida em duas doses para crianças: a primeira é administrada aos 9 meses e a segunda, aos 4 anos. Para adolescentes e adultos sem histórico de vacinação, é dada uma dose única do imunizante.
A vacina é feita de vírus atenuado, ou seja, enfraquecido. Ela não deve ser aplicada em crianças menores de 9 meses de idade; mulheres amamentando crianças menores de 6 meses de idade; pessoas com alergia grave a ovo (o alimento é usado na formulação da vacina); pessoas que vivem com HIV e que têm contagem de células CD4 menor que 350; pessoas em de tratamento com quimioterapia/ radioterapia; pessoas com doenças autoimunes; e pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores (que diminuem a defesa do corpo).
Além da vacina, há outras formas de prevenção?
Ao visitar áreas consideradas de maior exposição aos mosquitos transmissores da febre amarela como matas, florestas, rios, cachoeiras, parques e o meio rural, o Ministério da Saúde recomenda o uso de repelentes,calça comprida, blusas de mangas compridas e sem decotes, de preferência largas, não coladas ao corpo, meias e sapatos fechados. Essas indicações são ainda mais importantes para pessoas que não podem se vacinar. Em ambientes urbanos os cuidados são os já conhecidos contra o Aedes aegypti, como evitar água parada — qualquer quantidade é suficiente para a proliferação do mosquito.
Como é feito o tratamento da febre amarela?
Ainda não há um tratamento antiviral contra a febre amarela. Portanto, trata-se os sintomas, a fim de amenizá-los. Indica-se muita hidratação para repor os líquidos e repouso. Um tratamento específico contra a febre amarela pode surgir no futuro. Um grupo de pesquisadores brasileiros e americanos está analisando o uso de anticorpos monoclonais (células protetoras produzidas artificialmente) para atacar o vírus. Testes já foram feitos em macacos e hamsters. Em entrevista ao jornal O Globo no ano passado, o imunologista e infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP, contou que antes do tratamento, macacos infectados por febre amarela no laboratório sempre morriam. Mas, com a terapia de anticorpos monoclonais, todos os animais tratados sobreviveram.