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Por Alexandro Martello, g1 — Brasília


  • Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (19) e deve interromper o ciclo de corte da taxa básica de juros.

  • Corte vem desde agosto do ano passado, segundo a projeção de analistas do mercado financeiro.

  • Se confirmada a manutenção da taxa Selic, ela permanecerá em 10,50% ao ano.

  • No atual patamar, a taxa brasileira é alta na comparação internacional.

  • Decisão do Copom será tomada após críticas por parte de Lula ao tamanho da taxa de juros nos últimos dias.

  • Segundo especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências, como reflexo nos juros bancários e piora nas contas públicas.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (19) e deve interromper o ciclo de corte da taxa básica de juros, que vem desde agosto do ano passado, segundo a projeção de analistas do mercado financeiro.

Se confirmada a manutenção da taxa Selic, ela permanecerá em 10,50% ao ano, o menor nível desde fevereiro de 2022, ou seja, em pouco mais de dois anos. No atual patamar, a taxa brasileira é alta na comparação internacional.

A decisão do Copom, formado pela diretoria e pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, será tomada em meio ao fogo cerrado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que subiu o tom das críticas ao tamanho da taxa de juros nos últimos dias.

'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula

'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula

"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", declarou Lula nesta terça-feira (18).

Lula afirmou ainda que o Brasil não pode continuar com juros "proibitivos", que inibam os investimentos produtivos, o crescimento do país e a geração de empregos.

Fachada do Banco Central. — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Como as decisões são tomadas

Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.

Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).

  • A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
  • A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
  • Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,96% e, a de 2025, 3,80%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
  • As previsões do mercado financeiro subiram relação ao patamar vigente, por exemplo, há três meses atrás. No começo de março, a projeção dos analistas estava em 3,74% para a inflação de 2024 e em 3,50% para o IPCA do próximo ano.
  • Em março, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. Já no começo de maio, o BC estimou uma inflação de 3,8% para 2024 e de 3,3% para 2025.
  • Com isso, as projeções dos analistas, e também do BC, estão se distanciando as metas centrais de inflação, fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

"Na inflação, após dois meses de resultados relativamente benignos, o IPCA de maio trouxe uma surpresa desfavorável, com uma deterioração dos serviços, com o núcleo do segmento e dos serviços intensivos em mão-de-obra (além da média geral dos núcleos) acelerando e ficando acima do previsto. As expectativas de inflação continuaram um processo de desancoragem relevante [das metas], contaminando períodos para além do horizonte relevante atual do Copom [até 18 meses] e, portanto, sinalizando perda de credibilidade da autoridade monetária", avaliou o BTG, em análise.

Eventos dos últimos meses

As expectativas de inflação deste ano e de 2025 começaram a subir com mais intensidade após alguns eventos que aconteceram na economia nos últimos meses. São eles:

Além da expectativa de pressões inflacionárias maiores no Brasil, também contribui para uma política de juros mais conservadora no país, segundo analistas, a demora do BC norte-americano (o Federal Reserve) de iniciar as reduções nos Estados Unidos – o que diminui o espaço para cortes no Brasil.

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Efeitos na economia

De acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:

▶️ Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a contenção da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em abril, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas teve pequena queda de 0,1 ponto percentual em abril, para 40,4% ao ano -- ou seja, relativa estabilidade.

▶️Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.

▶️ Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em 2023, a despesa com juros somou R$ 718 bilhões em 2023, ou 6,6% do PIB.

▶️Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, teriam um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso pode contribuir para diminuir a atratividade do mercado acionário.

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