O tema saúde mental está em alta, mas você sabe como os problemas psicológicos podem impactar no corpo? Quando a cabeça não está bem, ele pode sofrer as consequências com as doenças psicossomáticas. As mais comum: psoríase, enxaqueca, além do vitiligo, cujo Dia Mundial é nesta terça-feira (25).
A psicóloga clínica Carla Ribeiro de Oliveira explicou ao g1 que as doenças psicossomáticas são condições físicas influenciadas ou agravadas por fatores psicológicos, como estresse, ansiedade e emoções negativas.
Como o caso, por exemplo, do industriário, de 54, que estava com 98% do corpo com vitiligo e recuperou 93% do pigmento da pele, assim que se divorciou. O dermatologista Paulo Luzio, especialista na doença e médico do homem, disse que a separação foi um fator determinante para a recuperação, pois a condição física era influenciada por um fator psicológico.
Outros fatores
Mas, não é apenas o emocional que conta. De acordo com a psicóloga e neurocientista, Leninha Wagner, de 56 anos, outros fatores também podem potencializar o desenvolvimento e o fim de uma doença psicossomática, como a herança genética e hábitos alimentares e sociais do paciente.
Leninha usou a própria vida como exemplo. A árvore genealógica da especialista é composta por quatro avós, o pai e uma irmã que morreram em decorrência de um câncer, ou seja, a doença está presente na genética da família.
A neurocientista, no entanto, sempre manteve uma alimentação saudável e uma rotina de exercícios. Em 19 de dezembro de 2020, o marido dela morreu por conta de um acidente de trabalho. Uma semana depois, Leninha descobriu um câncer no intestino em estágio avançado.
Hoje, ela está em remissão. Mas, entende que o luto fez com que a doença se manifestasse. "Cada vez mais percebe-se que não basta você estar saudável para estar feliz. É justamente o processo contrário. Você tem que estar feliz para se manter saudável", afirmou a neurocientista.
A pedido do g1, a psicóloga Carla listou as condições físicas mais comuns, entre as doenças psicossomáticas:
- Distúrbios autoimunes: O estresse crônico pode desempenhar um papel na ativação ou na piora de condições autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus e intestino irritável.
- Enxaqueca: Uma forma de dor de cabeça recorrente que pode ser desencadeada por estresse emocional, ansiedade e tensão.
O médico neurologista Eduardo de Almeida Guimarães Nogueira acrescentou que a enxaqueca crônica é caracterizada quando ocorre mais de 15 crises de dor de cabeça por mês. Segundo ele, as condições psicológicas podem intensificar e aumentar a frequência das dores.
"Indivíduos com dores crônicas tendem a apresentar maior propensão à catastrofização [pessoa que só prevê desastres], além de serem mais suscetíveis a transtornos de ansiedade e depressão", afirmou o especialista.
- Problemas respiratórios: Asma e bronquite podem ser influenciadas ou agravadas por emoções negativas e intensas, além de situações de estresse ou ansiedade.
- Distúrbios cardiovasculares: Estudos sugerem uma conexão entre estresse crônico e doenças cardíacas, incluindo hipertensão arterial e doença arterial coronariana.
- Distúrbios dermatológicos: Condições como eczema, vitiligo, psoríase e dermatite atópica podem piorar, quando o paciente está passando por problemas psicológicos.
Leninha explicou à equipe de reportagem que a pele funciona de dentro para fora e é influenciada pelo o que recebe de fora. Por exemplo, a psoríase, uma condição na qual as células da pele se acumulam e formam escamas e manchas secas que causam coceira, é chamada de pele emocional.
- Distúrbios gastrointestinais: Como a gastrite nervosa, por exemplo, decorrente do estresse crônico, problemas no intestinos são comuns.
- Distúrbios do sono: A insônia e outros distúrbios podem ser facilmente influenciados por preocupações, ansiedade e estresse emocional.
- Dores musculares e tensão: O estresse e a ansiedade podem levar a dores musculares, principalmente, na região do pescoço, ombros e costas.
Além de desencadear, Leninha explicou que os problemas psicológicos podem agravar o quadro do paciente. "O estresse, ansiedade e principalmente a depressão, quando baixa a serotonina da pessoa, piora muito a condição [...]. A neuroquímica não fica no cérebro. Ela vai para a corrente sanguínea e baixa a nossa imunidade", explicou a especialista.
Mas, tem tratamento?
De acordo com as psicólogas, o tratamento envolve uma abordagem multiprofissional, que atua sobre os sintomas físicos e psicológicos com especialistas de cada área.
"Curar, quando se trata de questões psicossomáticas ou psicológicas, talvez não seja a melhor palavra. Não se apaga a lembrança de um evento estressor [...]. Mas o sofrimento que era gerado torna-se aos poucos menor e ganha outro sentido", afirmou Carla.
Leninha acrescentou, ainda, a importância de entender que as doenças psicossomáticas são condições físicas reais. "Não significa que as doenças sejam imaginárias, como muitas pessoas pensam [...]. A doença que mais contamina é a emoção", afirmou.
Vitiligo
O Dia Mundial do Vitiligo é celebrado nesta terça-feira (25), como forma de aumentar a conscientização global sobre a condição. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), pesquisas indicam que a doença alcança 1% da população mundial. No Brasil, mais de 1 milhão de pessoas convivem com ela.
O principal sintoma associado ao vitiligo são as manchas despigmentadas na pele, mas o paciente também pode ter sensibilidade ao sol, mudanças no cabelo, mucosa e nas unhas. O diagnóstico é clínico, feito pelo dermatologista.
A condição, no entanto, nem sempre é psicossomática. As outras circunstâncias em que o vitiligo pode surgir são:
- Doença autoimune: a mais comum, em que o sistema imunológico ataca erroneamente os melanócitos
- Genética: pessoas com histórico familiar têm maior probabilidade de desenvolvê-la
- Fatores ambientais: exposição a substâncias químicas
- Neuroquímica: segundo estudos, por desequilíbrios neuroquímicos no cérebro podem influenciar a função dos melanócitos
Relembre o caso
O homem, que pediu para não ter a identidade revelada, explicou ao g1 que as manchas começaram a surgir em 2007, quando tinha sete anos de casado com a ex-esposa, com quem teve dois filhos, de 18 e 22 anos.
Em 2009, ele fez uma consulta com o especialista Paulo e descobriu que o vitiligo poderia estar associado a uma questão psicológica. Na ocasião, o homem contou ter feito uma análise da própria vida e identificado que a ex-companheira o causava ansiedade, nervosismo e agonia. De acordo com ele, a mulher era ciumenta e desconfiada.
"O casamento tinha, hoje eu sei, traços de toxicidade", afirmou. Ele acrescentou ainda que passou a perceber que as manchas pioravam quando ele se desentendia com a ex-esposa.
Apesar de já ter o gatilho identificado, o homem explicou que o divórcio não era uma decisão fácil, principalmente, por conta dos filhos. Ele continuou com a ex-esposa por anos. Mas, em 2022, entendeu que não teria outra opção.
Um mês após o fim do casamento, de acordo com o dermatologista, quase todas as manchas do paciente sumiram. O homem, que tinha 98% do corpo com vitiligo, está com apenas 5%.
As manchas podem sumir?
Através de exames, o dermatologista Paulo Luzio explicou que é possível identificar se a pele tem capacidade para recuperar a cor com medicamentos. Se a resposta for negativa, ainda há chances de reverter por meio de cirurgia.
"Quem vai estimular as células a trabalharem vai ser o tratamento clínico. A cirurgia é como se você plantasse sementinhas com células de pigmento onde não tem pelo, e elas vão proliferar, recuperando a cor", explicou ele.
Segundo o especialista, a principal forma de recuperar a cor é a partir dos pelos dentro das manchas. Por este motivo, em algumas áreas só é possível através de intervenção cirúrgica. Sendo elas:
- Lábios
- Mamilo
- Auréola mamária
- Ponta do cotovelo
- Punho
- Articulações das mãos e dedos
- Tornozelo
- Dorso dos pés e dedos
- Região genital, onde não tem pelo
O dermatologista destacou cada paciente é único e, portanto, uma série de fatores precisa ser analisada para definir um tratamento . Mas, acrescentou que o acompanhamento psicológico é essencial.