Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região


Dia Internacional do Orgulho LGBT é celebrado nesta sexta-feira (28) — Foto: Albenir Sousa/GEA

Homens gays, com 65 a 70 anos e em situação de vulnerabilidade social são maioria entre os pacientes do primeiro ambulatório para idosos LGBTQIA+ do Brasil, inaugurado em agosto de 2023 no Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP).

🏳️‍🌈 Nesta sexta-feira (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT, o médico geriatra André Fattori detalha o perfil dos idosos que recorrem ao ambulatório e conta que a iniciativa expôs outros problemas: o sofrimento dos pacientes com questões como a solidão, dificuldades cognitivas e até insegurança alimentar.

Acabamos descobrindo coisas que não fazíamos ideia. Encontramos pessoas com muita fragilidade social, dificuldade de viver mesmo porque não têm família, relações sociais que sejam apoiadoras, e não têm renda fixa. Algumas delas chegam até em situação de insegurança alimentar.
— André Fattori, médico e professor de geriatria

Vidas reconstruídas

Desde a inauguração, 18 pacientes receberam acompanhamento regular no ambulatório. Segundo o médico, a intervenção da equipe foi “decisiva” nos casos atendidos, já que muitos idosos que buscaram o espaço precisavam de intervenções rápidas nos respectivos diagnósticos.

“Essas pessoas que hoje são velhas cresceram num ambiente estigmatizador, de preconceito, onde a sexualidade tinha que ser escondida e reprimida. São pessoas que até procuravam os serviços de saúde, mas não tinham abertura para falar de toda a dinâmica da sexualidade. Essas pessoas realmente estavam numa condição de fragilidade social, de necessidade de cuidado de saúde”, destaca Fattori.

Diante das dificuldades sociais enfrentadas pelos pacientes, a equipe do ambulatório realiza também um serviço de orientação para que os idosos sejam atendidos pela assistência social do município e possam, assim, encontrar caminhos para “reconstruir a vida”.

“Essas pessoas não têm estrutura familiar, amigos para esse tipo de orientação. São, às vezes, pessoas abandonadas, negligenciadas tanto na questão da saúde quanto do amparo social. De saber o que elas têm que fazer, quais são os direitos, onde elas podem buscar recursos para receber um benefício e ter uma fonte de renda nesse final de vida”, detalha.

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Primeiro passo para o futuro

O público atendido no espaço inclui, ainda, idosas transexuais e lésbicas, sendo o último grupo o mais difícil de acessar, segundo o médico. A hipótese da equipe é que a baixa adesão de mulheres lésbicas à iniciativa esteja relacionada a uma possível “fuga da solidão”.

“Não temos certeza, mas é possível que elas [idosas lésbicas] simplesmente escondam essa questão da sexualidade para terem uma reinserção na família e talvez fugir da solidão. É como voltar para dentro do armário, como se estivessem fazendo um movimento contrário”, diz Fattori.

Para o médico geriatra, a principal contribuição do ambulatório é a possibilidade de, futuramente, servir como referência para a criação de políticas públicas de saúde pensadas exclusivamente para idosos da população LGBTQIA+.

"Esperamos contar uma história consistente do que acontece com essa população quando ela envelhece. […] Não podemos ter a ilusão de que o hospital vai resolver o problema de saúde de toda a população idosa LGBT, mas conseguimos pelo menos dar o primeiro chute para reconhecer quais são as necessidades e depois oferecer um treinamento para a própria atenção básica", pontua.

Dinâmica dos atendimentos

🩺 Na data agendada, os pacientes passam por exames como:

  • avaliação de perda de memória;
  • exame de próstata;
  • teste de glicemia;
  • aferição de pressão arterial;
  • avaliação de instabilidade postural e quedas;
  • e avaliação psicológica.

Além disso, mulheres lésbicas e homens trans, por exemplo, podem ser encaminhados a especialistas do Hospital da Mulher (Caism). No caso de pacientes com questões de saúde mental, há também o apoio de profissionais do ambulatório de psiquiatria do HC.

“Importante é salientar que não é um ambulatório exclusivamente para homens gays, mas para todo o segmento LGBTQIA+, e que ele tem a intenção de tratar tanto pessoas do sexo biologicamente masculino como feminino, mas com a atenção, o cuidado, e o afeto que qualquer segmento merece”, frisa Fattori.

Serviço

Ambulatório para idosos LGBTQIA+

  • Atendimentos: sempre às sextas-feiras, no período da manhã
  • Agendamento: pelo telefone (19) 3521-7878
  • Endereço: Hospital de Clínicas da Unicamp - Rua Vital Brasil, 251 - Cidade Universitária - Campinas

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