Nycolas Leite tem um cão de assistência para outras pessoas quando ele tiver uma convulção — Foto: Carlos Bassan
Pela primeira vez, um aluno da rede municipal de ensino de Campinas (SP) usa um cão de serviço nas dependências do colégio. É que Lady, uma cadela da raça labrador, auxilia Nycolas Lopes Leite, jovem de 16 anos que convive com crises de epilepsia há três anos.
A cachorra tem a missão de "avisar" alunos, professores e funcionários quando o adolescente estiver convulsionando.
Como funciona o alerta?
De modo geral, a cadela é treinada para identificar uma convulsão do seu dono, e avisar quem estiver ao redor com latidos insistentes que chamem a atenção, para que Nycolas seja socorrido com agilidade.
Isso é especialmente importante para quando o adolescente estiver sozinho ou afastado de outras pessoas.
Para realizar a função, Lady passoa diariamente por um treinamento com o estudante. Os instrutores estão trabalhando para que ela passe a agir diretamente no atendimento de Nycolas, como conseguir virá-lo, caso ele fique de bruços, e pegar os remédios.
'Sensação de que ia perder meu filho'
Andreza Lopes Leite, mãe do Nycolas, explica que desde a chegada do cão de serviço na família, todos se sentem mais seguros, sabendo que a Lady estará com Nycolas para auxiliá-lo quando estiver fora de casa.
O adolescente teve a primeira crise de epilepsia há três anos, em 2021, após o falecimento do avô, mas foi em 2024 que as convulsões passaram a se tornar frequentes, deixando de ser a cada três meses, e passando a ser a cada duas semanas.
“Foi terrível. Uma sensação de que eu ia perder meu filho, de que ele não iria mais voltar”, conta a mãe.
Com o agravamento da saúde, a família passou a buscar alternativas para garantir a segurança e a qualidade de vida do jovem. Por meio das redes sociais, Andreza conheceu os cães de serviço que auxiliam pessoas o mesmo diagnóstico do filho.
“Coloquei na cabeça que precisávamos do cachorro. Quando se tem filhos, você faz tudo por eles”, conta Andreza.
Quando ligou para o adestrador, descobriu o desafio: um cachorro de serviço pronto custava R$ 400 mil, quantia inviável para a família.
Sem desistir, Andreza continuou sua pesquisa e conheceu a estudante de terapia ocupacional da PUC- Campinas, Giordanna Martins Bononi, que é autista e treinou seu próprio cão de serviço (o Apolo). Ela aconselhou a pegar um filhote e treiná-lo. E assim foi feito.
Família do Nycolas adotou um filhote de labrador para treina-lo como cão de assistência do filho — Foto: Carlos Bassan
Ao g1, Giordanna detalhou como foi o treinamento do labrador Apolo, e como ele a auxilia a antecipar crises em todos os lugares — inclusive em aulas da universidade e até em festas.
Uma nova aluna
Nycolas cursa o 9º ano do Ensino Fundamental II na EMEF Joao Alves dos Santos, e desde o início das convulsões, todos os funcionários e colegas de classe conhecem a sua condição e sabem o que deve ser feito caso ele convulsione.
A chegada de Lady movimentou a escola, e causou estranhamento e curiosidade, já que a maioria dos alunos e funcionários não sabia que um cachorro poderia ajudar nesses casos.
Além do suporte emergencial, a cachorra auxiliar o tutor na socialização dentro do ambiente escolar, e é um alicerce na socialização do garoto.
Lilian Carvalho Lima, a diretora do colégio, percebe a evolução no comportamento do estudante.
“A chegada da Lady tem sido uma experiência incrível. O Nycolas tem se apresentando como um menino mais alegre e seguro com a presença dela. As crianças adoram a cachorra, que já está bem adaptada à rotina escolar”, explica.
Por enquanto, Lady está aprendendo toda a rotina de Nycolas no colégio, e o segue para todos os lugares.
O adolescente é o único responsável da cachorra no ambiente escolar, cuidando dela da mesma forma que ela o protege.
Lady acompanhando Nycolas na sala de aula. — Foto: Carlos Bassan