Por Leonardo Bosisio, g1 Presidente Prudente


Onça-pintada morre após ser atropelada, em Teodoro Sampaio (SP) — Foto: Cedida

Uma onça-pintada filhote, de aproximadamente nove meses de idade, morreu atropelada, na manhã deste domingo (23), no km 16 da Rodovia Arlindo Béttio (SP-613), próximo ao Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP).

Conforme o gestor da reserva florestal, Eriqui Inazaki, informou à TV Fronteira, o atropelamento foi registrado por volta das 8h e o animal teria sido recolhido pelos vigilantes do parque com apoio da Polícia Militar Ambiental.

Conforme a bióloga e pesquisadora científica Andréa Soares Pires disse ao g1, a onça era uma fêmea juvenil, com aproximadamente nove meses, e que ainda não havia sido “batizada” com um nome.

Ainda segundo Andréa, a filhote era filha de Nadi, uma das onças batizadas em novembro de 2022 após enquete da Fundação Florestal.

“Como a filhote foi registrada com uns dois meses junto com a Nadi, só pode ser filha dela. Só que, quando ela é muito filhotinha, até uns seis meses, a mãe deixa escondida, ela não fica andando com o bichinho. Ela vai, caça e traz comida”, explicou a bióloga.

Onça-pintada morre após ser atropelada, em Teodoro Sampaio (SP) — Foto: Fundação Florestal

A população de onças-pintadas no Estado de São Paulo está “criticamente ameaçada”.

De acordo com a bióloga, no Parque Estadual do Morro do Diabo há uma parte considerável de indivíduos viáveis. São 11 indivíduos identificados, contando com a fêmea jovem atropelada neste domingo.

“Quando perdemos um animal do topo da cadeia alimentar, como a onça-pintada, toda a comunidade ecológica fica afetada, ocorrendo assim um desequilíbrio ecológico. Perder uma fêmea jovem significa perder várias gerações futuras, acelerando a extinção da espécie”, ressaltou Andréa.

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A Fundação Florestal (FF), que é o órgão do governo do Estado de São Paulo responsável pelo parque, confirmou, por meio de nota, o atropelamento da onça-pintada e lamentou o ocorrido.

A instituição esclareceu que a Unidade de Conservação possui 13 passagens subterrâneas, nos 14 quilômetros da via que atravessam o parque, instaladas pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER-SP) para permitir o deslocamento da fauna com segurança.

Além disso, ainda existem alambrados de 100 metros de cada lado em cada passagem subterrânea.

A FF alegou ainda que o animal foi encontrado cerca de 200 metros após uma dessas passagens.

Segundo o órgão estadual, as onças-pintadas percorrem grandes extensões e não restringem seus deslocamentos apenas à área da Unidade de Conservação.

Onça-pintada fêmea Nadi — Foto: Fundação Florestal

Velocidade na via

Já o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo esclareceu ao g1 que a rodovia tem a sinalização adequada e que já encaminhou novos estudos de viabilidade para implantação de radares e o edital deve ser publicado até o fim do semestre.

Os dispositivos eletrônicos foram removidos em janeiro de 2021, após o término do contrato com a empresa então responsável pelos equipamentos, ainda segundo o DER-SP.

O departamento informou ainda que a fiscalização de velocidade segue sendo realizada pela Polícia Rodoviária, por meio de radares portáteis.

A pesquisadora Andréa Soares Pires reforçou a orientação para que os motoristas mantenham a velocidade de 70 km/h durante o tráfego na via e, ao avistarem um animal, “diminuam ainda mais a velocidade e sinalizem aos demais motoristas”.

“Esse limite foi imposto através de estudos feitos ao longo de anos na rodovia, e a forma mais segura de avistar um animal e conseguir frear é estar nesse limite de velocidade, em especial à noite, os motoristas estarão seguros assim como a fauna”, finalizou a bióloga ao g1.

Cumprimento de sentença

O promotor de Justiça Gabriel Lino de Paula Pires, integrante do Núcleo do Pontal do Paranapanema do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), explicou ao g1 que o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) propôs uma ação judicial no ano de 2000 em que o DER-SP já foi condenado a cumprir diversas obrigações para a proteção da fauna silvestre do Parque Estadual do Morro do Diabo e de outros fragmentos florestais da região cortada pela Rodovia Arlindo Béttio.

Atualmente, o processo se encontra em fase de cumprimento de sentença.

O DER-SP opôs embargos à execução, sendo oficiado à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), bem como intimado o próprio DER-SP para manifestação, ainda sem notícia de resposta.

“De todo modo, resta evidente no processo a recalcitrância do Estado (DER)”, salientou ao g1 o promotor de Justiça.

“Por fim, diante da grave e triste notícia veiculada [da morte do filhote de onça-pintada neste domingo], o MPE-SP postulará a adoção de novas medidas contra o Estado para compeli-lo ao cumprimento das obrigações”, concluiu Gabriel Lino de Paula Pires ao g1.

Risco de extinção da onça-pintada

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino do continente americano. Tem até 1,90 metro de comprimento e 80 centímetros de altura. Os machos pesam cerca de 20% a mais do que as fêmeas, podendo chegar a 135 quilos.

A onça-pintada pode viver em vários tipos de hábitats, desde que uma parte da vegetação seja densa. É um animal solitário e territorial. Tem hábitos noturnos. Pode ocupar áreas de 22 km² a mais de 150 km² (dependendo da disponibilidade de presas). A espécie era encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Mas está oficialmente extinta nos Estados Unidos e já é uma raridade no México.

Na onça-pintada, ocorre também o fenômeno do melanismo, comum em outros felinos. A coloração amarela é substituída por uma pelagem preta. Dependendo da luz em que o animal se encontra, percebem-se as rosetas. O animal na forma melânica é chamado de onça-preta.

As populações vêm diminuindo devido ao confronto com atividades humanas, como a pecuária. A espécie é classificada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Ibama como vulnerável e está no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites).

Ou seja, o risco de extinção está associado ao comércio e sua comercialização só é permitida em casos excepcionais, mediante autorização expressa.

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