Grávida que teve pele necrosada após ser picada por aranha venenosa dá à luz em Apiaí (SP) — Foto: Arquivo pessoal e Domínio Público (imagem ilustrativa)
Nasceu cheia de saúde a bebê Mirella. Ela ainda estava no ventre de Ketisley Freitas Lessa, de 29 anos, quando a mãe foi picada por uma aranha-marrom no oitavo mês de gestação. Ao g1, a Ketsley contou ter respirado aliviada quando pegou a filha nos braços. "Eu achei que poderia acontecer algum problema com ela, mas ficou tudo bem e ela nasceu super saudável".
A bacharel em Direito, que tem seis tatuagens de aracnídeos pelo corpo, foi picada na perna direita e teve parte da pele necrosada em decorrência do veneno. "Eu fiquei com muito medo e tive crise de ansiedade no hospital, com medo de afetar a bebê". A menina nasceu em Apiaí (SP).
A mãe relatou ter ficado mais tranquila só na reta final da gestação, quando os exames constataram que a filha estava bem e a picada do aracnídeo não atrapalharia o parto.
Apesar de estar aliviada e curtindo os primeiros dias de vida da bebê, a picada da aranha trouxe traumas para Ketisley. Ela, que sempre gostou de aracnídeos e tatuou seis pelo corpo, mudou de ideia. "Agora, eu tenho medo", afirmou.
Lesão continua na perna
Outra preocupação de Ketisley era a possibilidade de amputar a perna, que estava com parte da pele necrosada. Os antibióticos conseguiram diminuir e evitar o risco, mas não acabaram com a necrose e ela continua com uma cicatriz. (veja na imagem acima)
Moradora de Apiaí (SP) continua com cicatriz de necrose após ser picada por aranha enquanto estava grávida — Foto: Arquivo pessoal
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Relembre o caso
Em 5 de janeiro, Ketisley viu uma aranha-marrom subir na perna. A reação dela foi matar a aranha e tirar uma foto para tentar identificar a espécie. Em seguida, a jovem foi até o Hospital Doutor Adhemar de Barros, onde tomou um antibiótico e foi orientada a tomar um remédio para dor.
No dia seguinte, Ketisley começou a ter reações fortes em decorrência do veneno da aranha. Os sintomas eram manchas vermelhas, dores fortes e coceira intensa pelo corpo. Ela foi internada no hospital no dia 9 de janeiro e liberada três dias depois, quando o quadro clínico foi normalizado.
Quatro das seis tatuagens da grávida picada por aranha venenosa em Apiaí (SP). Outras duas, são na região das nádegas — Foto: Arquivo pessoal
De acordo com a gestante, os médicos acionaram o Instituto Butantan e constataram que tratava-se de uma aranha-marrom. Ela afirmou, porém, que não recebeu o soro antiaracnídico.
Em nota, o Hospital Doutor Adhemar de Barros explicou à equipe de reportagem que a paciente não apresentava alterações no quadro clínico e, por este motivo, não entrou no critério do protocolo do Grupo de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo para receber o soro antiaracnídico.
Parte da pele de gestante ficou necrosada em decorrência do veneno da aranha-marrom — Foto: Arquivo pessoal
Aranha-marrom
O biólogo Daniel Bortone afirmou ao g1 que aranhas-marrons (Loxosceles sp) não é uma espécie agressiva e não consegue picar humanos. "Os acidentes acontecem quando a pessoa espreme a aranha contra o corpo, assim ocorrendo a inoculação [introdução] da peçonha", informou.
Segundo o biólogo, o recomendado é buscar atendimento médico caso seja picado por qualquer aranha. "Normalmente as pessoas tendem a achar que, por serem pequenas, essas aranhas podem não ser perigosas".
Bortone ressaltou que a ação causada pela peçonha demora a mostrar os primeiros sintomas nos seres humanos.
"Quanto antes a pessoa tomar o soro, melhor. O que o acidentado deve fazer é lavar bem o local com água e sabão, beber bastante água e procurar atendimento médico imediatamente. Se possível, levar a aranha em um pote".
Soro antiaracnídico
Aranha-marrom (Loxosceles gaucho) é uma aranha do gênero Loxosceles. — Foto: Domínio Público
Um estudo conduzido no Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, comprovou que o soro antiaracnídico é capaz de reduzir o risco de necrose na pele, causada pelo veneno da aranha-marrom, principalmente se aplicado nas primeiras 48h após o acidente.
Segundo o Instituto Butantan, a necrose no local da picada é uma das manifestações mais comuns do envenenamento. O estudo, de acordo com a instituição, foi o primeiro a avaliar, em humanos, a capacidade do soro antiaracnídico de evitar necrose em casos de picada de aranha-marrom.
Uma pesquisa anterior com modelos animais havia mostrado que o antiveneno reduzia as lesões necróticas em 30%, mesmo sendo administrado 48h após a injeção do veneno.
Dicas para evitar acidentes com aranhas em casa:
- Sempre olhar roupas antes de vestir e toalhas antes de se secar;
- Bater os calçados para ver se não há nenhuma dentro;
- Evitar deixar o lençol e cobertas da cama encostando no chão, que elas podem usar para subir na cama;
- Vedar vãos de portas e janelas e buracos na parede casa.