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‘Mad men’ se despede com poesia e homenagens à propaganda

Patrícia Kogut

Cena do último episódio de Mad Men (Foto: Divulgação)Cena do último episódio de Mad Men (Foto: Divulgação)

Numa reunião nas dependências da McCann, vê-se um cartaz na parede com os dizeres “The truth well told” (a verdade bem narrada, em tradução livre). É o episódio final de “Mad men” e Don (Jon Hamm) está na estrada, bem longe dali. Ele fugiu da caretolândia daquela agência, foi em busca de seu self, ou, se preferir, de seu duplo self, Draper-Whitman. Mais adiante, num telefonema, Peggy (Elisabeth Moss) tenta convencê-lo a voltar. Usa um argumento que resume o espírito da série. Ela apela para a essência da própria publicidade (trabalhar o desejo) e menciona aquilo com que Don sempre sonhou, mas que, naquele exato momento, não se dá conta de que deseja tanto. “Você não quer fazer a propaganda da Coca-Cola?”, pergunta ela.

Não saberemos jamais se ele mordeu a isca. Isso fica no ar. Na cena final, vemos o anúncio que consagrou o slogan do refrigerante, the real thing. Gravado na Itália, no topo de uma montanha, o filme reúne um grupo multiétnico de jovens entoando aquele cântico sublime, quase sagrado, conclamando por paz e felicidade. É algo que se confunde com as experiências de Don naquele Esalem californiano. Um desfecho cheio de poesia. Seu caráter inconclusivo — Don foi ou não o autor da propaganda? — serviu para prolongar a duração da espuma formada pelo episódio. É uma provocação, uma discussão sem fim que dividiu as opiniões do público (você lê algumas das mil teorias no site do “Variety” e no do “The New York Times”). Na vida real, o anúncio foi da McCann. Na ficção, deduza você mesmo ou fique matutando indefinidamente e lembre de “Mad men” por muito tempo.

Apesar da agência sempre cheia, o capítulo se concentrou em poucos personagens. Peggy teve um final feliz com Stan (Jay Ferguson), o único ponto de incoerência da noite. Foi uma concessão água com açúcar que não chegou a comprometer o todo, embora o tenha barateado. Por outro lado, Joan (Christina Hendricks) esnobou um príncipe em favor da carreira. Encerrou sua participação com a tocha vitoriosa do feminismo bem erguida e seu sorriso lindo de fera com carinha de anjo. Betty (January Jones) cedeu o lugar no fogão para a filha, que cozinhou para os irmãos. A ex-senhora Draper disse a Don, pelo telefone, que não queria gastar o tempo que lhe restava antes de morrer em discussões inúteis com ele sobre o futuro das crianças. Porém, ela não tem muito o que fazer com esse “tempo”: é uma dona de casa desocupada, se arrasta pelos cômodos naquele seu cotidiano de cigarros e leitura de jornal.

A ligação de Don para Betty é person to person, e esse também é o título do episódio. De acordo com esse sistema, o telefonema só passa a valer — e a ser cobrado — quando do outro lado da linha atende alguém específico. Também é person to person a ligação de Don para Peggy. Faz sentido. “Mad men” não atirou a esmo. O último programa teve chave de ouro e mirou no coração de seu elenco e nas histórias que mais nos tocaram. Somos nós, o público, do outro lado dessa linha.

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