No dia 6 de maio, o 'Fantástico' mostrou imagens inéditas e exclusivas do início da invasão e da vida precária dos moradores. As imagens foram registradas pelo documentarista Sandro Kakabadze.

“A matéria que abriu o programa tem linguagem documental. Eu e o Omar Barbieri fechamos o programa e, quando acabou, a gente estava chorando. A matéria foi sem off, com pouca música. Você assiste e aquilo vai dando uma angústia. (...) E, no domingo, aos 47 do segundo tempo, aquele homem apontado como o coordenador da ocupação, o Ananias [Ananias Pereira dos Santos], deu entrevista para a gente,” disse Roberta Vaz, chefe de redação do 'Fantástico', em São Paulo, em depoimento ao Memória Globo.

Vítima da tragédia, Ricardo Galvão, conhecido como Tatuagem, havia telefonado para a Polícia Militar pedindo socorro. O 'Fantástico" teve acesso à ligação com exclusividade. O repórter cinematográfico Abiatar Arruda registrou o momento em que os bombeiros tentavam resgatar o morador, mas, pouco depois, o prédio desmoronou, e Ricardo morreu.

Em entrevista para a Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo (ARFOC-SP), Abiatar contou: “Era uma imagem forte, mas montei o equipamento e comecei a gravar. Não fazia ideia do que vinha pela frente”. Enquanto registrava as primeiras cenas, Abiatar pediu para o repórter Guilherme Pimentel, que o acompanhava, ajudá-lo a achar um lugar de onde fosse possível registrar o incêndio de um ângulo melhor. “O Guilherme conseguiu autorização para subirmos num edifício, mas era a três quadras dali. Se acontecesse algo eu poderia perder enquanto me deslocava. Ainda me aproximei do local onde uma equipe de outra emissora estava, mas acabei voltando para minha posição inicial, na Avenida Rio Branco, próximo ao cordão de isolamento feito pelos bombeiros”.

O cinegrafista, então, percebeu que as pessoas gritaram quando um bombeiro apareceu no prédio ao lado do incêndio e conversava com alguém preso entre as chamas. Era Ricardo Galvão. Foram, aproximadamente, 12 minutos de registro da tentativa de resgate. Mas, em questões de segundos, o edifício em chamas veio abaixo, levando junto o morador.

“Vi tudo aquilo com o coração disparado. Mas não me desconcentrei em meu trabalho e não deixei de gravar um instante. Quando terminei de fazer aquele registro, o Guilherme ainda comentou comigo se eu tinha noção de que aquela imagem iria correr o mundo”, destacou Abiatar.

O 'Fantástico' exibiu também a entrevista do repórter Álvaro Pereira Júnior com a documentarista Denise Zmekhol, filha do arquiteto que projetou o prédio. O jornalista conversou também com Paulo Helene, diretor técnico do Instituto Brasileiro do Concreto, para explicar o motivo do desabamento.

"Sempre dá pra entrar com ciência e tecnologia. Eu procurei fazer essa matéria histórica/técnica. Fomos na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Achamos as plantas e a filha do arquiteto, um personagem riquíssimo, porque ela estava fazendo um documentário sobre o prédio. A gente entrevistou ela também", lembra o repórter Álvaro Pereira Júnior.

Três coordenadores da ocupação irregular foram responsabilizados criminalmente, em 2019, por suspeita de não tomarem medidas de segurança para evitar o risco de incêndio. Nireudes de Jesus Oliveira (a Nil); o genro dela, Hamilton Coelho Resende; e Ananias Pereira dos Santos, todos do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM), foram indiciados por “crimes de perigo comum” ou “incolumidade pública”, respondendo em liberdade. Em janeiro de 2022, a Justiça absolveu engenheiros da Prefeitura que também respondiam pelos crimes.