Por Memória Globo

João Miguel Júnior/Globo

Muito antes de saber o que queria na vida, Cláudia Abreu tomou o caminho dos palcos, levada por um tio. “Ele era ator das peças infantis do Tablado. Aos 10 anos, comecei a fazer aulas de teatro, juntamente com o curso de inglês, aulas de vôlei. Acabei me apaixonando pela atmosfera do Tablado”. Depois de participar de um grupo de teatro infantojuvenil, ensaiou a peça 'O Despertar da Primavera', na escola de teatro, em 1986. A partir daí, tudo aconteceu muito rápido: antes da estreia, foi convidada para fazer um teste na Globo; e mesmo antes do seu primeiro trabalho na emissora ('A Principal Causa do Divórcio', um episódio da série 'Teletema') ser exibido, foi escalada para a sua primeira novela, 'Hipertensão', de Ivani Ribeiro. A atriz ainda não havia completado 16 anos. Desde então, Cláudia Abreu fez diversas personagens complexas e marcantes, como a Clara, de 'Barriga de Aluguel', a militante Heloísa, de 'Anos Rebeldes', a ambiciosa e vingativa Laura Prudente da Costa, de 'Celebridade' e a cantora Chayene, de 'Cheias de Charme'.

Eu gosto de variar, acho que é legal ser eclética, poder se adaptar em vários tipos de linguagem: cinematográfica, televisiva, teatral. Sou atriz em qualquer lugar, tenho que me empenhar da mesma maneira em qualquer personagem.

Claudia Abreu em Anos Rebeldes, 1992 — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

Cláudia Abreu Varella – Cláudia Abreu Fonseca, depois do casamento com o cineasta José Henrique Fonseca – nasceu em 12 de outubro de 1970, filha de uma advogada e de um funcionário aposentado do Instituto Brasileiro do Café. Em 1986, estreou na Globo, participando de um episódio da série 'Tele Tema'. No mesmo ano, interpretou Luzia, personagem que morria por volta do capítulo 100, na novela 'Hipertensão'. Logo a seguir, fez 'O Outro' (1987), de Aguinaldo Silva. “Eu fazia, ao mesmo tempo, o flashback da minha morte na primeira novela e gravava a próxima”, recorda.

Claudia Abreu em 'Hipertensão', 1986 — Foto: Acervo/Globo

Em 1988, foi apresentadora do musical 'Globo de Ouro' e interpretou a Ana Paula Flores de 'Fera Radical', de Walther Negrão. No ano seguinte, ganhou seu primeiro grande papel: a princesa Juliette da novela 'Que Rei Sou Eu?' (1989), de Cassiano Gabus Mendes. “Ela era uma princesa muito doida, e romântica também. Sem contar a cena impagável com Dercy Gonçalves, que entrou na novela para fazer uma participação especial como minha avó. Foi um encontro engraçado”, conta.

Cláudia Abreu em 'Que Rei Sou Eu?', 1989 — Foto: Acervo/Globo

Sua primeira protagonista foi a Clara de 'Barriga de Aluguel' (1990), de Gloria Perez, uma jovem que emprestava seu útero para gerar o filho de outra mulher, a jogadora de vôlei Ana (Cassia Kis), levantando a discussão sobre quem deveria ficar com a criança, a mãe biológica ou a de aluguel: “Foi muito difícil fazer porque eu não tinha a vivência da personagem. Tinha apenas 20 anos, não era mãe ainda, e devia passar as emoções de uma mulher que estava gestando uma criança que, biologicamente, não era dela, mas que crescia junto com ela”.

Cláudia Abreu em 'Barriga de Aluguel', 1989 — Foto: Acervo/Globo

'Anos Rebeldes'

A atriz declinou do convite para ser protagonista de outra novela para interpretar a militante Heloísa em 'Anos Rebeldes' (1992), papel que lhe daria o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). A minissérie de Gilberto Braga foi a primeira obra de ficção da TV a abordar o período mais duro da ditadura militar. “Foi um trabalho marcante e uma grande coincidência com o momento político do Brasil, em função do impeachment do presidente Fernando Collor. As pessoas identificavam o tema que a minissérie abordava com o momento político no Brasil. Cheguei a ser considerada musa dos caras-pintadas. Ligavam da União Nacional dos Estudantes para a minha casa e me convidavam para ir a palanques e passeatas”, recorda.

'Anos Rebeldes' (1992): A morte de Heloísa (Cláudia Abreu), 1992.

'Anos Rebeldes' (1992): A morte de Heloísa (Cláudia Abreu), 1992.

A primeira vilã

Do mesmo autor, fez também a novela 'Pátria Minha' (1994), como Alice; uma pequena participação na minissérie 'Labirinto' (1998); 'Força de um Desejo' (1999), novela de época na qual interpretou uma escravizada branca; e 'Celebridade' (2003), em que viveu a primeira vilã de sua carreira, a inescrupulosa Laura. Apelidada de “cachorra” pelo parceiro Marcos (Márcio Garcia), chamado por ela de “michê”, a personagem foi escolhida pelo autor para ser a assassina de Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana), segredo guardado a sete chaves até o fim da novela. “Fazer vilã é ótimo, você pode tudo: você é amoral, não está presa a nenhum código de ética, a nada. E tanto Gilberto Braga quanto Dennis Carvalho, que dirigiu a novela, me davam carta branca para colocar cacos. Então, eu falava absurdos, e eles deixavam”, conta.

Cláudia Abreu e Malu Mader em Celebridade, 2003 — Foto: Gianne Carvalho/Globo

Em seguida, foi a honesta Vitória, de 'Belíssima' (2005), de Silvio de Abreu, uma ex-menina de rua que é perseguida pela vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro). “Eu me lembro de uma das cenas finais, com a Fernanda, em que eu revelava que era filha dela, e ela respondia: ‘Você é uma praga. Eu não te quis quando nasceu e não te quero agora’. Tive cenas muito difíceis de fazer. Cenas de antagonismo, de raiva, de rancor”, recorda. A personagem também fez muito sucesso por causa de seu figurino: longos e decotados vestidos no verão e bolerinhos de tricô e crochê. Em 2008, interpretou Dora Jequitibá, uma das protagonistas da novela 'Três Irmãs', de Antonio Calmon.

Chayene

Em 2012, fez um de seus papéis principais na televisão, a cantora de eletroforró Chayene, na novela 'Cheias de Charme' (2012), de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. A antagonista se tornou muito popular devido a seu jeito espalhafatoso, desastrado, caricato, repleto de bordões, como “curica”, “trairanha”, “jacu do brejo”, “rejuvelhecer”. Os bordões tinham inspiração nas gírias do Piauí, procedência da personagem. Na época, a atriz declarou ao 'Vídeo Show' que a novela foi uma “alegria do início ao fim”. Em 2019, as autoras Izabel de Oliveira e Paula Amaral trouxeram a personagem Chayene de volta para uma breve participação na novela 'Verão 90'.

Cláudia Abreu e Ricardo Tozzi em Cheias de Charme, 2012 — Foto: Acervo/Globo

Dois anos depois, em 2014, a atriz foi protagonista da novela 'G3r4ção Br4as1l', de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, onde interpretou a estrela norte-americana Pamela Parker-Marra. Em 2016, interpretou Helô, Heloísa Martins, em par romântico com Reynaldo Gianecchini na novela 'A Lei do Amor', de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari.

Cláudia Abreu no episódio A Próxima Atração, episódio de A Comédia da Vida Privada, 1996 — Foto: Jorge Baumann/Globo

A atriz também participou de episódios de 'A Comédia da Vida Privada', em 1995 e 1996, e integrou o elenco fixo da série 'A Vida Como Ela é…' (1996), baseada na obra de Nelson Rodrigues, exibida no 'Fantástico'. Em 2017, fez uma participação no primeiro episódio da série 'Cidade Proibida', de Ângela Chaves, Flávio Araújo e Marcio Alemão, Nilton Braga e Flávia Bessone.

Gloplay e Gloob

Em 2017, Cláudia Abreu estreou a série infantil 'Valentins' no canal Gloob. Além de atuar, também foi roteirista ao lado de Flávia Lins e Silva, Alice Gomes e Thamires Gomes. Em 2020 participou do original da Globoplay 'Desalma', uma história de mistério, baseada na mitologia eslava, escrita por Ana Paula Maia e com direção artística de Carlos Manga Jr.. Cláudia Abreu interpretou a personagem Ignes Skavronski Burko, mulher depressiva porque é assombrada por seu passado.

Teatro e Cinema

Paralelamente à carreira na TV, continuou fazendo teatro, atuando em peças como 'Orlando' (1989) e 'Viagem ao Centro da Terra' (1994), com direção de Bia Lessa; 'Um Certo Hamlet' (1991), de Antonio Abujamra; 'Noite de Reis' (1997), comédia de Shakespeare em que dividiu o palco com o ator Pedro Cardoso; e 'As Três Irmãs' (1999), em que foi dirigida por Enrique Diaz. Em 2003 e 2014, produziu e estrelou 'Pluft, o Fantasminha' no Teatro Tablado, em homenagem à Maria Clara Machado e à casa onde iniciou sua carreira. No cinema, fez 'Tieta do Agreste' (1996), de Cacá Diegues; 'Guerra de Canudos' (1997), de Sérgio Rezende; 'O Homem do Ano' (2003), em que foi dirigida pelo marido José Henrique Fonseca; 'O Caminho das Nuvens' (2003), de Vicente Amorim; e 'Os Desafinados' (2008), de Walter Lima Jr., entre outros.

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