Por Memória Globo

Zé Paulo Cardeal/Globo

Coragem é o que não falta para Cristina Piasentini desde os tempos de “foca”. Sua primeira entrevista, para o jornal da faculdade, foi com Paulo Francis, jornalista, crítico de teatro e escritor renomado. “Fui atrás dele no hotel, com a cara e a coragem, sem experiência alguma. Mas consegui a capa do jornal. Foi sensacional”. Em 1979, seu último ano na faculdade, foi contratada como assistente de produção da TV Tupi. Tornou-se produtora na TV Record, depois de uma temporada na Espanha, foi contratada como produtora de jornalismo no SBT e, em 1983, passou pela TV Manchete. Começou a trabalhar na Globo como coordenadora da editoria de geral, em outubro de 1987, no 'Bom Dia São Paulo', 'SPTV – 2ª Edição' e 'Jornal da Globo'. Em 1989, Piasentini assumiu a coordenação do 'Jornal Nacional', em São Paulo. De 1994 a 2004, integrou a equipe do Globo Repórter – foi editora e, depois, chefe de redação. Em 2005, assumiu o cargo de diretora-adjunta da redação da capital paulista e, em 2008, tornou-se diretora de Jornalismo em São Paulo. Deixou a empresa no final de 2020.

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Depoimento de Cristina Piasentini ao Memória Globo, 2012 — Foto: Zé Paulo Cardeal/Memória Globo

Início da carreira

Maria Cristina Piasentini Mora nasceu em São Paulo no dia 1º de agosto de 1959. Filha do construtor Alcindo Piasentini, e da dona de casa Dilce Scatolin Piasentini, a jornalista se formou na Faculdade Alcântara Machado e chegou a cursar dois anos de história na USP, nos anos 1980, mas não concluiu. Em 1979, seu último ano na faculdade, Cristina foi contratada como assistente de produção da TV Tupi. Depois, tornou-se produtora na TV Record, mas pediu demissão porque ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Adveniat para estudar jornalismo por oito meses na Universidade Navarra, em Pamplona, Espanha, em 1981.

Ao retornar para o Brasil, foi contratada como produtora de jornalismo no SBT. Em 1983, Cristina passou pela TV Manchete. Tornou-se coordenadora dos editores que trabalhavam na cobertura do incêndio da Vila Socó, em São Paulo, em fevereiro de 1984. “Cobrimos pouco e era uma coisa muito grande. Nosso chefe na época foi demitido e eu acabei ficando responsável por uma redação”.

Convidada pelo então editor-regional da TV Globo São Paulo, Celso Kinjô, e pelos chefes de redação Eloy Guerta e Laerte Mangini, Cristina começou a trabalhar na emissora como coordenadora da editoria de geral, em outubro de 1987, no 'Bom Dia São Paulo, SPTV – 2ª Edição' e no 'Jornal da Globo'. “Eram todos editores de primeira linha. E eu passei a conviver com eles, aprendi muito nesse dia a dia da redação. Foi assim, mas cheia de medo e assustada com tudo que estava acontecendo em volta”.

Cristina Piasentini na coletiva de lançamento do programa 'Como Será?', 2014 — Foto: Zé Paulo Cardeal/Globo

No ano seguinte, 1988, a jornalista fez sua primeira grande cobertura: as eleições da prefeitura de São Paulo, que deu vitória para Luiza Erundina. “Nós precisávamos da entrevista da Erundina para o 'Jornal Nacional', minutos depois dela saber que tinha sido eleita. A imprensa inteira atrás dela. A nossa produtora simplesmente se trancou num banheiro com ela e falou: ‘Agora, vamos esperar o repórter chegar aqui para a senhora gravar’. E assim foi feito”.

Em 1989, Piasentini assumiu a coordenação do Jornal Nacional, em São Paulo e de lá participou da cobertura das eleições presidenciais. “O Lula era candidato pela primeira vez. Havia toda uma mobilização em São Paulo em relação a essa candidatura inédita, pela história do Lula, por ele ser daqui do ABC”, diz ela, que também relata a cobertura do Plano Collor instituído em 16 de março de 1990. “Eu lembro muito da redação em polvorosa. Estava com a Lillian Witte Fibe, o Joelmir Beting, todo mundo tentando entender o que estava acontecendo em Brasília e traduzir para o telespectador. Eu lembro que foi uma tarde inteira no ar, com entrevistas no estúdio. Foi um trabalho interessante, praticamente tudo acontecendo ao vivo em Brasília e em São Paulo também, para tentar traduzir para as pessoas que estavam em casa, atônitas”.

'Globo Repórter'

Cristina passou a trabalhar no Globo Repórter em 1991. Entrou como editora, tornou-se chefe de redação em São Paulo e fez a produção de alguns programas. “Foram quase 13 anos, de 'Globo Repórter', experiências magníficas, uma época muito produtiva para mim. Eu tenho três programas muito marcantes. Um deles é sobre memória. Outro foi uma investigação que nós fizemos aqui em São Paulo. Um trabalho espetacular, fenomenal, de produção do Maurício Maia que pegou todos os boletins de ocorrência policial de um determinado período”. Com o programa Extermínio de Menores, dirigido por Piasentini, o 'Globo Repórter' ganhou, em 1995, o Prêmio Vladimir Herzog, na categoria melhor reportagem para TV. O terceiro foi Quarup. O programa abordava o ritual religioso em homenagem aos mortos da tribo que fica no Alto Xingú.

Diretora-adjunta da redação em São Paulo

Em outubro de 2005, a jornalista assumiu o cargo de diretora-adjunta da redação de São Paulo e já no ano seguinte enfrentou os primeiros grandes desafios: a cobertura dos ataques de uma facção criminosa na capital paulista. Foram dias de muita tensão com a cidade praticamente deserta à noite, vivendo uma espécie de toque de recolher. “O alvoroço na redação não deixava dúvida. Aquela era uma jornada única, uma cobertura gigante, com os fatos acontecendo em uma incrível velocidade. Mas havia serenidade e concentração. O foco era ter informações completas, corretas, sem precipitação”, lembra Cristina.

O sequestro do repórter da Globo, Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Callado foi outro episódio dramático: “Talvez tenha sido a situação mais difícil que eu atravessei nesse período todo. Foi uma coisa totalmente inédita, que pôs em risco a vida de duas pessoas que estavam trabalhando”. Era o ano da reeleição de Lula e das denúncias que a antecederam no escândalo do Mensalão: “Foi um ano muito rico, de apuração e de informação”.

Outra cobertura que Piasentini destaca foi a visita do Papa Bento XVI em 2007: “Nós fomos a todos os lugares em que o Papa ia estar em São Paulo e em Aparecida, para fazer não só o trabalho de produção para a televisão, mas também toda a logística, deslocamento de gente, de recursos técnicos. Foram meses de preparativos. Uma cobertura que não saiu do que estava programado, mas foi excelente. Deu tudo certo”.

Diretora de jornalismo da Globo em São Paulo

Em março de 2008, Cristina tornou-se diretora de jornalismo de São Paulo. “Assumi esse posto na sexta-feira; na noite de sábado, houve o acidente com a menina Isabella Nardoni. No domingo, estávamos tratando como se fosse uma queda, mas a partir da segunda-feira começamos uma cobertura extensiva de um dos casos mais importantes dos últimos anos, com todos os repórteres envolvidos, a redação inteira trabalhando para apurar tudo. O caso Isabella foi minha estreia, meu batismo de fogo”.

No mesmo ano, a jornalista acompanhou o caso do sequestro da adolescente Eloá Cristina, de 15 anos. Ela foi mantida como refém pelo namorado durante mais de 100 horas, em São Paulo. Na tentativa de resgate da polícia, ela acabou sendo morta: “Foi uma cobertura que nós não perdemos nada e que conseguimos ir à frente das investigações, mostrar que os tiros foram disparados pelo sequestrador durante a invasão do apartamento, e não antes como afirmava a polícia. Isso influiu no julgamento e na condenação dele”. A cobertura sobre o caso Eloá no 'Jornal Nacional' foi finalista do Prêmio Emmy de 2009.

Como diretora de Jornalismo, Cristina era responsável por coordenar a operação do dia a dia da redação e também grandes projetos. Em entrevista ao Memória Globo, ela comenta o intenso investimento nos telejornais locais que testemunhou nos seus primeiros anos no cargo:

“Tivemos algumas mudanças muito significativas no jornalismo de São Paulo a partir de 2008, sobretudo nos telejornais locais. Mudança de formato, de cenário, de estúdio, de processos, de equipes. Talvez a mais visível delas seja mesmo o Estúdio de Vidro, no topo do Edifício Jornalista Roberto Marinho, inaugurado em maio de 2008. Mas junto com ele veio também um jeito novo de apresentar o telejornal, com o apresentador em pé na maior parte do tempo, se deslocando pelo estúdio para usar melhor os telões – que em 2017 se tornaram interativos, integrando informações de trânsito, transporte público, meteorologia, redes sociais”.

Em ano de eleições municipais, Cristina Piasentini participa da direção de debates e entrevistas com candidatos à Prefeitura. Assim como atua nos bastidores da cobertura política, quando há corrida para o governo do estado de São Paulo.

Cristina Piasentini e o então diretor executivo de jornalismo Erick Brêtas com César Tralli nos bastidores do debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo, 2012 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Ali Kamel, o diretor de Arte Alexandre Arrabal e Cristina Piasentini nos bastidores do debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo, 2012 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

No final de 2020, após liderar por 12 anos a cobertura de crises, descobertas, histórias e eventos na maior metrópole do país, Cristina Piasentini deixou a empresa. Seu último grande desafio no cargo foi a cobertura da pandemia de Covid-19. O primeiro registro da doença no país ocorreu na cidade de São Paulo.

FONTES:

Entrevistas concedidas ao Memória Globo por Cristina Piasentini em 20/03/2012 e 16/12/2018.
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