Por Memória Globo

Cícero Rodrigues/Memória Globo

Luis Felippe Cavalleiro era um jovem estudante de Arquitetura, quando assistiu uma entrevista de Hans Donner sobre a mudança do logotipo da Rede Globo e decidiu estudar desenho Industrial. A intuição estava certa, pois logo ganhou um concurso que o levou a iniciar sua trajetória profissional como designer na TV Educativa, em 1980. Quatro anos, entrou como temporário na Globo, que precisou contratar profissionais para a transmissão das Olimpíadas de Los Angeles. Cavalleiro passou a integrar a equipe de Arte responsável por cenários e ilustrações da área de jornalismo e esporte da emissora, onde desenvolveu e consolidou uma carreira dedicada a criar soluções gráficas para melhorar o entendimento do espectador. Foi responsável pela implantação de um departamento de Arte em Brasília, e acompanhou a evolução dos equipamentos e softwares que deram a seu trabalho outros horizontes. Tornou-se gerente de Ilustração de Arte e contribuiu para a vitória de diversos prêmios internacionais. Em 2019, com as transformações iniciadas pelo programa Uma Só Globo, passou a integrar o Globo Design Center, do Hub de Operações de Conteúdo. Aposentou-se em novembro de 2021.

Não adianta fazer uma coisa com um grau de sofisticação tal que só será entendida por mim e mais dois designers, ou quem for da área. A gente não pode nunca perder de vista que o nosso cliente é o telespectador, em casa

Felippe Cavalleiro em depoimento ao Memória Globo, 2018. — Foto: Cícero Rodrigues/Memória Globo

Início da carreira

Nascido em 26 de abril de 1955, no Rio de Janeiro, Luis Felippe Cavalleiro da Silva decidiu largar a faculdade de Arquitetura e cursar Desenho Industrial e Programação Visual após assistir a uma entrevista de Hans Donner, em 1975. Encantado com o que viu, convenceu os pais – o coronel Renato Ribeiro da Silva e a dona de casa Célia Cavalleiro da Silva – que design era o seu caminho.

Começou sua trajetória profissional em 1980, na TV Educativa. Venceu um concurso de decoração promovido durante o carnaval carioca e passou a trabalhar com o carnavalesco e cenógrafo Fernando Pamplona. Durante quatro anos, em uma emissora em que não havia pressão por audiência, teve a chance de exercitar seu talento e experimentar com liberdade.

Entrada na Globo

Em 1984, a Globo precisou contratar mais profissionais para a transmissão das Olimpíadas de Los Angeles, e Cavalleiro integrou a equipe, de forma temporária. Em dois meses, o designer ganhou a oportunidade de coordenar toda a produção gráfica feita para os Jogos Olímpicos, num tempo em que havia apenas dois computadores gráficos para uso e grande parte da produção era feita em papel, à mão. Nesse modelo mais artesanal, foram produzidos desenhos gráficos de todos os esportes olímpicos para impressão no exterior, em poliuretano. O trabalho agradou tanto que depois da competição os desenhos passaram a enfeitar os corredores da emissora.

Cavalleiro passou a integrar o departamento de Arte responsável pela maior parte dos cenários da área de jornalismo e esporte da emissora e as ilustrações solicitadas por seus profissionais. Promovido a subchefe em 1985, recebeu como primeira missão cuidar da parte gráfica do Jornal Hoje, uma experiência rápida, porque logo em seguida foi transferido para o Jornal Nacional. Dessa época, o designer lembra de passagens marcantes, hoje impensáveis, como a produção de uma maquete com um grid de largada para o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 de 1986. A simulação do movimento dos carros foi feita de forma improvisada, com o ar comprimido de um aspirador de pó.

Arte em Brasília

Em 1990, Felippe Cavalleiro se mudou para Brasília com o desafio de implantar um departamento de Arte local que pudesse auxiliar os jornalistas a traduzir as notícias e os conceitos áridos, especialmente sobre política e economia, corriqueiros para quem lida nas proximidades do poder. Questões como o impeachment do ex-presidente Collor e as mudanças econômicas geradas pela implantação do Plano Real ganharam grafismos que facilitaram o entendimento do telespectador. Mesmo em acontecimentos de outras áreas, o trabalho da Arte se mostrou fundamental. Quando houve o assassinato do índio Galdino, queimado vivo em 1997, a reprodução do crime feita pela equipe da TV ganhou efeitos e teve destaque no Jornal Nacional.

Com a virada do milênio, os computadores diminuíram, se tornaram mais acessíveis e poderosos, enquanto o surgimento de novos softwares gráficos revolucionou o trabalho dos profissionais de design. “O que nós ganhamos com isso? Qualidade e velocidade. Você começava a usar cada vez menos fitas, dar os primeiros passos com discos óticos, e os computadores ganharam softwares muito sofisticados que exigiam gente mais especializada”, explica. Na posse do ex-presidente Lula, em 2003, já foi possível modelar tridimensionalmente, por meio de computação gráfica, a Praça dos Três Poderes e o Eixo Monumental, para mostrar como seria a movimentação do cerimonial.

Luis Felippe Cavalleiro foi promovido a gerente em 2006 e ganhou uma viagem aos Estados Unidos, para conhecer de perto o trabalho da Arte em emissoras norte-americanas. As visitas foram fundamentais para que percebesse a qualidade do trabalho desenvolvido pela Globo, em muitos casos bastante superior ao que encontrou por lá. Passou, então, a ajudar a inscrever a emissora em competições internacionais. Como resultado, apenas entre 2008 e 2018, a Globo recebeu mais de 20 prêmios no exterior. “A gente passou a ganhar regularmente prêmios nos maiores concursos voltados para televisão no mundo. A gente já ganhou vários prêmios com Jornal Nacional, com Jornal Hoje, com a Fórmula 1, com Olimpíada, com Copa do Mundo, com tudo o que você possa imaginar”, conta. Ele destaca a parceria de décadas com os colegas Paulo Polé, Delfim Fujiwara, Alexandre Arrabal, Andrei Jiro, Rodolpho Xavier e Gilda Rocha.

Em 2014, Felippe desenhou à mão um emaranhado de canos enferrujados por onde saía dinheiro. Nascia ali a ideia para ilustrar o caso de desvio de dinheiro público na compra da refinaria da Petrobras em Passadena, Estados Unidos. Era o início da Operação Lava Jato. Os traços ganharam vida e contornos em 3D ao serem transpostos para o ambiente digital, com softwares de ponta. A evolução desta arte tornou-se a base da identidade visual da cobertura da Globo da operação durante mais de cinco anos.

Com o tempo, a Arte do jornalismo passou a trabalhar de forma coordenada com as cinco praças em que a Globo tem emissoras próprias: Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Em 2017, foi desenvolvido e implementado um projeto gráfico único para os telejornais locais – o que acabou estendido às emissoras afiliadas. Em Brasília, por exemplo, a redação móvel, uma ação de sucesso, incorporou a nova identidade visual. Também as redes sociais foram contempladas, e os telejornais locais puderam exibir a interação com os telespectadores diretamente na tela, após a leitura das mensagens por moderadores.

Também em 2017, o Jornal das Dez, da GloboNews, passou a ser apresentado de Brasília. Para ambientar o programa, o departamento de Arte, que criou uma estratégia que permitia o uso do mesmo estúdio do telejornal local, o DFTV. Para realizar a mudança de cenário em apenas 20 minutos, criou-se uma automação pré-programada de mudança de luzes, e as bancadas ganharam rodas para movimentação rápida. Um jogo de montar diário e prático que funciona à perfeição desde o início.

Felippe Cavalleiro. Cícero Rodrigues/Memória Globo, 2018.

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Descomplicando assuntos

O trabalho da arte tem sido fundamental para esclarecer coberturas que envolvem denúncias e investigações sobre corrupção. No Mensalão, em 2005, imagens de gavetas abertas, de onde saíam pastas de dinheiro, apareciam sempre que o assunto era abordado nos telejornais. Uma década depois, foi a vez de canos e dutos, dos quais escoavam notas de cem reais, ilustrarem as notícias sobre a Lava Jato. “Uma das coisas que a gente fez, talvez sem as pessoas perceberem muito conscientemente, foi o cano jorrando cada vez mais dinheiro. Cada vez tinha mais dinheiro no ar, um conceito de progressão da gravidade”, ressalta. Se nesses casos os grafismos funcionavam como um selo, para que o telespectador se remetesse de imediato ao tema, em assuntos de muita repercussão, a Arte trabalhava para facilitar a apreensão de informações que de outra forma seriam pouco palpáveis. Em 2006, quando um jato executivo derrubou um avião da Gol, uma representação gráfica permitiu revelar a existência de corredores aéreos que funcionam como estradas no ar.

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Globo Design Center

Em 2018, a Globo iniciou um processo de transformação que tinha o objetivo reunir Globo, Globosat, Globo.com, Globoplay, DGCorp – área corporativa do grupo – e Som Livre em uma única empresa, mais eficiente e dinâmica. Conhecido como Uma Só Globo, o programa visava conduzir a empresa a um modelo chamado mediatech, em que conteúdo e tecnologia estivessem integrados. Com isso, em 2019, as equipes de Arte foram integradas à Tecnologia, como parte do Hub de Operações de Conteúdo, uma plataforma de profissionais e conhecimentos voltados à busca de inovação, eficiência e qualidade a cada tipo de produto, respeitando as especificidades de cada gênero. Cavalleiro passou a fazer parte do Globo Design Center, núcleo responsável pela produção gráfica de todos os produtos da Globo, até novembro de 2021, quando se aposentou.

Artes Lava Jato

3 fotos
Evolução da criação da ilustração temática da operação Lava Jato para o Jornal Nacional

Fonte

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