Com produção de Rick Bonadio e Sergio Fouad, Pouso, o quinto álbum da Zimbra, resgata uma sonoridade mais roqueira, mas sem perder a poesia característica da banda santista. “Os temas que a Zimbra aborda são atemporais. A ideia é que as pessoas se identifiquem com as letras ao longo da vida. Este álbum é um retorno à nossa essência roqueira, mas com o frescor do agora. Como disse o meu amigo Yago Jacques, ‘Pouso é um abraço no passado e um aceno para o futuro’”, diz o vocalista e guitarrista Rafael Costa, mais conhecido como Bola, ao Apple Music. “Tivemos muito cuidado ao escolher o nome do projeto. Ele fala sobre voltar para um lugar seguro e exercer a nossa individualidade sem julgamentos. Também desejamos que o público sinta essa segurança e essa liberdade nos shows”, diz o baterista Pedro Furtado. A seguir, ele e Bola comentam cada faixa de Pouso. Eu Vi Tudo Bola: “A faixa fala sobre autojulgamento. É algo que eu trato na terapia há anos. Posso parecer feliz em uma festa, por exemplo, mas vem um pensamento que diz que, ao chegar em casa, eu choro. É sobre o lado interno, que nem sempre transparece ao público. Ela se tornou um rock gritado e rasgado – enfim, um desabafo.” Tantos Lugares Bola: “Esta música trata de perceber lugares de outra maneira. Ela tem a ver com voltar para um local onde você viveu uma parte importante da vida, mas que não provoca mais os mesmos sentimentos. Você ressignifica sua leitura das coisas ao longo do tempo.” Furtado: “Em termos estéticos, a faixa condensa a ideia de ser uma banda em que cada um realmente toca um instrumento. É bem rock’n’roll. Guitarra, baixo, bateria e voz. Ela sintetiza musicalmente o que a gente quer passar com o álbum.” Somente Só Bola: “A música se tornou um reggae por sugestão do Bonadio e do Fouad, o que nos deixou um pouco surpresos, mas foi um desconforto prazeroso. Originalmente ela era uma faixa sombria, densa e introspectiva, então foi algo inusitado transformá-la num reggae, mas adoramos o resultado.” Furtado: “Foi uma subversão. Temos a versão rock gravada também, mas gostamos mais do resultado que entrou no álbum. Esse reggae gótico ficou interessante, pois deu novas camadas de interpretação." Medo Bom Bola: “O (guitarrista) Vitor Fernandes havia feito uns acordes para a trilha sonora de um curta-metragem e pediu para terminar a música e fazer a letra. No fim, a faixa não entrou no filme e a gente aproveitou para incluí-la no álbum. Foi a primeira vez que fiz uma música sob encomenda. O resultado ficou tão legal que acabou tendo pouca pós-produção.” Leve Furtado: “A música surgiu de uma forma interessante, na última hora. Já tínhamos gravado dez faixas, mas o Bonadio sentia que faltava uma. De repente o Bola pegou o celular e mostrou esta música, que se tornou um momento feliz no álbum e nesse caldeirão de emoções que é a nossa banda.” Bola: “A composição é minha, do Deco Martins e do Math Basso.” Eu Não Ligo Bola: “É mais música uma feita sob encomenda há alguns anos e que não foi lançada na época. O Fernandes participou da criação comigo, e utilizamos bastante violão, bem na onda do Frejat, depois incluímos uma guitarra meio pop rock. Agora recuperamos a faixa para o Pouso, com toda a produção incrível do Bonadio e do Fouad.” Nada Mais Bola: “É uma balada bem clássica que fala sobre os diferentes momentos da vida. Os arranjos lembram os de ‘Eu Não Ligo,’ mas ela é mais agitada, com mais guitarras e umas partes com drive e distorções. É uma mistura de pop e indie rock, com referências de Skank e Oasis, uma sonoridade meio anos 2000 e um refrão convidativo.” O Que Era Certo Bola: “É uma composição antiga, feita originalmente para o nosso segundo álbum, Azul (2016). Quando ela foi lançada (como single de Pouso) o público percebeu uma certa nostalgia na sonoridade, que remete ao início da nossa carreira, mas com um frescor. É uma prova de que a nossa música resiste ao teste do tempo. Os nossos primeiros álbuns são os mais ouvidos até hoje, por isso decidimos agradar o público com esse resgate.” Ego Furtado: “Esta é uma das minhas músicas favoritas do álbum. Ela aborda a questão da introspecção que permeia o Pouso. A gente manteve a naturalidade da música nos arranjos, para expressar esse diálogo interno que ela propõe.” Bola: “A faixa é bem delicada, com arranjos e voz mais baixos. A sonoridade tem uma frequência que tenta ilustrar a fragilidade do ego, algo extremamente vulnerável. Dificilmente lidamos bem quando o nosso ego é atingido. Vamos para a terapia, sofremos. Acho que a música conseguiu traduzir esse sentimento de certa forma.” Melhor Pra Nós Bola: “A música foi composta há cerca de dez anos. O Fernandes me mostrou o riff do refrão e eu fiz a música em cima. Apesar de sermos uma banda de rock, nossa estrutura de composição é muito calcada no pop. ‘Melhor Pra Nós’ talvez seja a faixa que mais representa a nossa sonoridade como banda. A letra fala sobre aceitar os acontecimentos da vida.” Sempre Foi Bola: “Esta faixa é mais um resgate do início da Zimbra. Aqui estão as nossas influências da época, como The Killers, Oasis, MGMT, The Strokes e The Kooks. ‘Sempre Foi’ se tornou um rock britânico dançante, tipo um ‘suco dos anos 2000’. Apesar de eu ter escrito a letra, ainda não consegui entendê-la. Acho que ela evoca um sentimento de revolta e insatisfação em relação às coisas do passado.” Furtado: “Esse balaio de sensações humanas, boas e ruins, é o que dá atemporalidade à nossa música. No fim das contas, é isso. Ninguém é só raiva, ninguém é só felicidade. Somos um universo de sentimentos.”
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