Graveola chega ao seu sétimo álbum com In Silence. Com sete faixas, o trabalho começou a ser produzido em 2018 e foi finalizado apenas dois anos depois. “Ele tinha composições de integrantes que já tinham saído, então é um álbum de transição, e o guardamos até que sentimos ser a hora certa de lançar”, conta Zelu Braga, cantor e compositor da banda, ao Apple Music. “Quando chegou a pandemia do coronavírus e fomos nos debruçar sobre o material que já tinha sido produzido, ficamos impressionados, porque o trabalho tinha tudo a ver com este momento. A impressão vai ser de que o fizemos para este momento, mas são temas sobre os quais já tínhamos falado antes, e que ficaram mais caros agora.” Para Braga, o início do processo do álbum teve a intenção de colocar músicas leves. “Queríamos baladas, mas o álbum tomou outra proporção”, diz ao explicar a influência de nomes como Rodrigo Amarante e Cinco a Seco. “Algumas faixas nós escolhemos durante a criação do esqueleto do álbum, e com o tempo adicionamos algumas outras. Então entraram as canções que estavam disponíveis naquele momento: são quatro faixas da Luiza Brina, duas minhas e uma que é um presente do Luiz Gabriel Lopes, ex-integrante da banda.” Formada em 2004, a banda mineira era chamada inicialmente de Graveola e o Lixo Polifônico. Hoje, apenas Graveola, o grupo conta com Bruno de Oliveira, Di Souza, Gabriel Bruce, Luiza Brina e Thiago Corrêa, além de Zelu Braga. “O que não mudou, desde o nosso começo, é que estamos sempre nos transformando. A banda passou por diferentes formações e muitas pessoas passaram pelo coletivo, deixaram a sua contribuição, o seu traço, o que ajudou a esculpir a nossa essência.” Em tempos estranhos e de desesperança, Braga acredita que a música deve servir de recurso terapêutico, mas não apenas para quem a escuta, como também para quem a cria, e assim explica a importância de se lançar In Silence. O álbum também traz uma responsabilidade, pois “é um papel importantíssimo, porque precisamos de recursos para manter a nossa lucidez”. “A nossa força é a nossa vontade de estar no mundo. Além de contribuirmos positivamente com a promoção dos valores universais de manter o compromisso humano. Então temos que sensibilizar e, às vezes, fugir um pouco da realidade para justamente entendê-la melhor”, conclui. A seguir, Zelu Braga fala das sete faixas do sétimo álbum da banda, com detalhes e curiosidades do projeto. Nosso Estranho Amor “Ela é uma música de estranhamento mesmo, quando você não encontra no outro aquilo que você está buscando. E traz um pouco desse lamento do desencontro, mas eles são importantes também, porque fazem parte da nossa constituição. A gente está em um mundo de pessoas que aparecem, que se vão e que nos constituem como pessoas, principalmente em relacionamentos amorosos, existe essa finitude. Então eu acho que ela caracteriza muito bem essa dor que fica, mas é o que constitui a gente como ser, são esses encontros e desencontros. Cada pessoa que aparece na nossa vida é uma parte de nós, então acho que a faixa tem uma pegada instrumental muito interessante, e os meninos conseguiram trazer um peso, uma eletricidade para ela bastante curiosa, quase que agressiva. E ela equilibra esse peso com a leveza da interpretação da Luiza, que consegue suavizar através do canto.” Expandir “Bom, ‘Expandir’ fala muito de amizade. E foi bem interessante o Graveola ter topado. É uma faixa minha, e eu acho que ela tem uma conexão com os tempos de hoje, de maneira profética, porque ela fala de amizades à distância, como que lidaremos com uma amizade que não está mais presente; pessoas que conhecemos, mas não temos como encontrá-las. Então fala um pouco dessa saudade, e, toda vez que esse encontro se consolida, ele expande e vai além. E tem o valor da amizade, o quanto é necessário nutri-la, manter a amizade com um destino certo. Por mais que a gente se sinta distante, temos que ser capazes de cultivá-la, por meio de mensagens, por exemplo. É uma faixa que também tem uma cadência mais minimalista, um instrumental mais suave, sem muitas notas.” Tão Tá “Essa tem um pouco a caraterística de um Graveola mais animado, mais dançante, e em um lugar no qual nós procuramos essas referências: nos ritmos do norte, nos latinos, e nesse desejo de buscar territórios desconhecidos. O desejo também de estarmos à deriva. E por mais que seja uma faixa que apareceu depois, ela amarra o discurso do álbum, que é essa história da trajetória, de que o fim é o próprio caminho, de um recorte de uma estrada, de um caminhar. Então ‘Tão Tá’ é uma música que retrata essa história dessa sonoridade que é ao mesmo tempo antiga e atual do Graveola. É uma faixa coringa deste álbum.” Blues da Esperança “Eu acho que foi uma espécie de chamado, que apresenta a força interna de cada um de nós e nos convida a olhar para dentro de cada um, e externar o desejo de esperança de um mundo melhor, de mostrar a nossa cara, de apresentar a nossa cor, o nosso ritmo, a nossa voz e o nosso afeto. Como se tudo isso fossem armas e recursos para promover uma espécie de revolução colorida, psicodélica. Então é um pouco isso, uma música que tem esse viés endógeno, de escutar mais do que dizer, de estarmos em nós para conseguirmos atuar no mundo. Ao mesmo tempo que estamos de peito aberto, somos a esperança.” Tsunami “’Tsunami’ é uma faixa do Luiz Gabriel com a Esmeralda Escalante, uma compositora argentina. Ela é uma música cantada em espanhol e traz um pouco a ideia da dor que a perda do amor provoca e fala como que as nossas lembranças da dor do amor e do amor perdido têm a força de um tsunami, de uma onda imensa, e o estrago que isso causa em nós, ao mesmo tempo em que nos renova como seres humanos. Ela traz um pouco dessa dimensão do amor e suas lembranças, que inundam a nossa psique. Como que às vezes a gente se comove com as histórias de amores passados, como elas nos trazem esse espírito de superação.” Tanto Faz “Essa também é uma música sobre as dores do amor, de uma tentativa de se reafirmar em um encontro. Tanto faz o que aconteceu, porque o que a gente precisa é cuidar de nós, então eu acho que ‘Tanto Faz’ aponta para uma redenção, diferente de ‘Tsunami’. E, apesar de toda a dor provocada por esse desencontro, o que sobra sou eu. Então não adianta eu ficar aqui nessa lamentação, eu preciso virar a página. Ela estava em um limbo antes de entrar no álbum, mas eu particularmente acho que tem o resultado sonoro mais bonito deste trabalho, principalmente por ser bastante minimalista.” In Silence “Ela foi escolhida como faixa-título, porque, em questões cronológicas, é muito interessante nós lançarmos um álbum depois de cinco anos de silêncio. E o silêncio nunca é apenas o silêncio, porque a gente tem um tom de voz falando na nossa cabeça, e cabe a cada um de nós ordenar o estado de silêncio interno, de escutar mais do que ver. Acho que é um exercício de escuta, de você não estar escutando o outro e estar escutando a sua mente. Foi esse o movimento que o Graveola fez ao longo desses anos, um processo de escuta profunda, de qual era a intenção do grupo e como ele se reposicionaria com pessoas que saem, pessoas que entram. Como ele se posiciona como banda independente com 17 anos de estrada? São muitas vozes para equalizar. Essa faixa-título é perfeita porque é uma forma de a gente disciplinar o nosso silêncio e uma maneira de a gente expor de forma sonora o nosso silêncio.”
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