Hans Zimmer

Desde a tensão crescente de um suspense até a euforia contagiante de uma conquista, a trilha sonora contribui para que cineastas adicionem emoção a suas histórias. Para criar esses catalisadores de sentimento, no entanto, não basta contar com a magia do cinema. “É sangue, suor, trabalho e lágrimas também”, afirmou Hans Zimmer ao Apple Music, citando Winston Churchill. O alemão nascido em Frankfurt em 1957 é um dos mais premiados compositores de trilha sonora da história, com mais de 150 filmes na bagagem, dois Oscars, três Globos de Ouro e outras dezenas de prêmios. Essa trajetória de vitórias tem, por trás, um caminho de contestação dos modelos tradicionais e um esforço intenso para fazer diferente. Com uma dedicação autodidata, ele migrou do piano para os sintetizadores, caminho que o levou a atuar em grupos de new wave em pleno auge do gênero. O compositor é um dos fundadores do grupo The Buggles e assina o hit “Video Killed the Radio Star”, lançado em 1979. Nos anos 80, Zimmer atuou ao lado do experiente compositor de TV e cinema Stanley Myers, com quem aprendeu que tecnologia e música podem andar lado a lado. “O século 20, de alguma forma, fez uma grande divisão entre instrumentos de orquestra, computadores e sintetizadores. Mas cada instrumento é um artefato de tecnologia do seu tempo. O violino é uma tecnologia do seu tempo”, argumentou em entrevista a Zane Lowe no Apple Music. Sua estreia em Hollywood foi com Rain Man (1988), em que criou atmosferas cheias de adrenalina com teclados eletrônicos, sintetizando o zeitgeist da música pop oitentista misturada a sons de flauta de bambu e tambores, ousadia que se tornou sua assinatura e rendeu a primeira indicação ao Oscar de melhor trilha sonora. A consagração – múltipla – viria com O Rei Leão (1994). A trilha, extremamente pessoal e inspirada no pai, que faleceu quando ele era ainda criança, ganhou um Oscar, dois GRAMMYs e um Globo de Ouro. A partir de então, Zimmer se tornou uma das figuras mais requisitadas de Hollywood, orquestrando emoções em obras como Thelma & Louise (1991), Gladiador (2000), Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e A Origem (2010). A trilha de Interestelar (2014) foi baseada, segundo ele, em uma das peças de engenharia mais complexas da nossa tecnologia: o órgão de igreja. Assim como em O Rei Leão (1994), a trilha multipremiada de Duna (2022) também tem origens pessoais. Resgatando suas memórias de adolescência ao ler o romance futurista de Frank Herbert, Zimmer se propôs a ir na contramão das composições eruditas típicas de sci-fi e fez misturas não-convencionais com sintetizadores, tambores, gaita de foles, flautas centenárias misturadas a canos de plástico e vocais fora do comum, evocando uma humanidade tecnológica e sombria. Um épico da ficção científica que se transformou, também, em épico da trilha sonora.