Ler para educar, educar para ler

Realizado nos armazéns do Porto, ofereceu apresentações artísticas, saraus, debates com autores, contação de histórias, intervenções poéticas, exposições, homenagens. Participaram personagens importantes da nossa cultura, como Marisa Monte, MV Bill, Marco Nanini, Ana Maria Machado, Ailton Krenak, Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, Itamar Vieira Júnior, Thalita Rebouças e muitos outros. Dividi uma mesa com Tatiana Roque sobre os riscos do excesso de telas e suas relações com a leitura.

A maioria dos 200 mil visitantes foram estudantes, e além deles educadores, editores, livrarias e público em geral. Melhor: o evento acontece também em locais como Caxias, São Gonçalo e outros tão carentes de atividades culturais e literárias, e pretende cobrir todo o estado.

A maior parte do financiamento vem da Sec. Estadual de Educação, e permite aos estudantes a compra de livros no valor de 50 reais, e 100 reais para professores, que podem escolher em um catálogo de mais de mil títulos, incluindo bestsellers e os clássicos. Uma forma transparente e eficaz de investir um recurso que tantas vezes vai para fins duvidosos.

Fiquei impressionado e feliz ao ver milhares de crianças e jovens com seus uniformes escolares circulando pelo evento, participando das atividades. O que mais me marcou foi a visão de alguns adolescentes fazendo algo raro hoje em dia entre eles: lendo livros.

Estamos perdendo este hábito precioso. A principal razão disso nos dias de hoje é o tempo gasto nas redes sociais e em vídeos. Se a média de permanência on-line é de (impressionantes) 8 a 10 horas por dia, sendo 5 a 6 nas redes e YouTube, que tempo sobra?

Mais do que isso, há um efeito na própria capacidade de ler. Uma pesquisa da American Psychological Association indica o óbvio: o uso excessivo de rede afeta as habilidades de leitura profunda, já que o cérebro se habitua com os conteúdos curtos, sem história, hiperestimulantes, superficiais ou consumistas.

No caso dos jovens, com as áreas executivas ainda não amadurecidas, isso pode criar circuitos persistentes que dificultem cada vez mais a atenção, uma das habilidades humanas mais fundamentais. Ela permite aprendizado, interação plena, presença no mundo.

A leitura a fortalece, ao contrário das telas, pois exige concentração, esforço e persistência. É uma das atividades mais integradoras das muitas funções cerebrais, pois estimula diferentes áreas.

Ao ler, ativamos áreas visuais para identificar letras e palavras; áreas da memória para recuperar informações e ideias; da imaginação para criar imagens mentais e da cognição para analisar e interpretar o conteúdo. A identificação com os personagens estimula as áreas emocionais (fortalecendo a empatia). A ativação do córtex pré-frontal permite a compreensão de textos mais complexos.

Através da leitura articulamos pensamentos, desenvolvemos o vocabulário, raciocínio e pensamento crítico. Regras gramaticais são absorvidas de forma espontânea. Aprendemos a apreciar e a contar histórias, e com elas construímos nossa identidade, ampliamos nosso repertório de experiências e fortalecemos diferentes tipos de inteligência e as habilidades de comunicação, como a oratória e a capacidade de debate. As crianças constroem empatia e criatividade.

Importante, não é?

Por isso é tão fundamental cultivar a leitura e o amor pelos livros, desde os primeiros meses. Leia histórias para seus filhos (um ritual noturno é lindo e marcante), leia diante deles e, sobretudo, não permita que o celular extermine a leitura. Negocie com os adolescentes para que desliguem o aparelho uma hora antes de dormir e dediquem esse tempo aos livros.