Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 30/06/2024 - 13:01

Pressão por cessar-fogo e dilema de Netanyahu

A pressão por um cessar-fogo entre Hamas e Israel aumenta, enquanto o risco de conflito com o Hezbollah também cresce. Opções incluem negociações, manutenção do status quo ou uma guerra total. Netanyahu enfrenta dilema político e militar.

A pressão para um cessar-fogo na Faixa de Gaza entre o Hamas e o governo de Benjamin Netanyahu se intensifica ao mesmo tempo que aumenta o risco de um conflito armado de grande magnitude entre as forças israelenses e o Hezbollah na fronteira de Israel com o Líbano. Há uma escalada nos confrontos, assim como na retórica belicista dos dois lados. EUA e França enviaram emissários mais uma vez a Beirute e Jerusalém para tentar negociar um acordo e evitar uma guerra total, mas até agora não obtiveram sucesso.

Caso haja um cessar-fogo em Gaza entre os israelenses e o Hamas, há três possibilidades para o conflito entre Israel e Hezbollah no Líbano. A primeira seria uma trégua imediata, seguida por negociações mediadas por Washington e Paris entre os governos israelense e libanês, com participação indireta do Hezbollah. Esta é a proposta defendida pelos EUA, pela França e pelo Líbano. Os dois países tentariam resolver as disputas fronteiriças, e o Exército libanês seria mobilizado para o sul do país, assumindo a segurança da região, controlada hoje militarmente pelo Hezbollah, apesar da presença da Unifil (forças de paz das Nações Unidas).

A segunda alternativa seria uma trégua com o retorno ao status quo anterior aos embates que eclodiram depois do atentado do Hamas em 7 de outubro. O Hezbollah seria o beneficiado por essa proposta porque manteria o controle militar do sul do Líbano, com todo o seu arsenal voltado contra o território israelense. Israel não aceita essa opção, que também desagrada aos EUA e à França. Autoridades libanesas se dividem, com aliados do grupo xiita a favor e opositores, que são numerosos e incluem a maioria dos sunitas e cristãos libaneses, contra, preferindo que o Exército libanês faça a segurança na região.

As duas possibilidades acima não envolveriam guerra e ao menos o cenário se acalmaria. Cada vez mais, no entanto, há indicações de que a terceira alternativa, de guerra total, deve prevalecer. O governo de Netanyahu e mesmo alguns adversários políticos dele avaliam ser insustentável manter o status quo atual, com o Hezbollah do outro lado da fronteira. Dezenas de milhares de israelenses precisaram deixar suas casas no norte do país por causa dos confrontos contra o grupo xiita libanês — outras dezenas de milhares de libaneses também tiveram de abandonar suas casas no sul do Líbano. Até mesmo um acordo para a presença do Exército do Líbano não seria suficiente na visão do governo de Netanyahu. Querem ocupação militar israelense, como na Faixa de Gaza.

Pesa também o cálculo político de Netanyahu. Caso ceda à pressão para um cessar-fogo em Gaza, o premier corre o risco de perder o apoio dos extremistas pró-guerra de seu governo, o que o forçaria a convocar eleições. Para tentar convencê-los a ficar na coalizão, poderia levar adiante essa ofensiva por terra contra o Hezbollah no sul do Líbano. O problema é que o Hezbollah tem um poderio militar bem maior do que o do Hamas.

O grupo levaria a guerra para dentro de Israel, incluindo incursões de militantes. Lançaria seus mais de 100 mil mísseis contra prédios em Tel Aviv e Haifa (o Hamas só tem foguetes). Milhares morreriam nos dois países. Uma guerra total seria a pior alternativa tanto para os libaneses como israelenses. O Hezbollah não seria eliminado, como o Hamas não foi em oito meses de guerra em Gaza e mais de 36 mil palestinos mortos. Serviria apenas para Netanyahu tentar se perpetuar no poder.

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