O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) disse à equipe da coluna que, apesar de considerar que o depoimento do hacker Walter Delgatti à CPI de 8 de Janeiro forneceu elementos suficientes para indiciar Jair Bolsonaro, não é o caso de convocar o ex-presidente para depor.
“Nós temos que evitar depoimentos que espetacularizem os trabalhos. O depoimento de hoje é central para a conclusão dos trabalhos da relatora da comissão (a senadora Eliziane Gama)", disse Randolfe.
Um dos temores de aliados de Lula é o de que a comissão acaba servindo de palanque para o ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Bolsonaro após a derrota nas urnas
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Presidente foi a poucos eventos, se isolou no Palácio da Alvorada e evitou declarações públicas. Antes de passar a faixa, viajou para os Estados Unidos
Em depoimento nesta quinta-feira à CPI, Delgatti afirmou que Bolsonaro prometeu conceder um indulto caso ele fosse flagrado no plano de invadir as urnas eletrônicas. O instrumento foi usado pelo então presidente com o ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira.
À Polícia Federal, Delgatti disse que o crime foi encomendado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
“Em algum momento na história brasileira tem algum precedente de um presidente da República oferecer indulto para o cometimento de um crime e para a concretização desse crime? Não há precedentes em toda a história nacional, desde a nossa formação como nação. Aí tem atentado contra o Estado Democrático de Direito em vários tipos penais”, disse Randolfe à equipe da coluna.
“Estão colocados todos os dados e elementos para, ao final da CPMI, Bolsonaro ser indiciado. Bolsonaro se insurgiu contra a ordem democrática.”
Ao longo do depoimento, o hacker também disse aos parlamentares que Bolsonaro pediu que ele assumisse a autoria de um suposto grampo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Ele (Bolsonaro) diz no telefone que esse grampo havia sido feito por agentes de outro país. Não sei se é verdade, se aconteceu o grampo. Ele disse que em troca eu receberia indulto”, disse Delgatti.
Na avaliação de Randolfe, o depoimento do hacker deixa claro que o “roteiro do golpe” não começou em 8 de janeiro de 2023, dia da invasão e depredação da sede dos três poderes em Brasília, e nem em 30 de outubro de 2022, data da vitória apertada de Lula no segundo turno das eleições.
“O roteiro do golpe estava previsto desde a posse de Jair Bolsonaro em 1º de janeiro de 2019. Eu acho que a CPMI para mim agora tem que caminhar para as suas conclusões. Tem todos elementos para se concretizar.”