Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Uma parcela dos gaúchos afetados pelas chuvas faz parte de um contingente de 8,9 milhões de pessoas vivendo em áreas com risco de desastres naturais provocados por temporais. Os números compõem um levantamento realizado pela Casa Civil do governo Lula em outubro de 2023 para basear o planejamento de obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.

É uma população expressiva, equivalente ao total de habitantes de Pernambuco, que está distribuída por quase 2 mil municípios.

O mapeamento foi fornecido à equipe da coluna pelo Cemaden, o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, que processou os dados da Casa Civil para chegar a uma projeção mais precisa da população sob risco.

O Cemaden foi criado em 2011 após chuvas devastadoras na Região Serrana do Rio que deixaram 918 mortos – até hoje o maior desastre natural do país em número de óbitos.

Ao todo, são 1.942 cidades sob o chamado risco geo-hidrológico, sujeitas a desastres provocados por chuvas – como deslizamentos, enxurradas, inundações e enchentes.

Destas, 1.133 já dispõem de acompanhamento do Cemaden por meio de equipamentos como sensores geotérmicos, satélites, e pluviômetros, enquanto as outras 809 ainda receberão estrutura para o monitoramento.

Ao todo, a população desses municípios soma 148,8 milhões de pessoas, mas o mapeamento geológico mais específico, que leva em conta o histórico de incidentes como deslizamentos, inundações e enxurradas, mostra que o contingente que está de fato sob risco é de quase 9 milhões.

“Só nos 1.133 municípios que o Cemaden já monitora vivem cerca de 60% da população com base no censo de 2022. O número de moradores em risco é menor”, explica a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá. De acordo com ela, esse refinamento dos mapas é necessário porque os desastres não atingem todas as regiões de uma cidade de maneira uniforme.

“Assim sabemos, por exemplo, onde pode alagar, deslizar ou ocorrer uma enxurrada”, completa.

A lista de municípios leva em conta localidades que já registraram desastres naturais com óbitos entre 1991 e 2022 – ainda não considera, portanto, os efeitos da tragédia gaúcha.

As cidades que se enquadram nesse critério têm as regiões de risco mapeadas e monitoradas de perto a partir de dados históricos compilados, como o volume de chuvas registrado ao longo dos anos.

Estados mais afetados

A Região Sudeste é a mais afetada. Em números absolutos, o estado de São Paulo tem a maior parcela de moradores vulneráveis: são 1,5 milhão de pessoas espalhadas por 172 das 645 cidades paulistas – entre elas São Sebastião e Araraquara, duramente impactadas por chuvas em janeiro e fevereiro de 2023. Minas Gerais, que enfrentou chuvas históricas em 2020, tem 1,4 milhão de moradores nestas condições.

O estado do Rio, por sua vez, tem 81% de seus municípios na lista de risco – 75 das 92 cidades – e 865 mil fluminenses em áreas de vulnerabilidade. Mas a unidade federativa com a maior proporção de moradores nessas condições é a Bahia (17,3% da população total, ou 1,4 milhão), seguida do Espírito Santo (13,8%, 518 mil) e Pernambuco (11,6%, 863 mil).

Segundo o mesmo mapeamento, o Rio Grande do Sul, devastado por temporais que já deixaram 126 mortos e quase desabrigados, tem 313 mil pessoas em situação de risco – ou 4,1% da população gaúcha.

Além de antecipar os locais com maior propensão a tragédias, os dados municiam os alertas do Cemaden, que são repassados para as defesas civis dos municípios e estados em risco.

“No caso do Brasil, um país de dimensões continentais, é preciso ter clareza sobre o que provoca o risco de um deslizamento de terra ou uma inundação em determinada área. A partir do mapeamento e das especificidades de cada local acompanhamos as chuvas, principal variável para deflagrar os desastres naturais. Desde a que caiu de 8 a 96 horas atrás, a que está caindo no presente momento e a prevista para cair adiante”, explica a dirigente do Cemaden.

“Mas a previsão de riscos e desastres e a meteorológica são coisas totalmente diferentes”, observa.

No caso do Rio Grande do Sul, Regina vê um “desastre sem precedentes” nos efeitos das chuvas torrenciais que já afetaram mais de 400 municípios gaúchos.

A diretora pondera que são necessários estudos sobre o impacto da crise climática na tragédia que assola o estado do Sul, mas reconhece a tendência de aumento no número de moradores em áreas de risco de desastres diante do recrudescimento de eventos climáticos extremos – o que, na sua avaliação, demanda mais planejamento do Estado brasileiro.

“A gestão de desastres é diferente da gestão de risco. O desastre já aconteceu e pressupõe ações mais emergenciais e envolve outros eixos de atuação com os quais os municípios no Brasil infelizmente não contam – como planos de contingência, mapeamento de rotas de fuga e abrigos estruturados”, explica Regina.

“O Brasil ainda precisa avançar em aspectos de gestão de risco, a despeito de ter avançado bastante no monitoramento e nos alertas. Mas a gestão fica mais centrada no desastre do que na prevenção e na preparação do desastre”.

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