Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por — São Paulo

A entrada do coach e influencer Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela prefeitura de São Paulo provocou um abalo na campanha à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e deve levar a mudanças de estratégia para garantir a aliança com Jair Bolsonaro. O primeiro efeito deve se dar na na escolha do vice na chapa.

Nunes, que vinha adiando a definição para tentar encontrar um vice que atraísse eleitores mais ao centro, já admite nos bastidores que terá que aceitar o preferido de Bolsonaro, o coronel Ricardo Mello de Araújo (PL), ex-comandante da Rota e ex-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

A questão, agora, é quando fazer isso. Nunes prefere esperar até o último momento, mas talvez não consiga esperar.

Tudo porque Marçal surgiu nas últimas pesquisas de opinião em terceiro lugar poucos dias depois de lançar a pré-candidatura, capturando um eleitorado de direita que Nunes considerava que migraria naturalmente para ele.

Na pesquisa do instituto AtlasIntel divulgada no último dia 28, Marçal tem 10,4% das intenções de voto, atrás de Guilherme Boulos (PSOL), com 37,2%, e de Nunes, com 20,5%.

Em outro levantamento, realizado pelo Datafolha e divulgado no dia 29, o coach está empatado com Tabata Amaral (PSB) na terceira colocação com 9% das intenções de voto em um dos cenários testados.

Pesquisas internas encomendadas pelo PL indicaram que 80% dos eleitores do influencer votariam no atual prefeito se ele não fosse candidato.

Por isso, embora tenha minimizado o desempenho do rival em público, Nunes já manifestou nos bastidores grande preocupação com o impacto de Marçal sobre o eleitorado e o apoio do bolsonarismo à sua campanha.

Aliados como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem defendendo que o prefeito reaja rapidamente, de preferência oficializando Mello como candidato a vice para "amarrar Bolsonaro" a Nunes. "Entendo que, até pela mudança de cenário, é mais importante do que nunca fazer o acerto o mais rápido possível", disse o governador na tarde de segunda-feira.

No núcleo duro da campanha, várias reuniões têm acontecido para discutir mudanças não só na articulação política, mas também no discurso de Nunes, que a ala bolsonarista defende que deveria ser "mais ruidoso" e mais enfático no enfrentamento com Boulos, para mostrar ao eleitor conservador mais engajamento nas causas da direita.

Nunes no 'pedestal'

Um interlocutor próximo de Bolsonaro chegou a dizer que a entrada do candidato do PRTB na disputa é bem-vinda porque pode funcionar como “gatilho” para que Nunes e seus estrategistas “desçam do pedestal”.

Hoje tido como principal fiador do emedebista na corrida paulistana, o ex-presidente chegou a ensaiar um apoio a uma candidatura própria do PL, mas acabou por apoiar Nunes. A condição seria indicar o vice.

Pela legislação eleitoral, a escolha pode ser feita até a data limite para as convenções partidárias, 5 de agosto, e os partidos têm até o dia 15 do mesmo mês para registrar as candidaturas na Justiça Eleitoral.

Nunes pretendia tomar a decisão no último momento. A resistência ao coronel tinha a ver com o temor de que a escolha custasse votos de eleitores centristas e de moradores da periferia por conta do histórico de violência policial da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar paulista.

Mas o ambiente de tensão se intensificou na semana passada depois que seu favorito para o cargo, o secretário de Relações Internacionais da prefeitura, Aldo Rebelo (MDB), decidiu permanecer na pasta e não se desincompatibilizar para tentar viabilizar sua indicação.

A hesitação de Nunes irritou o ex-presidente, que esteve com Marçal na última terça-feira (4) em Brasília para entregar ao coach uma “medalha imbrochável”, espécie de honraria entregue a aliados próximos.

Na mesma data, Bolsonaro negou que o encontro representasse um apoio ao influencer em São Paulo – mas aproveitou a ocasião para alfinetar Ricardo Nunes.

“Já temos pré-candidatos, que são o prefeito Ricardo Nunes e o vice, que é o Mello Araújo. Não disse que não apoio o Nunes”, disse o ex-presidente na ocasião.

O ex-comandante da Rota, por sua vez, não esconde a ambição de ocupar a vice-prefeitura.

“Agradeço sempre a confiança do nosso presidente Jair Bolsonaro por acreditar em mim (sic). Isto não tem preço, independente do que venha a acontecer”, escreveu Mello ao compartilhar no Instagram uma reportagem sobre sua movimentação pelo cargo.

Atualmente a vice-prefeitura de São Paulo está vaga. Isso porque o titular do cargo, Bruno Covas (PSDB), morreu poucos meses após tomar posse para o seu segundo mandato em 2021 em decorrência de um câncer. Nunes, que era seu vice, assumiu a cadeira.

Antes do “efeito Marçal”, o prefeito tentou articular alternativas da órbita do bolsonarismo ao coronel Mello. Além de Rebelo, foram cotadas as vereadoras Sonaira Fernandes e Rute Costa, ambas do PL, a delegada Raquel Gallinatti (PL) e o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos).

Agora com Marçal em seu encalço, Nunes vai ter que reagir se não quiser perder o eleitorado direitista que até outro dia parecia garantido.

Capa do audio - Malu Gaspar - Conversa de Bastidor
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