A ata do Copom quis deixar claro que não houve divergência de diagnóstico entre os diretores do Banco Central: todos acham que há piora da situação internacional e aumento da incerteza fiscal. E todos decidiram não indicar os passos futuros da política monetária. Mas uma parte achava que o risco de “perda reputacional” era muito grande se o BC não fizesse o corte que havia indicado. Na ata anterior havia dito que seria um corte “da mesma magnitude”, e acabou decidindo por um voto de diferença cortar apenas 0,25 ponto percentual.
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“Todos os membros concordaram em que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras para os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas”, disse o Copom acrescentando que "a taxa no final do ciclo tem que ser a que consolide o processo de desinflação, e que no fim concordaram com o firme compromisso de “convergência para a meta”.
Com a ata o BC responde às interpretações de que o grupo dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula seja mais leniente com a inflação. Isso é importante afastar porque esses quatro serão maioria no futuro. Não pode permanecer a ideia de que no futuro o BC vai aceitar inflação mais alta.
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“Os membros do comitê que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março a maio aqui já discutidas. Compartilham ainda do firme compromisso com o objetivo fundamental do atingimento da meta e de reancoragem das expectativas”.
O debate foi sobre o “custo de oportunidade de não seguir o guidance”, ou seja, não realizar o corte que havia sido avisado anteriormente na ata da última reunião. Divergiram sobre “o custo reputacional” de dizer uma coisa e fazer outra, porque isso “poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê.
O custo realmente é importante, dado que a comunicação é parte da política monetária e ajuda a coordenar as expectativas. Mas com essa ata o que o BC quis foi desfazer a impressão de divisão e conflito dentro do Banco Central sobre o maior dos seus compromissos: o de manter a inflação na meta.