Receita de Médico
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Receita de Médico

Um debate sobre pesquisas, tratamentos e sintomas.

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Em novembro próximo, o Rio de Janeiro vai receber a Cúpula de Líderes do G20. É o momento da conclusão dos trabalhos conduzidos pelo país que ocupa a presidência rotativa do grupo — neste caso, o Brasil. Momento também em que se apontam saídas para emergências globais como fome, pobreza e mudanças climáticas. É a hora de estender a mão para quem não tem meios para se defender. E eu não conheço quem seja mais indefeso do que uma criança.

As crianças precisam estar no centro do debate “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, lema do encontro. A construção de um mundo justo nos remete a assuntos também presentes na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável estabelecido na ONU. Organizações sociais brasileiras têm se reunido para dar espaço à infância e adolescência nessas discussões.

O IBGE reuniu indicadores globais para o monitoramento da Agenda 2030 no país, e resultados desse esforço são a “Plataforma ODS Brasil” e o documento “Criando sinergias entre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o G20”. O conhecimento desses dados é fundamental para se cumprir o princípio da agenda: não deixar ninguém para trás. Permite colocar uma lupa na situação de vulnerabilidade dos pequenos, para então combater os problemas.

Segundo esse relatório, o Brasil tem falhado no cumprimento de seus objetivos de desenvolvimento e precisa refazer suas escolhas, principalmente as orçamentárias. Há um perturbador fracasso: metade das crianças brasileiras até 14 anos vive em situação de pobreza, com menos de US$ 2,15 por dia. Nós estamos deixando nossas crianças para trás.

Os primeiros seis anos de vida são uma janela de oportunidade, momento em que ocorrem o amadurecimento cerebral e o desenvolvimento da capacidade de aprendizado. Passar fome e viver traumas nessa fase, em meio a situações de pobreza e vulnerabilidade, são algo alarmante. Como pediatra, sempre me refiro a esse cenário como crucial e muitas vezes irreparável. O cérebro que deixou de se desenvolver nessa idade por falta de proteína nunca mais vai se recuperar.

A pobreza multidimensional, que abrange indicadores relacionados ao trabalho da família, educação, saúde, segurança pública, habitação, saneamento, nutrição e assistência, precisa ser enxergada por nossos líderes. Nossos nobres deputados, por exemplo, deveriam olhar com mais cuidado para suas emendas parlamentares e direcionar melhor esse dinheiro. Crianças não precisam de shows ou eventos, precisam, sim, que suas demandas deixem de ser negligenciadas.

Isso também vale para o nosso Judiciário, tão preocupado em proteger seus ganhos já imensamente diferenciados do resto da população, mas que muito ainda tem a fazer contra a violência que atinge crianças, abusadas aos milhares ou assassinadas pela violência urbana por serem utilizadas no crime organizado. E mesmo aquelas que possuem uma boa estrutura familiar não podem brincar na rua, ou ir a pé para a escola, sem estar em risco.

Então, quando em novembro assistirmos na TV às delegações de estrangeiros do G20 reunidas em hotéis de luxo, visitando um projeto social exitoso ou conhecendo as belezas do Rio de Janeiro, vamos prestar mais atenção às resoluções que saírem dali. Eu desejo verdadeiramente que nos auxiliem a definir um futuro menos sombrio. Precisamos de um compromisso com os meninos e meninas do mundo todo. Daqui até Gaza.

Tenho repetido que uma infância saudável não é uma infância sem doenças, mas um período com condições de bem-estar físico, social, emocional e espiritual para alcançar desenvolvimento e potencial plenos. Todos nós temos um papel a cumprir e contribuir nessa melhora. É isso que vai nos auxiliar a ter próximas gerações funcionais, pensantes, produtivas, inteligentes, fazendo a economia girar em um desenvolvimento sustentável.

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