Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

Como dois detentos, praticamente desconhecidos, conseguiram fugir da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte? O assunto ganha mais peso, uma vez que, na mesma unidade, há criminosos famosos como o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, há 22 anos, numa das celas de sete metros quadrados do presídio. É lá também que estão outros dois bandidos transferidos da capital fluminense: o miliciano Rodrigo dos Santos, o Latrell, e o traficante Elton Leonel da Silva, o Galã, um dos chefes do PCC.

Os primeiros fugitivos a entrarem na história do sistema penitenciário federal, Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, e Rogério da Silva Mendonça, de 35, ambos da facção Comando Vermelho, estavam em celas individuais, divididas por uma parede. Segundo o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, os foragidos conseguiram escapar por conta da falta de planejamento de uma reforma na Penitenciária Federal de Mossoró. Os detentos teriam fugido pelo buraco da luminária. A fuga pôs em xeque a segurança dos cinco presídios federais.

Um dos presos considerados mais perigosos do país é Fernandinho Beira-Mar. Ele foi capturado aos 33 anos, após uma caçada que envolveu mais de 350 militares em área das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc), em meio a plantações de cocaína e laboratórios de refino. Foi preso no dia 21 de abril de 2001, quando era considerado o maior chefe do Comando Vermelho (CV). Ele não resistiu à prisão.

Fernandinho Beira-Mar — Foto: Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Fernandinho Beira-Mar — Foto: Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

Ele foi para a Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, Bangu 1, presídio de segurança máxima do estado do Rio. Não demorou muito, em 11 de setembro de 2002, Beira-Mar comandou uma rebelião, que culminou com a execução de inimigos do CV. Um deles foi Ernaldo de Medeiros, o Uê, um dos fundadores da facção Amigos dos Amigos (ADA). Quatro detentos morreram. Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém ou Celso Russo, também estava lá, mas teria escapado da morte por fingir mudar de lado.

Rogério e Deibson: dupla escapou da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na última quarta-feira — Foto: Reprodução
Rogério e Deibson: dupla escapou da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na última quarta-feira — Foto: Reprodução

Com a construção da primeira Penitenciária Federal, em Catanduvas, no Paraná, Beira-Mar foi um dos que inauguraram as instalações. De lá para cá, já passou pelas unidades federais de Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO). Mesmo preso, ele foi o primeiro a mostrar que havia vulnerabilidade nas cadeias federais. Segundo a Polícia Federal, em 2017, o chefe do tráfico da favela Beira-Mar, no município de Duque de Caxias, no estado do Rio, burlou o sistema de segurança na Penitenciária Federal de Porto Velho, ao se comunicar com cúmplices e até com a família por meio de bilhetes. Ele comandava de dentro de sua cela. O traficante exigia, inclusive, planilhas com a prestação de contas do seu grupo organizado.

O sistema de troca de bilhetes funcionava da seguinte maneira: Beira-Mar escrevia os bilhetes à mão, os dobrava e os amarrava numa linha, que era lançada para a cela ao lado. Proibido de ter visitas íntimas à época, ele mandava as mensagens pela mulher do detento vizinho. A visitante embalava o papel num plástico filme e inseria na vagina, passando pela vigilância. Dessa forma, o traficante mantinha seus negócios a pleno vapor da cadeia.

De acordo com a investigação da PF, à época, a comunicação estendeu-se, pelo menos, de junho de 2015 a maio de 2017. Um exame grafotécnicos nos bilhetes apreendidos pelos agentes federais comprovou que as mensagens foram escritas por Fernandinho Beira-Mar.

Outro traficante de expressão, Elton Leonel da Silva, conhecido como Galã, foi preso aos 34 anos, em fevereiro de 2018. Segundo o delegado Fabrício Oliveira, então titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), responsável pela prisão de Galã, o criminoso é um dos chefes do PCC e principal integrante da facção no Paraguai. Embora sua organização criminosa tenha base em São Paulo, ele foi capturado no Rio, ostentando uma vida de luxo. Vivia num apartamento de alto luxo em Ipanema e circulava com um veículo da marca BMW do ano.

Preso em São Paulo, Latrell tem fuzil tatuado no peito — Foto: Reprodução
Preso em São Paulo, Latrell tem fuzil tatuado no peito — Foto: Reprodução

A milícia também tem seu representante em Mossoró: Rodrigo dos Santos, o Latrell. Ele é braço direito do principal chefe da milícia da Zona Oeste, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho — que se entregou à Polícia Federal e à Secretaria de Segurança Pública, na véspera do Natal passado. Em março de 2022, Latrell foi preso pela Polícia Civil do Rio, que o buscou em São Paulo. Altamente preparado, o miliciano serviu o Exército e era considerado de perfil operacional. Tinha no peito um fuzil tatuado e os dizeres: "carrego a glória e a dor de viver do meu jeito".

Inaugurado em 2009, na cidade que fica a 277 quilômetros de Natal, o presídio tem capacidade para 208 presos em celas individuais. O local é uma reprodução do modelo de unidades de segurança máxima norte-americanas, conhecidas como “Supermax”, conforme descrição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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