True Crime
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Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção

Informações da coluna

Ullisses Campbell

Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”

Por — São Paulo

Uma briga de amor entre dois jovens, ocorrida nos corredores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), foi parar nas barras do tribunal. O estudante Victor Henrique Ahlf Gomes, de 22 anos, entrou com uma queixa-crime contra a ex-namorada, Sophia Namen Aburjaile, de 20 anos, acusando-a de calúnia, injúria e difamação.

A história do ex-casal teve início em 2020, quando ambos ingressaram no Largo de São Francisco, uma das universidades mais prestigiadas e concorridas do país. Trocaram olhares, ficaram juntos e iniciaram um relacionamento sério em 9 de abril de 2021, quando já estavam no segundo ano do curso de Direito. Os dois jovens eram frequentemente vistos juntos pelos corredores da faculdade e trocando beijos apaixonados no salão nobre da instituição e até mesmo em sala de aula. Nove meses depois, apesar das juras de amor eterno, Victor decidiu encerrar o relacionamento, alegando que os pais de Sophia não aceitavam a união. "Os pais dela afirmaram que eu estava interessado na herança da família", relatou Victor.

Logo após o término, iniciaram-se as férias escolares, afastando Victor de Sophia. Ela foi para Belo Horizonte, onde mora sua família, enquanto ele ficou em São Paulo. No dia 15 de março de 2022, com o retorno às aulas, conforme relatado por Victor no processo, Sophia procurou-o querendo voltar. Durante essa conversa, ela perguntou se ele tinha ficado com outras garotas. Também interessado em reatar, o estudante disse ter ficado com outra estudante esporadicamente, mas essa relação não foi caracterizada como namoro, pois não houve relações sexuais entre eles.

Sophia não reagiu bem à "traição" do ex-namorado, já que ela não teria ficado com ninguém. Algumas semanas depois, afirmando ter superado a crise de ciúmes, ela chamou Victor para mais uma conversa por aplicativo de mensagens. De acordo com os prints anexados aos autos, Sophia convidou Victor para jantar no Shopping Higienópolis, sugerindo a possibilidade de reatarem.

Durante o encontro, segundo Victor, os dois selaram a paz e voltaram a namorar. Beijaram-se ardentemente em plena praça de alimentação e na garagem do shopping. Traçaram planos para o futuro, falando em casamento, família e filhos; planejavam envelhecer juntos, apesar de ambos terem vinte e poucos anos. Na semana seguinte, Sophia mudou de ideia. Na faculdade, evitou olhar para o namorado, como consta nos autos do processo.

Segundo relatos de Victor, a partir desse momento, Sophia passou a persegui-lo nos corredores da faculdade, "espalhando mentiras sobre ele". Na versão de Sophia, Victor não foi convidado para jantar coisa alguma. Pelo contrário, ela estava no shopping Higienópolis na noite de 1º de abril de 2022 em um encontro com seus pais. "Ele apareceu lá e interrompeu o programa familiar de forma inconveniente", afirmou a jovem. Ela também acusou Victor de ter apertado seu braço com força após uma aula de Direito do Trabalho I, causando hematomas.

Reclamações na ouvidoria da universidade

A garota contou sua versão do encontro com Victor para amigas, colegas de classe e até em grupos de WhatsApp. Preocupado com sua reputação, ele primeiro registrou uma reclamação na ouvidoria da faculdade, acusando a ex de ferir sua reputação no ambiente acadêmico. Nessa queixa, o estudante pediu providências da USP para fazê-la cessar. Em depoimento à ouvidoria, Sophia confirmou que havia reatado o namoro, mas negou estar difamando Victor. No entanto, a instituição pediu paciência ao aluno e ainda sugeriu que ele entrasse com uma ação judicial. “De todo modo, nada impede que você tome quaisquer outras medidas que entenda adequadas junto às esferas competentes externas à Universidade”, escreveu a professora Ana Elisa Bechara, integrante da Ouvidoria, num e-mail enviado ao estudante em 30 de junho de 2022.

Segundo Victor, a situação se complicou porque sua fama de agressor se espalhou pela faculdade feito fogo em palha seca. Em um grupo de estudo do qual seu melhor amigo fazia parte, duas alunas pediram para sair alegando que não ficariam perto de alguém que convivia com um agressor, no caso o ex- de Sophia. “Victor é possessivo e agressivo, a ponto de machucar meu braço”, contou a garota aos colegas, conforme consta nos autos. “Essa história se propagou pelos corredores da São Francisco, chegando até o local onde faço estágio”, relata o estudante na ação.

Para reforçar a tese de que está sofrendo calúnia e difamação, Victor registrou um boletim de ocorrência (DR2278-1/2022) contra Sophia em 17 de julho de 2022, no qual ele faz o seguinte relato: “Tive notícia, por meio de terceiros de que Sophia, minha ex-namorada e colega de turma do curso de Direito da USP, estava divulgando para os alunos da faculdade que eu a estaria continuamente perseguindo dentro e fora da faculdade, bem como divulgou, posteriormente, que eu a teria agredido em meio à aula, por volta das 10h. Além de inverídicas, tais informações foram divulgadas com indiscutível intuito difamatório e calunioso, causando-me danos morais e psicológicos até hoje, sobretudo na faculdade e em meu estágio”.

Troca de mensagens entre universitários — Foto: Reprodução
Troca de mensagens entre universitários — Foto: Reprodução

Apesar de Victor se dizer perseguido, fica claro nas conversas de WhatsApp trocadas entre o casal que parte da insistência em reatar o namoro é dele. “Foi uma semana inteira beijando a sua melhor amiga, passando a mão no corpo dela, abraçando-a. Muito sem noção”, escreveu Sophia em 16 de março de 2022. “Momento de fraqueza. Eu disse [que foi] a circunstância. Se tivesse significado algo, não teríamos parado”, justificou o rapaz, deixando claro que não transou com a menina. “Se você me amasse, não teria conseguido ficar com ela. De verdade. Eu não conseguiria ficar com ninguém. Podia ser a pessoa mais legal do mundo. É tão óbvio. [...] E não foi um momento de fraqueza porque você ficou com ela durante uma semana inteira”, argumentou Sophia.

Troca de mensagens entre casal — Foto: Reprodução
Troca de mensagens entre casal — Foto: Reprodução

Ele tentou se justificar mais, mas a garota encerrou a conversa: “Eu não tenho mais nada para conversar. Você só fala mentiras. Nem ser fiel você conseguiu ser”. “Eu nunca te traí. Nunca fiquei com ninguém enquanto estive com você. Como você tem audácia de falar que te traí? A única boca que beijei em nove meses de namoro”, disse Victor. Mais adiante, Sophia postou a foto de uma aliança e perguntou: “lembra disso?”.

A partir dessa DR (discussão da relação), a briga de casal acabou nos tribunais, onde Sophia tornou-se ré. Primeiramente, Victor ingressou no Juizado Especial da Capital, localizado no Fórum Central da Barra Funda. Considerado o maior tribunal da América Latina, este complexo judiciário trabalha sobrecarregado. Recebe, em média, 12 mil novas ações por mês.

Inicialmente, a ação de Victor contra Sophia estava tramitava no Juizado Especial Criminal Central, onde atualmente estão em tramitação 3.527 ações. Entretanto, o juiz Fabricio Reali Zia decidiu que a vara especial não é a mais apropriada para julgar esse tipo de ação e transferiu o processo para uma vara criminal comum, onde o volume de processos é consideravelmente maior. De acordo com os dados mais recentes da Corregedoria Geral da Justiça, o Fórum da Barra Funda tem um total de 101.814 processos em andamento nas 31 Varas Criminais comuns.

Caso vença a ação penal contra a ex-namorada, Victor já afirmou que planeja ingressar na esfera cível para tentar obter de Sophia uma indenização que compense as dores morais causadas pela sua ex-parceira em sua reputação.

Sophia foi contatada, mas não respondeu às mensagens do blog.

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