Da guerra ao Oscar: conheça a história real do iate de luxo usado no filme 'Triângulo da tristeza'

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Mas a própria história da embarcação, que completa 80 anos de atividade em 2023, renderia um filme. De navio militar, lançado ao mar em plena Segunda Guera Mundial, a iate de luxo, que tinha como dono o magnata grego Aristóles Onassis e transportava, em cruzeiros pelo Mediterrâneo, as maiores celebridades dos anos 1950, 60 e 70, como Marilyn Monroe, Frank Sinatra, Maria Callas e Jacqueline Kennedy Onassis.

No longa de 2022, indicado nas categorias de Melhor Filme, Direção e Roteiro Original deste ano, a embarcação não tem um final dos melhores. Mas no mundo real, o Christina O. é um dos superiates de luxo mais tradicionais ainda em atividade e está disponível para locação. Para se ter uma ideia, para reservar a embarcação, através de empresas especializadas, é preciso pagar pelo menos 700 mil euros (cerca de R$ 3,8 milhões) por semana.

Com 99 metros de comprimento, o superiate comporta até 34 hóspedes, distribuídos em 17 cabines, e uma tripulação de até 38 profissionais. Mas é possível reunir até 157 passageiros de uma vez só, desde que nem todos fiquem para dormir. Só o restaurante principal consegue acomodar 42 comensais, para se ter uma ideia do tamanho.

Entre as atrações a bordo se destaca a piscina principal, que tem em seu fundo o emblema de Aristóteles Onassis - em dias de festa, ela pode ser drenada e ter o fundo levantado, para formar uma pista de dança. Há ainda uma super banheira de hidromassagem na parte traseira, um bar onde já se sentaram Winston Churchill e John Kennedy, uma biblioteca toda em madeira e um salão para concertos batizado com o nome de Maria Callas, que esteve inúmeras vezes a bordo para se apresentar ou apenas para se divertir.

As reformas mais recentes (a última foi em 2020) incluíram serviços mais contemporâneos, como um spa, uma academia e "briquedos", como jet skis e propulsores para Flyboard, além de um sistema poderoso de Wi-Fi a bordo.

O início da trajetória do Christina O. no entanto, está bem longe de ser glamouroso. A embarcação foi construída originalmente como uma fragata antisubmarino da Marinha do Canadá, e começou a operar em plena Segunda Guerra Mundial. Com o nome de HMCS Stormont, participou, por exemplo, do Desembarque da Normandia. Na ocasião, a embarcação foi destacada como escolta para os navios que levavam as tropas dos Aliados para o Norte da França.

Após o término do conflito, o Stormont foi colocado à venda como sucata. No começo dos anos 1950, Aristóteles Onassis também enxergou a fragada como uma arma, não de guerra, mas para os negócios. Arrematou o navio e investiu pesado para transformá-lo num luxuoso iate, batizado com o nome de sua filha Christina.

Da antiga fragata, apenas a estrutura foi aproveitada. O interior foi completamente reformulado, com salões sociais surgindo no lugar dos centros de comando militar. O projeto do arquiteto Cäsar Pinnau deu a cara atual do iate e estabeleceu um padrão que é seguido até hoje por embarcações deste tipo.

Da mesma forma, Onassis criou o estilo de vida que magnatas copiam até hoje, onde festas em alto mar ocupam um lugar central. Entre 1954, quando a transformação foi concluída, e 1975, ano de sua morte, o empresário grego usou seu superiate para se tornar uma figura ainda mais influente. De astros de Hollywood, como Elizabeth Taylor e John Wayne, a políticos, como Kennedy, Churchill e Eva Perón, passaram a ser figurinhas fáceis nos deques do Chrtistina O. Uma das recepções do casamento de Rainier III, príncipe de Mônaco, com Grace Kelly aconteceu a bordo do iate.

Após a morte de Onassis, em 1975, o iate passou para as mãos de sua filha Christina, e não da viúva Jackie Onassis, que, inclusive, havia escolhido a paleta de cores empregada nas cabines de passageiros. A herdeira do magnata, no entanto, não se interessou em manter a embarcação e a doou para o governo grego, para que fosse usado como iate presidencial. Um presente que não foi tão bem visto pelo partido que estava no poder à época.

Agora propriedade estatal, o Christina O. foi rebatizado para Argo e, aos poucos, foi perdendo o glamour. Alguns símbolos mais ligados a Onassis e a seu estilo de vida opulento, como o emblema do fundo da piscina, foram retirados. Nos anos 1990, o governo grego tentou vender a embarcação algumas vezes, até que, em 1998, ela foi arrematada por outro magnata dos negócios helênico. John Paul Papanicolaou era um antigo amigo da família Onassis e viu ali a oportunidade de resgatar os anos dourados do navio.

Durante a reforma, que levou dois anos, o navio foi comprado pela Christina O. Limited Partnership, empresa que administra os bens deixados por Christina Onassis, morta em 1988. Com um visual parecido com o dos tempos áureos, o iate voltou aos mares em 2001, já como uma embarcação para fretamento. E, agora, também como set de filmagem.

O Christina O. aparece bastante em "Triângulo da tristeza". As cenas externas, que mostram os personagens no deque de madeira, tomando sol nas espreguiçadeiras ou na piscina foram gravadas no próprio navio. Já as internas, que mostram cabines, salões e restaurantes, foram rodadas num estúdio na Suécia. Nada mais distante da paisagem do Mar Mediterrâneo que marca o visual do filme.