O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS), afirmou, no início da noite desta quinta-feira (2), que chegou a 29 o número de mortos por consequência das chuvas que atingem todo o território gaúcho há quatro dias. Ao menos 60 pessoas seguem desaparecidas. As declarações foram dadas durante uma coletiva de imprensa em Porto Alegre.
— Infelizmente sabemos que esses números vão aumentar. Temos 60 desaparecidos registrados e mesmo esse número tende a ser maior. Sabemos que há pessoas desaparecidas em lugares inacessíveis — disse Eduardo Leite.
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O governador fez ainda um apelo para que as pessoas atendam o chamado e busquem locais seguros: longe de áreas de alagamento apontadas pela Defesa Civil.
— O meu dever aqui, como governador, é fazer com que as pessoas compreendam que a situação que estamos vivendo é absurdamente excepcional. É o momento mais crítico que o estado terá registro na sua História — acrescentou. — É impossível atendermos todos os resgates com as condições climáticas que estamos vivendo.
Balanço
- Municípios afetados: 154
- Pessoas em abrigos: 4.645
- Desalojados: 10.242
- Afetados: 71.306
- Feridos: 36
Mortes: 29 vítimas
- Canela (2)
- Candelária (1)
- Caxias do Sul (1)
- Bento Gonçalves (1)
- Boa Vista do Sul (2)
- Paverama (2)
- Pantano Grande (1)
- Putinga (1)
- Gramado (4)
- Itaara (1)
- Encantado (1)
- Salvador do Sul (2)
- Serafina Corrêa (2)
- Segredo (1)
- Santa Maria (2)
- Santa Cruz do Sul (2)
- São João do Polêsine (1)
- Silveira Martins (1)
- Vera Cruz (1)
Desaparecidos: 60 pessoas
- Candelária (8)
- Encantado (6)
- Itaara (3)
- Lajeado (5)
- Passa Sete (1)
- Pouso Novo (1)
- Roca Sales (10)
- Santa Cruz do Sul (1)
- São Vendelino (2)
- Sinimbu (1)
- Marques de Souza (13)
- Montenegro (1)
- Teutônia (3)
- Três Coroas (3)
- Travesseiro (2)
Guaíba pode chegar a elevação recorde de 5 metros
Durante o comunicado à imprensa, o governador Eduardo Leite afirmou ainda que há expectativa por parte de especialistas do governo de que o nível de elevação do Lago Guaíba chegue a 5 metros, o que seria um recorde absoluto — com reflexos diretos na capital Porto Alegre.
— O Guaíba já está em 3,36m e subindo 8cm por hora. Ou seja, nessa madrugada ele já vai chegar a 4m, um patamar que nunca vimos. No monitoramento do Guaíba, nossa equipe já fala em 5 metros. Seria maior que a enchente de 1941 — disse Leite. — É muito grave, é muito crítico o que estamos vivenciando. Sem ser alarmista, não é para ter pânico, mas preciso que as pessoas estejam com senso de urgência.
Ainda segundo o governador, o ponto mais crítico se concentra na região do Vale do Taquari. Por lá, já são mais de 160 pontos georreferenciados, segundo ele, em que grupos de pessoas pediram ajuda e aguardam por resgate. Ao todo, até agora, em todo o estado, 4.600 pessoas foram salvas pelas equipes de socorro.
'Estou devastado', diz governador
Leite agradeceu ainda pela ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao estado gaúcho nesta quinta-feira — "poupa a necessidade de várias ligações" — e disse que os dois alinharam ações de apoio e estrutura para resgates neste primeiro momento e para reconstrução e busca da normalidade num segundo momento.
— Como ser humano, estou devastado por dentro, como todos os gaúchos, mas como governador estou aqui firme.
'Não vai faltar dinheiro', garante Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Rio Grande do Sul, nesta quinta-feira, e disse que o governo federal não medirá esforços para apoiar financeiramente o estado neste momento de crise.
— Não faltará, por parte do governo federal, ajuda para cuidar da saúde, não vai faltar dinheiro para cuidar da questão do transporte, dos alimentos, tudo o que tiver ao alcance. Seja através dos ministros, da sociedade civil ou dos nossos militares. Vamos dedicar 24 horas de esforço para que a gente possa atender as necessidades básicas do povo que está isolado por causa das chuvas — afirmou o presidente.
Lula disse ainda que irá "rezar muito" para que as chuvas parem.
— Eu sei que são muitas estradas, muitas pontes, muitas casas... lamentavelmente a gente só não vai conseguir prometer recuperar as vidas das pessoas, porque não está ao nosso alcance, mas a gente vai tentar minimizar o prejuízo de todas as pessoas — acrescentou. — Como ser humano, eu vou rezar e rezar muito para que a chuva possa parar, que as pessoas possam voltar às suas casas e possam se reencontrar, viver suas vidas tranquilamente. Como governante, vou fazer o que estiver ao alcance do governo federal e suas instituições, para que a gente possa dar ao Rio Grande do Sul e ao povo gaúcho tranquilidade para que se possamos viver com muito respeito e cuidando das nossas famílias.
Barragem colapsa
No início da tarde desta quinta-feira, o grande acumulado de chuva provocou o rompimento da Barragem da Hidrelétrica 14 de Julho, localizada entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, levando à evacuação de moradores da região pela Defesa Civil. Há ainda risco iminente em outras cinco barragens — com aviso e retirada de moradores — e o estado monitora, ao todo, 13 estações.
Também na noite desta quinta-feira, o secretário-chefe da Casa Civil do RS, Artur Lemos, comentou sobre a ação na barragem que colapsou. Ele contou que o estado, sabendo do risco iminente de colapso, tentou fazer uma operação durante amanhã para abrir as comportas, mas não foi possível, já que era necessária uma manobra manual com técnicos içados em helicópteros e o clima não permitia tal movimento.
— Não parou de chover e houve o rompimento da ombreira direita da barragem, formando uma onda de 2 metros inicial, que teve reflexo mais abaixo. Mas tivemos tempo e conseguimos que, no curso da água que desceu, não tivéssemos nenhuma vida humana ocupando essas zonas de risco. O rompimento aconteceu no lado oposto às comportas, ainda vamos tentar abrir novamente, para evitar um colapso total da barragem — disse Lemos.
O governo estadual decretou, nesta quarta-feira, estado de calamidade pública, com validade de 180 dias, que estabelece que os órgãos e entidades da administração pública estadual devem prestar apoio imediato às áreas afetadas, em estreita colaboração com a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil. O texto também prevê a possibilidade de os municípios afetados solicitarem auxílio semelhante, cujas solicitações serão avaliadas e homologadas pelo Estado, garantindo uma resposta ágil e coordenada diante da emergência.