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Por — São Paulo

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GERADO EM: 26/06/2024 - 17:31

Confrontos entre facções no Ceará

Facções criminosas disputam território no Ceará, resultando em confrontos violentos e mortes, inclusive de crianças e adolescentes. A guerra entre Massa Carcerária e Comando Vermelho destaca a posição estratégica do estado para o crime organizado.

Tomado por sete facções criminosas ligadas ao narcotráfico, o Ceará viveu cenas de barbárie na última semana. Uma chacina em praça pública em Viçosa, no interior, deixou oito mortos na madrugada de quinta-feira. Na noite seguinte, uma mulher e uma criança de 10 anos foram assassinadas a tiros num campo de futebol no Bairro Barroso, a Areninha, em Fortaleza. Pelo menos outras oito vítimas entre 8 e 16 anos foram baleadas.

Os suspeitos do ataque são integrantes do mais recente grupo criado no estado, conhecido como Massa, Massa Carcerária ou Tudo Neutro (TDN). Assim como outros criminosos do bando, tratam-se de ex-integrantes da facção fluminense Comando Vermelho (CV) que, insatisfeitos com a organização forasteira, "rasgaram a camisa", no jargão do crime. Ou seja, criaram uma nova quadrilha, com códigos de conduta próprios. No atentado no campo de futebol, disputavam território de venda de droga com o próprio CV.

Roberto Sá, secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará, atribui ao acirramento da guerra entre facções criminosas a onda atual de violência. Na opinião dele, o número elevado de organizações que disputam o narcotráfico no estado, somado aos grupos dissidentes, acentua o conflito — ao todo, segundo Sá, são cinco facções reconhecidas e duas formadas por rebeldes.

— Não há nada racional, nenhuma justificativa para que alguém atire em crianças e adolescentes. Mas, infelizmente, ouço relatos aqui na região de que os criminosos têm essa característica: de chegar para fazer a execução de um alvo e, se esse alvo não está, não perder a viagem — descreve Sá. — Sabemos que é uma forma de demonstração de poder e para afetar a moral do outro grupo.

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Pela localização privilegiada, o Ceará é estratégico para o crime organizado. Além de mais próximo da Europa e da África, tem dois portos (Pecém e Mucuripe), o que facilita a exportação de drogas. Interessadas também nessa logística, o CV e Primeiro Comando da Capital (PCC) fincaram raízes ali. A organização fluminense chegou em meados dos anos 1980 e, na década seguinte, vislumbrou o potencial do Nordeste para o escoamento da cocaína que vinha da Bolívia e da Colômbia.

Já a facção paulista aportou mais tarde, em 1990, tempos em que seu principal negócio ainda não era o tráfico de drogas. O foco eram as empresas de transporte de valores. Dois assaltos vultosos indicam a chegada: à Corpvs, em 1999, e à Nordeste Segurança de Valores (NSV), em 2000. Ambos tiveram a participação de quem viria a ser a autoridade máxima do PCC: Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

O sociólogo Artur Pires, membro do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisa as facções em seu doutorado. Ele relata que, apesar da presença anterior de integrantes das organizações criminosas do Sudeste, o Ceará passou pelo processo de faccionalização, de fato, em 2015, quando os grupos começam "a ter uma atuação mais intensiva e ostensiva".

— Isso tem relação com o aumento da repressão no Sudeste, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a invasão do Jacarezinho (chacina desencadeada por uma operação policial) no Rio. Gerou um movimento dentro dessas facções de expansão para outros mercados no Norte e Nordeste — afirma Pires.

Outro propulsor para a migração foi a disputa pela fronteira com o Paraguai, importante produtor de maconha e entreposto da cocaína dos países andinos. Em junho de 2016, PCC e CV fizeram uma espécie de consórcio milionário para matar o traficante brasileiro Jorge Rafaat Toumani na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, divisa com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Conhecido como Rei da Fronteira, ele era na época o principal empecilho para o crescimento do PCC no país vizinho. Depois da morte, a relação das facções do Sudeste azedou e teve início a expansão para outros territórios e rotas, resultando numa matança em presídios e também nas ruas.

Até 2016, as facções conviviam numa espécie de armistício não declarado também no Ceará. Não havia disputas territoriais e conflitos em torno da expansão nas prisões e nas comunidades. Naquele mesmo ano, o estado viu nascer uma organização criminosa própria, a Guardiões do Estado (GDE), cujo mote era resistir à expansão dos bandos forasteiros na tentativa de garantir a hegemonia do crime. O grupo rapidamente se espalhou nas periferias. Chamava atenção pela juventude de seus integrantes e pelos métodos violentos.

Em outubro de 2016, num reflexo do racha nacional entre PCC e CV, os grupos deram início a uma guerra armada, com aumento de assassinatos e chacinas. Para expandir sua atuação no Nordeste, o PCC deixou de exigir um padrinho para batizar novos integrantes, assim como a cobrança da mensalidade obrigatória aos membros, a chamada “cebola”, na época algo em torno de R$ 700. Como resultado, 2017 teve um pico de mortes violentas no estado, que refletiu inclusive nas estatísticas nacionais. Foi o ano mais letal da história do Brasil.

'Rasgar a camisa'

Pires explica que o estado constante de guerra foi demais até mesmo para criminosos já habituados à barbárie. Em 2021, começou a surgir nas periferias o discurso da neutralidade: "Não pertencemos mais a nenhuma facção, estamos rasgando a camisa", avisavam.

— Houve um processo tão intenso de chacinas e vinganças que deve ter dado uma sobrecarga emocional nessas pessoas. Tenho como hipótese que houve um desgaste emocional, e eles começaram a romper — diz o sociólogo Artur Pires..

Uma decisão da Vara de Delitos de Organizações Criminosas, do Tribunal de Justiça do Ceará, atesta que a desavença que inaugurou a Massa Carcerária ocorreu depois da prisão de Max Miliano Machado da Silva, em fevereiro de 2021. Conhecido como Pio ou Gordão, Silva era número 1 do CV no Ceará, mas estava desagradando chefes do município de Caucaia, que contavam com uma tropa local fiel. Com a prisão e o enfraquecimento de Silva, os insatisfeitos começaram a “entregar suas camisas”. "Ou seja, decidiram sair da mencionada ORCRIM, assumindo o controle de suas respectivas áreas, se autointitulando 'Massa Carcerária', 'Massa Criminosa' ou 'Neutro'”, diz um trecho da sentença do último dia 5 de junho, obtida pelo GLOBO.

Acomodação de forças

Nos anos seguintes ao auge das mortes, o Ceará figurou como o estado que mais reduziu as mortes violentas intencionais no país. O pesquisador Luiz Fábio Paiva, do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, atribui a queda a tréguas pontuais entre as facções, ou a "uma reacomodação das forças do crime". Ele enfatiza que esses movimentos pendulares de guerra e armistício são comuns.

— Acho importante pontuar que não estamos lidando com fenômeno inédito, mas com algo que acontece de maneira periódica pelo menos desde 2016 — disse Paiva. — Há uma disseminação da ideia de que os homicídios podem ser usados como acerto de contas. É um método naturalizado. Temos homicídios causados por trivialidade, como o cara cismar com alguém ou ter uma dívida de 10 reais.

O pesquisador ressalta que esses grupos criminosos, que no início atuavam com mais força na capital, têm se expandido também no interior. E isso tem levado a um fenômeno da interiorização dos homicídios.

— A situação do interior é especialmente preocupante. A capital tem certa estrutura de serviços de segurança, de proteção social. Por mais precário que seja, tem apoio institucional que garanta uma reação a essas situações. No interior, não há esse mesmo suporte. Os grupos alcançaram as cidades do interior e estão produzindo ações violentas gravíssimas, e desafiam o Estado — ponderou.

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