O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) informou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que estão paralisadas todas as investigações abertas para apurar possíveis desvios éticos a médicos que realizaram abortos legais no estado.
Até esta semana, a entidade mantinha processos abertos contra ao menos dez profissionais que realizaram o procedimento à vítimas de estupro no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, localizado na capital do estado.
A manifestação ocorre após Moraes determinar, na terça-feira, que o Cremesp deveria comprovar que cumpria a decisão cautelar do STF, que vetou a punição de médicos que realizassem a interrupção de gravidez acima de 22 semanas de gestação. O conselho regional pediu uma audiência com o ministro.
Sobre as investigações na maternidade da capital paulista, o Cremesp afirmou ao Supremo que os procedimentos "ultrapassam as questões da Resolução CFM 2.378/2024, que sequer existia à época dos fatos apurados, de assistolia fetal e do Programa Aborto Legal, compreendendo outras imputações éticas aos denunciados, que em nossa análise merecem prosperar, sob pena de perder-se a chance quanto à apuração de graves condutas éticas e criminais".
Em maio, Moraes atendeu a um pedido do PSOL e suspendeu a resolução do CFM que proibia a utilização de uma técnica clínica (assistolia fetal) para a interrupção de gestações acima de 22 semanas decorrentes de estupro.
A técnica utiliza medicações para interromper os batimentos cardíacos do feto, antes de sua retirada do útero, e é considerada essencial para o cuidado adequado ao aborto.
De acordo com o partido, a proibição feita pelo CFM restringiria, “de maneira absolutamente discricionária”, a liberdade científica e o livre exercício profissional dos médicos. Argumenta, ainda, que a resolução, na prática, submete meninas e mulheres à manutenção de uma gestação compulsória ou à utilização de técnicas inseguras para o aborto, “privando-as do acesso ao procedimento e à assistência adequada por vias legais, submetendo-as a riscos de saúde ou morte”.
A decisão de Moraes começou a ser analisada no plenário virtual do STF, mas o julgamento foi interrompido por um pedido de destaque do ministro Nunes Marques, o que leva o caso para o plenário físico. Antes, André Mendonça já havia divergido da posição do relator.