SOS Rio Grande do Sul
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Por — Rio de Janeiro

Com o baixar das águas, o cenário de destruição no Rio Grande do Sul impõe ao estado o desafio de manter a queda nas taxas de criminalidade registrada nos últimos anos. Os efeitos dos temporais — que impactaram desde a infraestrutura local até a economia — na segurança pública preocupam especialistas, que temem a possibilidade de um aumento significativo dos índices nos próximos meses, assim como já ocorreu em outras tragédias de largo impacto pelo mundo. Nos dias seguintes à inundação, diferentes pontos do território gaúcho registraram relatos de saques, arrombamentos e outros delitos, e agentes de outros estados foram enviados para apoiar a contenção à onda de crimes.

O principal exemplo citado por estudiosos do tema é o da cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005. Após os estragos provocados pela passagem do furacão Katrina, as forças de segurança americanas não conseguiram conter a explosão de violência no período posterior ao desastre, o que provocou o agravamento do colapso humanitário.

Os registros de roubo no Rio Grande do Sul vêm diminuindo anualmente desde 2017. A despeito de um leve repique no pós-pandemia, o número de homicídios computados em 2023 também caiu quase pela metade na comparação com o mesmo ano, segundo dados da Secretaria estadual da Segurança Pública.

Em maio de 2024, primeiro mês inteiramente afetado pelo efeito das chuvas, o total de roubos e de assassinatos no estado recuou 69% e 24%, respectivamente, diante do mesmo período do ano anterior. A principal preocupação, porém, é com os efeitos no médio prazo, uma vez que, neste primeiro momento, há uma tendência de queda na criminalidade devido aos freios de circulação impostos pela inundação em si.

— Fica mais caro praticar o crime com essa complicação na mobilidade urbana. É mais difícil até de fugir — explica o professor Cristiano Oliveira, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). — Existe também a possibilidade de subnotificação dos registros. Ocorreram muitos arrombamentos e saques de residências e estabelecimentos comerciais. Pode ser que as denúncias venham agora que a população está voltando para casa.

O especialista avalia que a continuidade do cenário de perda da renda e desaceleração no comércio tende a provocar o aumento da criminalidade nos meses seguintes às chuvas. No caso do Rio Grande do Sul, a piora econômica impacta diretamente na atuação de diferentes facções criminosas regionais, que passam a buscar novos modelos de arrecadação e entram em confronto com outras quadrilhas pelo controle dos territórios para venda de drogas.

— Com o aumento do desemprego, a criminalidade também tende a crescer. As facções buscam cumprir as metas, mesmo com a queda nas vendas de droga derivada da queda na renda. O roubo de cargas é uma das práticas adotadas — pontua Oliveira.

Moradores e voluntários denunciaram ameaças das organizações criminosas em meio ao resgate das vítimas das enchentes. No início de maio, o surfista Pedro Scooby, que viajou para a região para auxiliar no socorro, afirmou que as facções cercearam o trabalho de apoio e dificultaram a retirada de pessoas de áreas atingidas.

O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Sandro Caron, afirmou ao GLOBO que “não se deve trabalhar com especulações” ou comparar a situação no estado com a de outras tragédias, e disse que a pasta está confiante que a tendência de queda na criminalidade será mantida.

— O momento mais difícil para os agentes de segurança foi em maio, quando tivemos que atender a demanda normal das cidades não alagadas e atuar nos resgates. Os indicadores de junho aparecem baixos e estamos atuando com contramedidas para evitar o aumento de crimes patrimoniais, e com investigações para enfraquecimento de grupos criminosos — aponta Caron.

Mobilização nacional

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, desde o início dos temporais, mais de 1.500 agentes de todos os estados e do Distrito Federal estiveram no Rio Grande do Sul para auxiliar as forças de segurança gaúchas. Ao longo desta semana, 521 servidores do Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins permaneciam no estado, além de 267 homens da Força Nacional. O efetivo extra de quase 900 agentes cedidos ao Rio Grande do Sul equivale, por exemplo, ao de um batalhão de grande porte da PM do Rio de Janeiro, estado conhecido como um dos mais conflagrados do país.

O estado também precisa lidar com a exaustão física e mental dos agentes de segurança, ressalta o professor Cristiano Oliveira. Assim como grande parcela da população, os policiais também foram vítimas dos efeitos da enxurrada, o que dificulta a efetividade da segurança pública caso não haja reforço contínuo. Diante deste cenário, o especialista defende a presença das Forças Armadas para auxiliar o efetivo policial do Rio Grande do Sul.

O fluxo migratório e a possibilidade de acomodação da população em locais provisórios e distantes de moravam são outro fatos que pode contribuir para uma eventual escalada da criminalidade posterior à tragédia. Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Escola de Direito da PUC-RS, Rodrigo Azevedo destaca a necessidade de policiamento extensivo e execução de políticas de reassentamento dos desabrigados.

— É preciso manter as pessoas o mais próximo de onde elas residiam antes das enchentes. A população precisa ter segurança, acesso ao transporte público e às escolas — aponta o pesquisador.

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