Artes visuais
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Por Nelson Gobbi


Iole de Freitas diante da instalação 'Colapsada, em pé', que dá título à mostra no Instituto Tomie Ohtake, horas antes de queda ao gravar vídeo com o neto, Bento Dias — Foto: Maria Isabel Oliveira
Iole de Freitas diante da instalação 'Colapsada, em pé', que dá título à mostra no Instituto Tomie Ohtake, horas antes de queda ao gravar vídeo com o neto, Bento Dias — Foto: Maria Isabel Oliveira

No último sábado, Iole de Freitas inaugurou a exposição “Colapsada, em pé”, título da instalação monumental montada no grande hall do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, de forma inusitada: internada desde a véspera, por conta de uma queda durante a gravação de um vídeo no local, também projetado na mostra, a artista de 78 anos falou ao público presente por meio de uma videochamada. O acidente, ocorrido na sexta-feira, encerrou um dos registros em que Iole cria, de improviso, uma coreografia com o neto, o ator e dançarino em formação Bento Dias, de 20 anos, no interior do próprio Tomie Ohtake. Os vídeos exibidos na mostra remontam à sua formação inicial, de bailarina, incorporada posteriormente nos primeiros anos de sua produção, na década de 1970, por meio de performances e trabalhos de body art. O caráter retrospectivo está presente ainda em outra exposição sua em cartaz até setembro no Instituto Moreira Salles (IMS), “Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença”, com três instalações, 16 sequências fotográficas e nove filmes em filmes Super 8 mm e 16 mm.

— Sempre busquei essa relação vigorosa entre arte e vida no meu trabalho, mas agora levei um pouco mais além — brincou Iole ontem, por telefone, de seu quarto no hospital, onde aguarda receber alta. — Quando comecei a criar a instalação para a mostra, pedi para minha filha, Rara (Dias), me filmar fazendo alguns movimentos no ateliê, que iria usar como um esboço para as formas. Quando percebi que poderia incorporar esses movimentos ao trabalho, 50 anos depois das minhas primeiras performances, foi uma alegria retomar essa linguagem que lida com meu corpo e outros objetos do mundo, como os criados para a exposição.

O fato de o neto estudar dança também estimulou Iole a trazer seu corpo de volta ao centro do trabalho.

— Queria improvisar os movimentos, criando uma relação com o espaço e as obras, e o resultado também parte dessa ligação afetiva. O Bento tem uma extrema sensibilidade, de antever como eu iria me movimentar. Inclusive na hora da queda, que ficou registrado no vídeo, ele aguarda que eu perceba meu corpo e me levante, e me estende a mão — comenta Iole. — Era um afeto no nível pessoal que, após esse trabalho, se transformou também em afeto na linguagem artística. E isso não tem preço.

A instalação 'Colapsada, em pé', em outro ângulo, no Tomie Ohtake — Foto: Maria Isabel Oliveira
A instalação 'Colapsada, em pé', em outro ângulo, no Tomie Ohtake — Foto: Maria Isabel Oliveira

Com a exposição no Tomie Ohtake e a do IMS, com curadoria de Sônia Salzstein, Iole tem a oportunidade de rever sua trajetória nos 50 anos de sua primeira individual, realizada em 1973, na Galeria II Diagramma, em Milão, onde morou no início dos anos 1970, trabalhando como designer da Olivetti. A própria instalação “Colapsada, em pé” traz em si o caráter retrospectivo, uma vez que foi construída com peças de outras obras realizadas nos últimos 25 anos, que estavam desmontadas em seu ateliê, no Rio.

— Mesmo nas obras em filme expostas no IMS, que estão entre os meus primeiros trabalhos, já há esta investigação do movimento, que levei durante as décadas seguintes. Costumo dizer quando converso com jovens artistas que nós, quando muito, vamos conseguir falar de uma questão a vida inteira. E já está muito bom — reflete Iole. — Estes movimentos passaram, posteriormente, para as esculturas e instalações, que são como essas ações congeladas no espaço. Por isso, quis reaproveitar partes de obras antigas, mas sem mascarar a passagem do tempo. É como se este arco estivesse se fechando agora.

Imagens da sequência fotográfica "Glasspieces, life slices", criada em Milão, 1975, em carta na mostra do IMS — Foto: Divulgação
Imagens da sequência fotográfica "Glasspieces, life slices", criada em Milão, 1975, em carta na mostra do IMS — Foto: Divulgação

Curador-chefe do Instituto Tomie Ohtake, que assina a mostra de Iole, Paulo Miyada começou a conversar com a artista há cerca de dois anos sobre a exposição, e concebeu o título ao ver no chão do ateliê as partes das obras antigas recuperadas, reerguidas em uma nova instalação.

— Na maior parte da vida institucional, mostras desse tipo sempre partem de um conjunto já existente ou que o artista já está trabalhando. Mas Iole, desde o início, já falava em partir do zero, de abrir uma nova frente de trabalho. Dali foi surgindo uma forma que parecia um tsunami, com o qual ela enfrentou o desafio de ocupar a arquitetura do instituto — recorda Miyada. — Depois fomos incorporando estes fragmentos em vídeo, o que gerou mais uma camada temporal à exposição, relacionada às performances do início de sua carreira. O título remetia ao processo de criação da obra, e também tinha um sentido metafórico, dos seguidos colapsos que vivemos. O acidente criou, involuntariamente, uma nova relação com o título, de forma poética, em que, no vídeo, vemos o cair e levantar, com a Iole e o Bento terminando juntos, de pé.

Olhando em retrospectiva para as cinco décadas de carreira, Iole reflete sobre como investigou o corpo ao longo do tempo, tanto o próprio, utilizando-o em sua produção, quanto o de obras escultóricas e instalativas, criadas a partir da segunda metade da década de 1970:

— Penso nisso desde os meus tempos de designer, a relação entre os nossos corpos e os corpos das coisas, os que criamos. As obras antigas, desmontadas, são como se fossem partes de corpos guardados, que posso remodelar agora. Isso também me faz pensar na nossa relação com a natureza, com esse fio condutor que liga todas as coisas que existem, e que só nós, humanos, temos a rebeldia de não nos acharmos conectados ao todo.

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