Cora Rónai
PUBLICIDADE
Cora Rónai

Jornalista e escritora.

Informações da coluna

Cora Rónai


'A casa do dragão' — Foto: Divulgação
'A casa do dragão' — Foto: Divulgação

Olhando rápido, parece “Game of Thrones”: cenários grandiosos, figurinos de inspiração medieval, longas tranças platinadas, sombras intensas, sangue, espadas desembainhadas. Ouvindo por alto, também parece: música semelhante, acordes que começam familiares mas logo se desmancham, gritos, espadas desembainhadas. No fim, assim que os créditos sobem na tela, o velho tema volta numa nova versão com coral e tudo, e confirma: sim, claro, é “Game of Thrones”, lógico que é, o que vocês estavam esperando?

É, pois é. Como todo mundo, eu também estava esperando “Game of Thrones”, mas o primeiro episódio de “A Casa do Dragão” me deixou um pouco desapontada. O visual continua um espetáculo, os atores são ótimos, a produção é superluxuosa e cuidada nos mínimos detalhes, os dragões são perfeitos (quando mostrados em plano americano; em corpo inteiro revelam coxas esquisitas que lembram coxas de frango).

Está tudo lá, mas não está.

“Game of Thrones” foi uma das melhores séries de todos os tempos. Entre abril de 2011 e maio de 2019 criou uma comoção planetária digna de Copa do Mundo, sendo assistida, em sua última (e decepcionante) temporada, por 44 milhões de pessoas espalhadas pelos seis continentes. O que segurou tanta gente junta foi, em última análise e numa só palavra, emoção — justamente o que faltou ao primeiro episódio de “A Casa do Dragão”.

Sei que não é justo comparar o final de uma história contada ao longo de oito anos com o início de uma nova história, mas o fato é que o primeiro episódio de “A Casa do Dragão” não se compara, em termos de ação e de dramaturgia, com o primeiro episódio de “Game of Thrones”. Tornei a assisti-lo para ver se não estava sendo traída pela memória, e percebi que, ao contrário, já não me lembrava mais de como “O inverno está chegando” era excelente.

O episódio de estreia de “A Casa do Dragão” fez muita questão de mostrar que teremos mais do mesmo. Há uma carnificina e há cenas de sexo, mas as carnificinas e cenas de sexo funcionavam em GoT, pelo menos no começo, porque eram surpreendentes, e não obrigatórias.

Para não ser injusta, o episódio trouxe intrigas palacianas que prometem e uma cena de incontestável densidade dramática, sem falar na trilha sonora que criou suspense, lembrou o passado e explodiu gloriosa no final. A decisão de não exibir a abertura logo de cara foi ótima para esse efeito.

Gostei bem mais do segundo episódio, que foi ao ar domingo passado. Como era de se esperar, algumas personagens ficaram mais bem delineadas e, ao mesmo tempo, pequenos detalhes começaram a chamar a atenção. O famoso Trono de Ferro, por exemplo, forjado pelas armas dos inimigos derretidas pelos dragões, não é apenas desconfortável, ele fere. Quando o rei Viserys diz para a filha Rhaenyra que o trono é o lugar mais perigoso de Westeros, ele não está se queixando à toa: não há cartão corporativo nem sigilo de cem anos que compensem aquelas misteriosas feridas que não saram.

Agora é dar tempo ao tempo... e muitas noites de domingo para “A Casa do Dragão”, que já teve a segunda temporada confirmada.

A série ainda não é “Game of Thrones”, mas tem tudo para vir a ser.

Mais recente Próxima
  翻译: