Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Nas listas de melhores álbuns de 2022 das principais revistas e sites internacionais de música, não é difícil encontrar “And in the darkness, hearts aglow”, quinto álbum da americana Natalie Laura Mering, de 34 anos, conhecida pelo nome artístico de Weyes Blood. Além da sua sofisticada musicalidade e poesia, o disco chama a atenção pela capa, em que a artista se retrata como a dona de um coração de luminosidade tal que lhe atravessa o peito.

— É uma imagem que vem do cristianismo inicial, das imagens do Sagrado Coração e que foi filtrada no século XX em coisas como (o dedo luminoso do) E.T.. Ser uma luz, um guia no escuro é uma ideia muito antiga — reconhece, em entrevista exclusiva ao GLOBO, a cantora e compositora, atração da parte paulista do C6 Fest, novo festival que acontece entre os dias 19 e 21 de maio no Parque Ibirapuera.

Fã dos Mutantes e do Clube da Esquina, Weyes Blood vem pela primeira ao vez ao Brasil com o show desse álbum, cuja concepção foi interrompida (e, de certa forma, moldada) pela pandemia de Covid-19, e que acabou sendo lançado com ótima receptividade pelo selo Sub Pop (o mesmo que nos anos 1990 revelou o Nirvana e boa parte da cena grunge do rock).

— Estou feliz e aliviada, porque fazer um álbum durante a pandemia foi realmente difícil, e acho que muitos músicos saíram um pouco prejudicados por toda a situação. Definitivamente havia esse tipo de preocupação de que os álbuns vindos daquele tempo poderiam não ser realmente bons — alerta ela. — Eu não queria ter que chamar “And in the darkness, hearts aglow” de um álbum pandêmico, acho que ele se sustenta para além disso. E estou grata pelo fato de as pessoas terem encontrado nele coisas de que gostam.

Durante a pandemia, ela conta que tentou “fazer coisas divertidas, como ir até São Francisco ou dirigir pelas ruas de Los Angeles sem ficar presa por uma hora e meia no trânsito”:

— No mais, ficava apenas compondo, apenas tentando manter a música viva, ocupada com alguns projetos de gravação, meio que tentando descobrir como seria o trabalho sem fazer shows ou sem entrar em estúdio outras pessoas. Cantei remotamente para a trilha sonora do “Minions 2: A origem de Gru” (uma reinterpretação de “You’re no good”, hit da cantora Linda Ronstadt nos anos 1970). Foi um período muito introspectivo.

“And in the darkness, hearts aglow” foi planejado por Natalie como o segundo de uma trilogia sobre os tempos atuais, vividos sobre a ameaça de um cataclismo climático e dos fantasmas da solidão (“o isolamento é uma experiência muito pessoal, mas também se tornou uma experiência universal, acho que neste século, especialmente, ele proliferou”, considera).

— O primeiro álbum (“Titanic rising”, de 2019) é sobre a iminência do apocalipse, o segundo é sobre pós-apocalipse e o terceiro será sobre algum tipo de redenção, alguma versão da esperança — explica ela, que cantou em “The worst is done”, do mais recente disco, versos como “eles dizem que o pior já passou / mas acho que o pior ainda está por vir agora”. — Sim, acho que continuamos a cair na reação em cadeia da distopia, mas esses versos deveriam ser lidos com ironia.

Celebrada pela ambiência de sua música, que muitas vezes parece ter sido gravada no interior de uma igreja, a cantora festeja a possibilidade de se apresentar no grande palco de um festival como o G6, que além disso acontece no espaço aberto de um parque.

— Adoro! Um dos meus primeiros shows depois da pandemia foi no festival Primavera Sounds. Ele estava realmente lotado e eu pensei que iria desmaiar, não podia acreditar que tudo estava acontecendo! — conta. — Sim, existe uma gratidão por poder me reunir novamente com as pessoas, mas também tem um lado psicodélico, meu público cresceu durante a pandemia, estou fazendo shows maiores. Ver as pessoas gritarem com a minha música, isso é muito interessante

Weyes Blood diz não ter sentido a transição da artista dos pequenos palcos para a das arenas.

— Comecei a tocar quando tinha quase 15 anos, então faço isso há muito tempo. Nos dois últimos álbuns é que o meu público realmente aumentou, mas para mim é como escalar uma montanha e de repente se ver no pé de outra, nunca sinto que estou no topo — metaforiza. — Estou meio que continuando minha jornada, é como se não houvesse uma grande diferença entre onde estou agora e onde eu estava, tocando em porões. Não estou totalmente satisfeita com tudo o que criei e ainda quero criar mais, não posso descansar sobre meus louros.

A espiritualidade que sua música exala (em especial em faixas como “God turn me into a flower”, etérea como um hit de Enya), Natalie credita em parte aos pais, que são religiosos.

— É algo muito subconsciente para mim, porque vem da infância. Definitivamente, existe em nós um desejo de saber, existem arquétipos da salvação que não têm a ver com qualquer religião específica ou qualquer deus específico. Há mais coisas do que aquilo que está diante dos seus olhos — discorre. — Mas nós meio que destruímos o conceito de Deus porque não era apropriado à ciência moderna ou por causa das atrocidades das igrejas. Ao mesmo tempo, acho que Ele foi substituído acidentalmente pelo capitalismo, que meio foi se tornando a religião da minha geração.

A cantora assume a influência de Joni Mitchell e Carole King a ela imputada, mas garante que sua maior referência é a música clássica (especialmente a coral) que influenciou essas artistas.

— Participei de muitos corais quando criança e tocava piano clássico. É uma coisa antiga e meio fora de moda, mas ela influencia minhas melodias e a maneira como componho. Ao mesmo tempo, sempre gostei de música experimental, progressiva, não exatamente feita para animar as pessoas — diz. — Hoje, acho que a coisa mais futurista que posso fazer é compor algo que seja como uma velha canção americana, capaz de expressar de forma bonita a distopia pós-moderna. Luto contra a sensação de que há uma estagnação que vem com a nostalgia, desse passado que vem sendo reembalado e revendido. Acho que todos somos vítimas de nostalgia!

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