Cultura
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Quando ouviu aquele vozeirão grave do cantor e compositor pernambucano João Gomes pela primeira vez, Ana Cláudia Lomelino imaginou um homem grandão, barbudo, com uma barriga saliente. Ex-vocalista da extinta banda Tono, a cantora carioca de 37 anos, que adotou o nome artístico de Mãeana ao seguir carreira solo, se surpreendeu com a figura franzina do jovem artista, de 20 anos.

Mais que isso: se encantou pelo jeito roceiro e fofo do garoto que se declarava para as avós nas redes sociais. E foi atrás de conhecer a fundo aquele que viria a se tornar o maior astro do piseiro, subgênero do forró que arrasta multidões Nordeste afora. Acabou se envolvendo pela batida “irresistível” que conduz o disco de estreia do músico, “Eu tenho a senha”, aquele do hit “Meu pedaço de pecado”. O álbum teve dentro de Mãeana um impacto que ela dimensiona assim:

— “Eu tenho a senha” é o meu “Chega de saudade”. A gente sabe que o disco do João Gilberto foi um marco na vida de todos que estão na música hoje: Caetano, Gil, Milton... Como já nasci ouvindo bossa nova e tudo o mais que foi influenciado por ela, para mim, sempre foi natural. Mas nada me impactou tanto como o piseiro.

Mãeana: 'Entendi que tenho dificuldade com instituições. E família é uma instituição' — Foto: Divulgação / Alfamor
Mãeana: 'Entendi que tenho dificuldade com instituições. E família é uma instituição' — Foto: Divulgação / Alfamor

Mapa astral

Mergulhando nesse universo ao mesmo tempo que a velha bossa continuava a ecoar em sua casa, ela enxergou conexões entre os gêneros (“sofrência, inclusive”) e entre os Joões. Além das mesmas iniciais,JG, identificou coincidências... astrais, como conta a artista, conhecida pelo esoterismo.

— Estudei o mapa deles, que têm a Lua em Áries e o Sol na casa 12 de um jeito potente. São dois gigantes.

Essa pesquisa deságua agora em um disco previsto para o fim do ano, que faz a ponte entre Petrolina (terra onde cresceu o João do piseiro) e Juazeiro (cidade natal do João da bossa). O resultado da fusão é mistura suave, que cruza os estilos musicais e foi batizada de “pisa nova”. É o amor romântico que costura o repertório conduzido pelo canto cool da artista, que faz show com ingressos esgotados nesta terça-feira (4), no Manouche, espaço carioca no bairro do Jardim Botânico.

Não foi à toa, portanto, que Mãeana escolheu o Dia dos Namorados para lançar singles que precedem o novo álbum (“Meu pedaço de pecado” e “Tô sem você”)— em agosto, sai um medley de “Digo ou não digo” com “Insensatez”. Ela, que sempre evitou cantar o romance, se viu diante de uma espécie de “chamado” e teve que se render.

— Tinha vontade de cantar a morte, o parto, essas coisas do universo Mãeana — conta ela, que se inspira no feminino e no tropicalismo e cujo disco de estreia (em 2015) trouxe composições inéditas de Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto. — Mas há o carma. E é como se ele me dissesse: “Vai cantar o amor romântico e a sofrência de várias gerações, sim, para curar um monte de coisa”. Pensei na minha mãe, avós e em tudo que temos discutido. Cantar o amor romântico, a não monogamia, o relacionamento aberto e o ciúme, para mim, é cura cármica. Entendi que tenho mais é que cantar mesmo.

Cantar para espantar velhos hábitos e saudar “o ponto de virada, a quebra do patriarcado”.

— Vivemos acordos machistas. E não vamos aceitar o que mulheres antes de nós aguentaram. Penso em como quebrar isso de um jeito artístico, rindo da gente mesma e tendo alguma compaixão pelos homens.

Um curso de palhaça com Rafaela Azevedo, famosa pelo espetáculo “King Kong Fran”, ajudou Mãeana nesse processo.

— Foi interessante inverter papéis, rir do opressor, zombar de si mesma, entrar em contato com meus próprios defeitos e fracassos e entender que do chão não passa.

Curiosamente, ao encarar de frente o que chama de carma, a cantora nunca foi tão ouvida. Pulou de 40 mil para mais de 100 mil ouvintes no Spotify. Bateu 170 mil reproduções no streaming com os dois singles. Ganhou um pouco mais de dinheiro. Deu o que falar lotando a temporada de shows que fez na Casa da Mãe, espaço alternativo e moderninho no Rio Vermelho, em Salvador.

Ali, ela vestia figurino e usava cenário à la “Mãeana boiadeira”, com referências da vaquejada, além de trazer inspirações próprias, como o mar, para dialogar com essa estética

— Boiadeira é a mulher que boia. E isso faz parte da minha vida há muito tempo a partir do estudo da consciência corporal na (faculdade de dança) Angel Vianna. Tem a ver com entrega, com o deixar ir, com o peso, consciência da pele e dos ossos. Me traz também a memória de criança de eu aprendendo a boiar com meu pai em um rio em Xerém. Tem ainda entidades lindas da umbanda, os Boiadeiros (guias espirituais que valorizam a natureza) que me inspiram.

A paz invadiu o coração

O clima de romance que envolve o projeto da Mãeana boiadeira também reflete a paz no casamento com o músico Bem Gil (que produz o trabalho da mulher, junto com Sebastian Notini). Os dois se casaram em fevereiro após um momento conturbado. Tinham 11 anos de relação e dois filhos quando, em 2021, Mãeana foi às redes sociais expor um término conturbado, motivado segundo ela, por traição.

O casamento de Mãeana e Bem Gil, em Salvador — Foto: Reprodução
O casamento de Mãeana e Bem Gil, em Salvador — Foto: Reprodução

— Ali desmoronou o castelo de cristal, uma ordem que parecia ser a única. Depois veio o alívio porque a gente pôde recomeçar com outro acordo, baseado na não monogamia e em exemplos que não foram os dos nossos pais. Me sinto vingada porque o Bem está muito presente e é o melhor pai do mundo. É como se estivéssemos resolvendo carmas de muitas gerações. Finalmente, encontrei o que acredito em termos de família.

Do episódio polêmico, ficou o arrependimento de ter envolvido outras pessoas no desabafo. Mas também a certeza de que a exposição a ajudou a superar dilemas.

— Entendi que tenho dificuldade com instituições. E família é uma instituição. Parei de frequentar Natal e Dias das Mães na minha família na adolescência. Aos 13 anos, larguei a escola, fundi a cabeça dos meus pais. Quando me juntei ao Bem, tentei dosar. Tentei ser aceita naquela família porque achava que era o tropicalismo, mas é mais uma família como qualquer outra. Não funcionava para mim, muito menos como agregada, que tem menos espaço ainda para se expressar.

Para ela, uma grande “libertação” foi “parar de tentar ser aceita e amada”.

— Estava presa ali e tinha a ver com idade, com tentar agradar. Pagava um preço desproporcional pelos meus erros. Não quero estar num lugar porque sou a nora do Gil, tenho horror a isso. Agora, não tem mais palpite, intromissão — diz ela, que se mudou para Salvador com Bem e os filhos.

Se ela acha que faz falta no palco com a família Gil?

— Não né? (risos). É um lugar que exige um profissionalismo que eu não tenho. Mas admiro.

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