Cultura
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Por El País — Madri

RESUMO

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GERADO EM: 23/06/2024 - 03:30

Exploração de amor e comida na poesia de Paula Melchor

A poeta Paula Melchor explora a relação entre amor, comida e solidão em sua obra. Ela valoriza a cultura brega e busca estabilidade financeira para continuar escrevendo.

A espanhola Paula Melchor se define nas redes sociais como uma menina do interior. Esse orgulho de origem a acompanha a fóruns literários como o Barbitania, onde seu recital de poesia cativou o público reunido em Barbastro, em Aragón, há algumas semanas. Nascida em El Real de la Jara (Sevilha) há 24 anos, ela conta agora com seis edições do seu livro "Amor y pan", que ganhou o prêmio Letraversal atribuído por esta editora. Seu maior sonho, porém, é bem mais pragmático que a poesia: vencer concursos para poder se sustentar.

Você combina poesia e comida. Por quê?

Me interessei muito pela simbologia da comida, como os momentos de amor coincidem com os momentos de comida, e os de solidão com a fome, tanto emocional quanto material.

Por exemplo?

Quando fui estudar em Granada pensei em toda a família que me acompanhava na refeição e na sobremesa e isso já não existia mais. César Vallejo diz: “Almocei sozinho e não havia mãe, nem pedidos, nem água”. Aí é que se explora a solidão.

Você dedicou um poema aos morangos de Huelva.

Sim, associei o preço baixo dos morangos de Huelva ao trabalho escravo, aos trabalhadores sazonais muitas vezes forçados a esta violência de classe e de género. Eu queria vincular a comida que comemos ao corpo que trabalha com ela.

E a casca da batata?

A poesia se baseia em imagens soltas que chegam até você, às quais você dá sentido com os sentimentos que deseja colocar por escrito. E essa imagem veio até mim, como se meu corpo fosse a casca de uma batata. Eu deitada em um sofá esperando corpos amados e, ao mesmo tempo, sentia a pele deitada na tábua da cozinha. A batata está ligada à terra, é um alimento muito simples e ao mesmo tempo muito variável. E eu queria que minha poesia fosse assim.

Em um poema, você diz que sua mãe notou que você estava magra por causa da sua voz. Ela estava certa?

Sim (risos), tinha razão, minha mãe tem um poder estranho, o de ver quando estou triste e não estou comendo bem.

Como foi a sua experiência de deixar sua cidade e ir para um apartamento de estudante?

No início com muito entusiasmo, mas com o passar dos anos, quando aquela primeira emoção passa, você também encontra a solidão. Isso me fez ver a beleza que eu não tinha visto antes na minha cidade e que havia rejeitado.

Você se define como uma “garota da província”. O que significa?

Não estou disposta a morar em cidades muito grandes, passo muito mal ali, e também há algo político em ficar, é um privilégio e nem todos podem. Escolho todos os dias ficar em lugares menores, a cultura não está só nas grandes cidades.

Como você escreve?

Normalmente trabalho com imagens, com vislumbres de certas coisas que me são sugeridas num momento e as desenvolvo. Você também tem que deixar os poemas por um tempo e voltar a eles. É importante refazer o que você fez e depois voltar a isso. Na poesia você tem que ser minucioso.

Você aprendeu mais sobre como escrever poesia estudando Literatura Comparada ou observando uma batata?

Ambas as coisas. Minha carreira me abriu um mundo de possibilidades sobre como a poesia poderia ou não ser construída. No ensino médio li poesia clássica espanhola e fui muito influenciada por aqueles autores que amo e que são importantes. Mas quando entrei na carreira vi que havia outras formas experimentais ou menos ligadas à tradição. A disciplina de Linguagem Literária me ensinou a ver o texto poético como um quebra-cabeça em que cada peça é importante, é montada por um motivo. Ajudou-me muito a divertir-me a ler poesia e a gerar em mim essa vocação.

Você gostaria de se ver enquadrada em alguma tradição?

Está para ser publicada na Letraversal uma antologia de poesia brega da qual participo, e adoro essa tradição. A cafonice é algo que, se for bem feita, é muito poderosa e diverte muito.

Defina brega.

No meu caso acho que o cafona tem várias arestas: às vezes é algo mais doloroso, mais significativo e mais visceral. E às vezes um kitsch mais alegre, uma emoção leve que também me interessa. Não precisa ser apenas uma frase barata, e sim um sentimento que desperta em você e que possui diversas arestas e modalidades. Esse duplo padrão do doloroso e do feliz no cafona me interessa especialmente.

Quem é brega? Taylor Swift?

Sim, Taylor Swift é cafona, mas também Van Gogh's Ear ou Amaral, grupos que adoro, com uma qualidade lírica brutal. Muitas vezes o cafona está ligado ao clichê e não precisa ser apenas algo banal, algo que não desperte coisas novas em você. Minhas influências pop nesse sentido são muito poderosas.

Você é uma swifty?

Sim. Estive no primeiro concerto dela em Madrid e gostei.

Qual é o seu maior sonho hoje?

Neste momento o meu sonho é passar nos exames para o ensino secundário para poder ter tranquilidade e poder continuar a escrever num estado menos precário. Escrever é um privilégio porque você precisa de tempo e é isso que o dinheiro te dá, tranquilidade financeira. Eu adoraria ter uma posição melhor. Será melhor do que encadear empregos que não pagam nem o aluguel, que é o problema de ser uma menina do interior (agora trabalho algumas horas como revisora ​​numa editora e como professora particular). E outro sonho é poder manter a mesma sorte que tive com "Amor y pan". Nunca esperei esta recepção, seis edições, tanta gente que quer saber o que tenho a dizer, que se interessa pela minha opinião.

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