Não é coincidência que Fernanda Montenegro retorne ao teatro no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Nesta sexta-feira, a atriz de 94 anos sobe ao palco do Teatro Prio, no Jockey Club, para dar início à curta temporada de uma leitura dramática extraída da obra "A cerimônia do adeus", da filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986).
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Serão 12 apresentações até o dia 31 de março, de sexta a domingo. Ao GLOBO, quando questionada sobre o que Beauvoir tem a dizer para as mulheres hoje, Fernanda Montenegro é sucinta:
— Tudo — responde a atriz, elencando seus textos preferidos da filósofa. — O “Segundo Sexo” é uma obra imensa. Básica. Elenco, agora, aqui, “A velhice”, “A cerimônia do adeus”, “Os Mandarins”, “Todos os homens são mortais”. E tanto outros — conclui.
No espetáculo, a atriz evoca a visão libertária de Simone sobre o feminismo, passando também pela relação entre Beauvoir junto ao filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980), de quem foi companheira.
— Para a minha geração, ler Simone de Beauvoir Significou abrir o mundo para uma visão orgânica da condição “de ser mulher”. De onde viemos, como estamos e para onde devemos ir — completa Fernanda.
Política, Oscar e aposentadoria
Você já criticou o modelo de reeleição do nosso presidencialismo e, tratando de corrupção, disse que “tanto esquerda como direita se mancomunaram” no Brasil. Essa sua análise foi em 2019. Passados cinco anos, está satisfeita com o atual momento político do país?
A reeleição foi e é a nossa desgraça. Lula é um democrata. Essa é a dimensão desse homem como ser político.
Você foi a primeira atriz latino-americana a ser indicada na categoria de melhor atriz do Oscar, e até hoje é a única indicada com atuação em língua portuguesa. Pensa em como as coisas teriam sido se você tivesse ganhado?
Nada mudaria. Somos atrizes latino-americanas.
No alto de seus 95 anos, tendo presenciado uma 2ª Guerra Mundial, uma ditadura militar, uma pandemia global, tantos acontecimentos, hoje você tem uma visão otimista em relação à condição humana?
Nesse presente tempo, todos nós estamos estrangulados diante do que o ocidente e o oriente – ou o oriente e o ocidente – estão propondo ao mundo.
Como você trata o assunto aposentadoria?
De noventa para cem anos vividos, lembro uma geração gloriosa que ainda está viva e amada pelos que os viram, os assistiram, ao lado dos quais eu estive em peças, em filmes, novelas, séries: Natália Thimberg, Laura Cardoso, Rosamaria Murtinho, Lima Duarte, Ary Fontoura, Mauro Mendonça, Othon Bastos, Francisco Cuoco. O que nos liga é uma vocação inarredável, os mútuos encontros criativos, as mesmas memórias. É só nos chamarem para um trabalho e aí estaremos. Os que já se foram, vêm juntos. Inseparáveis.
‘Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir’. Teatro Prio, Jockey. Av. Bartolomeu Mitre, 1110 - Leblon. Sex e sáb, às 20h. Dom, às 19h. R$ 120. 12 anos. Estreia sexta, dia 8. Até 31 de março.