O dólar comercial encerrou as negociações nesta quarta-feira em R$ 5,44, o maior valor para o câmbio desde o dia 4 de janeiro de 2023, no início do atual mandato do governo Lula, quando a moeda fechou em R$ 5,45. Na máxima do dia, a moeda chegou a bater R$ 5,48, o maior patamar nos últimos dois anos.
Em dia de feriado nos Estados Unidos e liquidez reduzida nas Bolsas globais, o clima no mercado local foi de aversão a ativos de risco antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) mais tarde. É amplamente esperado que a taxa Selic se mantenha em 10,50%, mas os analistas estarão atentos para o posicionamento dos diretores do Banco Central nesta reunião, especialmente após falas do presidente Lula.
O presidente tem criticado a postura do Banco Central publicamente diversas vezes. Na terça-feira, ele disse em entrevista a rádio CBN que o comportamento da instituição é a única coisa "desajustada" na economia do país e que Roberto Campos Neto tem "lado político" e não demonstra "capacidade de autonomia". O dólar chegou a bater R$ 5,44 após as declarações, representando o maior valor no ano até então.
Na semana passada, Lula disse que "o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit sem comprometer os investimentos". Isso também gerou desconforto no mercado, que interpretou essa fala como uma tentativa do presidente de influenciar nas decisões no Banco Central.
— Depois das críticas de Lula ao presidente do Banco Central, aumentou o medo no mercado de que os membros indicados pelo atual governo votem em dissenso dos outros, o que foi justamente um dos principais fatores para a piora no mercado desde o último Copom — afirma Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management.
Na última reunião do comitê, em maio, os membros indicados pelo atual governo votaram a favor de uma redução maior na taxa de juros do que os diretores apontados na gestão Bolsonaro, gerando um temor no mercado de que a próxima diretoria do comitê seja mais leniente com o controle da inflação.
No ano que vem, o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deixará o cargo e um nome indicado pelo governo irá assumir o comando da instituição financeira, fazendo com que o Copom seja majoritariamente composto por diretores apontados pela gestão Lula.
Credibilidade em jogo
Diego Costa, gerente de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, avalia que a decisão do Banco Central hoje será importante para manter sua credibilidade frente ao mercado:
— As pressões do governo têm sido intensas. O desafio do Banco Central vai ser encontrar um equilíbrio entre estimular a economia e controlar a inflação, sem comprometer a autonomia em suas decisões, especialmente em um cenário econômico global instável. Resistir a essas pressões e tomar decisões técnicas vai ser muito importante para manter a confiança dos investidores — ele diz.
Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, avalia que um consenso na votação do Copom mais tarde poderia contribuir para aliviar a pressão sobre os ativos. Com investidores também ponderando juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e riscos no cenário fiscal do Brasil, o dólar já subiu mais de 12% em 2024. Ele também destaca, no entanto, que a incerteza em torno da sucessão no Banco Central deve permanecer no radar dos analistas e pode gerar volatilidade no mercado:
— A depender da escolha do presidente Lula para o comando da autoridade monetária, isso pode confirmar as suspeitas do mercado de uma política monetária mais leniente com a inflação de 2025 em diante, que se preocupe mais com o crescimento econômico do que com a estabilidade de preços — ele diz.