Economia
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Por Renan Monteiro e Letycia Cardoso — Brasília e Rio de Janeiro

O Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) concluída nesta quarta-feira. Essa é a quarta manutenção da taxa e a primeira decisão do colegiado sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A manutenção da taxa era esperada pelo mercado, que prevê que a Selic pode ficar neste patamar até o segundo semestre desse ano, diante da expectativa da inflação de 2023 acima do teto da meta.

A grande atenção dos agentes econômicos, contudo, era em relação ao comunicado do comitê, em meio as discussões sobre a trajetória crescente da inflação e as dúvidas sobre a política fiscal de longo prazo do novo mandato petista. Nele, o Banco Central afirmou que os “fatores de risco” ainda permanecem pressionando os preços, como a “elevada incerteza” sobre o futuro do marco fiscal do país.

"A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas", cita o comunicado.

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o Banco Central sinalizou nas entrelinhas que pode não cortar os juros em setembro, a fim de converter a inflação para a meta e ancorar as expectativas. Embora o último Boletim Focus tenha mantido a previsão da Selic em 12,50% para o fim do ano, a expectativa do mercado para a inflação em 2023 aumentou de 5,48% para 5,74%, acima do teto da meta de 4,75%. Para 2024, a previsão do IPCA subiu de 3,84% para 3,90%.

— A visão do C6 era de um corte de 1 ponto percentual até o fim do ano, com a Selic caindo para 12,75%. Mas, diante desse comunicado, a tendência é que a gente revise essa previsão, porque é provável que a taxa permaneça em 13,75% até dezembro — revela.

Tatiana Nogueira, economista da XP, concorda, destacando que a declaração do BC pós-reunião teve um tom mais duro do que o esperado:

— Na nossa visão, o comunicado reforça nosso cenário base em que a Selic ficará estável em 13,75% até o início de 2024.

O Copom começou a elevar a taxa Selic em março de 2021, quando a taxa estava no piso histórico de 2% ao ano. A última elevação foi registrada em agosto do ano passado, quando ela chegou ao patamar de 13,75% ao ano.

Na visão do CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, os próximos meses serão importantes para a definição dos rumos da inflação e dos juros:

— Até agora, a economia brasileira vem bem e está surpreendendo, mas isso tem muito a ver com a reabertura do pós-pandemia. Não deve durar para sempre, toda essa recuperação cíclica uma hora chegará ao fim e precisará encarar a realidade.

Alívio na inflação

O cenário internacional pode contribuir para um alívio no índice inflacionário, com a queda dos preços das commodities internacionais, segundo o comunicado do Banco Central. A escalada nos preços de combustíveis, cotados em dólar, afeta diretamente o setor de transporte, um dos principais indicadores da alta no IPCA. É também esse setor que foi impactado pelos cortes de impostos, o que refletiu na inflação.

“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, enfatiza o BC.

Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, diz que a principal sinalização do BC foi “postergar” as quedas nas taxas de juros, para ancorar as metas de inflação. No comunicado, o Comitê deu ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024. Nesse período, a inflação acumulada em doze meses está projetada em 3,6%.

— Acreditamos que a sinalização do Banco Central é pela manutenção da Selic estável durante mais tempo do que aquele contemplado na mediana do Focus. Isso significa dizer que talvez 2024 tenha ou um juros médio maior ou um juros de entrada maior do que o Focus contempla — diz.

Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos, segue a mesma linha. Para ela, é significativo o fato de em fevereiro de 2023 o Banco Central dar ênfase para o horizonte de 2024, em relação à expectativa de inflação.

— Foi bastante relevante o BC citar essa questão da desancoragem das expectativas mais longas. Isso tem a ver com essa discussão em relação a eventual mudança de meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ou questionamentos sobre a própria independência do Banco Central — avalia.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, lembra que o Brasil ainda tem a maior taxa de juros real, o que tende a atrair fluxo estrangeiro de curto prazo, favorecendo a valorização do real em comparação ao dólar.

— Com uma taxa de juros real próxima de 8%, apesar do risco fiscal e do risco de inflação maior, o câmbio fica bem comportado. Isso pode ser positivo para a inflação de bens, impactando preço não só dos itens importados, mas de outros produtos ligados ao câmbio, como alimentação e gasolina — explica.

Aumento de gastos acende alerta

Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, avalia que os dados de inflação em patamar elevado acenderam uma luz amarela nos analistas de mercado:

— O Banco Central vai continuar analisando os dados palpáveis em relação à inflação. E, por enquanto, as sinalizações (do Governo) são contrárias, com intenção de mais gastos, o que seria ruim para inflação e, consequentemente, para os juros.

Outro fator que gera apreensão dos analistas nos dados de inflação e de juros é a situação fiscal do país. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu que o governo enviará ainda no primeiro semestre um projeto para novo marco fiscal para substituir o teto de gastos. A falta de detalhes desta proposta, contudo, pode ter incentivado o Copom a ser mais cauteloso na definição da taxa Selic.

Marco Maciel, sócio da Kairós Capital, vê como fundamental a sinalização do governo para o controle de gastos, mas afirma que apenas sinais concretos de redução da inflação podem abrir caminho para uma queda nos juros.

— Não necessariamente a apresentação de um arcabouço fiscal vai levar à queda dos juros no segundo semestre, porque vai depender das expectativas de inflação para o ano que vem — afirma Maciel.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou nota defendendo que a redução da taxa Selic depende de uma política fiscal crível e responsável:

"A Federação reitera a necessidade urgente de concretização da agenda de reformas estruturais e de criação de um novo arcabouço fiscal que conduza o país para o equilíbrio das contas públicas. Esse é o caminho para que a indústria nacional tenha competitividade suficiente para gerar emprego e renda, tornando o Brasil um país mais forte e competitivo".

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