Esportes

Mansur: o que observar nas reprises de finais de Copa do Mundo no SporTV

"Faixa Especial" do Sportv irá mostrar sete partidas separadas por até 36 anos no tempo
França comemora o título da Copa do Mundo de 2018 Foto: Dylan Martinez / Dylan Martinez
França comemora o título da Copa do Mundo de 2018 Foto: Dylan Martinez / Dylan Martinez

Sem jogos ao vivo, a quarentena nos fez mergulhar no mundo das reprises, uma viagem no tempo através do futebol. Em uma semana, desta terça-feira até a próxima segunda, a "Faixa Especial" do Sportv irá mostrar sete partidas separadas por até 36 anos no tempo. Astros de diversas gerações, jogos com características totalmente diferentes e um painel de como o futebol se transformou ao longo dos anos.

BOTAFOGO: os seis jogos que ajudam a entender a história do clube

Da consagração da nova geração francesa na Rússia, o passeio nos leva à vitória italiana na Copa que fez o Brasil sonhar, em 1982, na Espanha. Tudo isso passando pela coroação dos projetos  futebolísticos de Alemanha e Espanha em 2014 e 2010, por jogos mais sisudos como a decisão de 1990 ou mesmo a loucura em que se transformou o Alemanha x Argentina de 1986, no México. A seguir, O GLOBO lista personagens e fatos que merecem a sua atenção em cada capítulo memorável das Copas do Mundo.

FLUMINENSE: os seis jogos que ajudam a entender a história do clube

França 4 x 2 Croácia (terça, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia
França comemora o título da Copa do Mundo de 2018 Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
França comemora o título da Copa do Mundo de 2018 Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

A final parece resumir o que era a França campeã do mundo: pragmática, sem tanto compromisso estético e preocupada em defender e criar espaço para seus homens rápidos e talentosos na frente. Nem que, para isso, abrisse mão do controle da bola para recuar linhas,  atrair rivais e atacar em velocidade às costas dos defensores adversários.

Mas é curioso notar, ao rever o jogo, o quanto parecia escandaloso, exagerado mesmo, que os franceses, aos 64 minutos de partida, vencessem por 4 a 1. Porque, até ali, os croatas faziam,  no mínimo, um jogo equilibrado. Ainda que as propostas fossem diferentes.

Vale ter total atenção em Mbappé e na forma como se mostra influente no jogo, especialmente no início da segunda etapa. Em desvantagem, a Croácia concede os espaços que a França queria e o atacante do PSG é sempre o homem de desafogo. Cria a jogada do gol de Pogba e marca o quarto da França. Pogba e Varane, aliás, também têm passagens notáveis na decisão.

O jogo também exibe traços que caracterizaram a Copa: a influência das bolas paradas, fundamentais nos dois primeiros gols da França; assim como decisões controversas do VAR. Por exemplo, no pênalti que deu o 2 a 1 aos franceses - o juiz acerta.

Do lado croata, Modric, que viria a ser eleito melhor do mundo pouco depois, faz bom jogo. Mas é Perisic o destaque.

Alemanha 1 x 0 Argentina (quarta, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 2014, no Brasil
Lahm levanta o troféu para a Alemanha Foto: Guilherme Pinto / Guilherme Pinto
Lahm levanta o troféu para a Alemanha Foto: Guilherme Pinto / Guilherme Pinto

Uma série de duelos marcam o jogo e merecem atenção. Um deles, Mascherano tirando espaço de Kroos, Özil ou quem quer que buscasse criar pelo meio. Outro, Lavezzi, Messi ou Higuain buscando o  lado esquerdo da defesa alemã. Howedes  era um zagueiro improvisado na lateral esquerda para dar liberdade a Laham pela direita. Asism, quando os alemães tinham a bola, Howedes se movia um pouco mais para o centro, abrindo o espaço que a Argentina explorou em seu jogo do contra-ataques. Por ali surgiu um gol anulado de Higuain, por exemplo.

Vale notar o duelo de estilos. A Argentina apostava em marcação forte e contragolpes: por característica do time e por aceitar a superioridade técnica de uma Alemanha madura, apegada a um estilo de posse de bola já arraigado em sua cultura de futebol. Os argentinos jogavam por poucas bolas. E quase encontraram. Mas os alemães buscaram mais o ataque.

O jogo deixa marca em dois personagens: Higuaín, que perde uma chance fatal oferecida a ele num erro de Kroos; e Götze, que se torna herói para não mais cumprir com as expectativas postas em sua carreira. Sua movimentação merece ser vista no lance do gol. O alemão, que entrara como falso nove, deixa o centro do ataque, corre para a lateral do campo e, novamente, busca o centro do ataque. Demichelis, já exausto, não acompanha.

É interessante a forma como a Argentina dá poucas chances de gol aos  alemães que, dias antes, haviam marcado sete no Brasil. Mas o fôlego cobra um preço dos argentinos, que já haviam jogado uma prorrogação na semifinal com a Holanda.

Espanha 1 x 0 Holanda (quinta, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul
Casillas levanta o troféu para a Espanha Foto: DYLAN MARTINEZ / DYLAN MARTINEZ
Casillas levanta o troféu para a Espanha Foto: DYLAN MARTINEZ / DYLAN MARTINEZ

É curioso que o jogo que consagra o estilo de toques, iniciativa e posse de bola de uma Espanha plasticamente agradável de ver, é na verdade uma partida rude, em especial pelo lado holandês. Um jogo que não engregou o que prometia. E, neste ponto, o árbitro inglês Howard Webb é um personagem.

Ele distribuiu 13 cartões amarelos e um vermelho, mas incrivelmente não expulsa De Jong após entrada brutal em Xabi Alonso. Antes mesmo do gol, é interessante notar como Iniesta começa a assumir o controle do jogo a partir do segundo tempo. Tanto com passes, quanto aparecendo na área. Por duas vezes, deu sinais de como o jogo poderia ser decidido.

A Espanha é superior, mas há outra grande curiosidade na partida. Por duas vezes, Robben, correndo às costas da defesa espanhola em contra-ataques, tem a bola do jogo nos pés. Um indício de como terminaria, quatro anos depois, a fase de dominação espanhola. Talvez não seja sequer exagero dizer que o ponto de vulnerabilidade dos campeões do mundo tenha ajudado a construir um resultado escandaloso na estreia do Mundial seguinte, no Brasil: uma derrota por 5 a 1. O rival? A própria Holanda. A vitória também ensina sobre as fragilidades de um time espetacular.

Itália 1 x 1 França (sexta, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha
Cannavaro levanta o troféu para a Itália Foto: Juanjo Martín / Juanjo Martín
Cannavaro levanta o troféu para a Itália Foto: Juanjo Martín / Juanjo Martín

A Itália foi a campeã, mas é impossível ver este jogo sem concentrar olhares em Zidane. Ele viveu fases distintas na partida: marcou o primeiro gol com uma cavadinha, ousadia máxima numa final de Mundial; depois teve dificuldade para achar espaço diante do meio-campo muito físico e povoado dos italiano; criou ao menos uma grande chance já na fase final do jogo; e encerrou sua carreira expulso por uma cabeçada em Materazzi, lance quase inverossímil, cuja vulgaridade jamais combinou com a classe do autor.

Mas há outros nomes a ver num jogo que se não foi um festival de chances de gol, foi até mais aberto do que se imaginava. Uma Itália mais física, uma França mais técnica. Pirlo é dominante na organização do jogo em várias passagens. Já Cannavaro ganha duelos numa partida que pavimenta seu caminho para ser eleito o melhor do mundo o que, méritos à parte, mostra o quanto o jogo prezava a defesa naqueles últimos anos da era pré-Guardiola. Já na França, Henry era muito perigoso a cada corrida em diagonal.

Outro personagem curioso é o lateral esquerdo italiano Fabio Grosso. Jamais foi um jogador estelar, mas parecia predestinado na Copa. Fez o primeiro gol na  semifinal, encaminhando a  eliminção da anfitriã Alemanha, e cobrou o último pênalti da decisão do título.

Alemanha 1 x 0 Argentina (sábado, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 1990, na Itália
Alemanha comemora o título da Copa do Mundo de 1986 Foto: Cezar Loureiro / Cezar Loureiro
Alemanha comemora o título da Copa do Mundo de 1986 Foto: Cezar Loureiro / Cezar Loureiro

Jogada no auge de uma era especulativa do jogo, onde raros assumiam riscos, a final de Roma retratou o contexto. O exercício de resistência de uma Argentina que chegara à decisão mutilada por lesões e suspensões, fisicamente exausta, impediu que a Alemanha, exceção num torneio mal jogado, criasse lances de grande emoção. O resultado foi um jogo aborrecido.

Vale ver com atenção Matthaus, líder do time alemão e protótipo do meio-campista capaz de jogar de área a área, o tipo de jogador que o futebol valorizaria ao extremo nas décadas seguintes.

E, claro, sempre que há Maradona em campo, vale olhar para ele. Aos 30 anos, chegou à final fora de condições ideais e, como de hábito, encarnando um personagem controvertido. Após o gol com a mão quatro anos antes, diante da Inglaterra, evitara também com a mão um gol russo que poderia ter eliminado a Argentina na fase de grupos.  Na final, teve  mais  alma do que brilho. Tentou lances individuais e cobrou uma falta sem tanto perigo.

Outro personagem foi o árbitro mexicano Edgardo Codesal. Ele expulsou corretamente o argentino Monzón, mas decidiu o Mundial ao marcar um pênalti discutível. A partir dali, foi engolido por um time argentino disposto a todo tipo de antijogo. Aliás, fala muito sobre a Copa de 90 o fato de ter chegado à decisão uma Argentina recordista de faltas.

Argentina 3 x 2 Alemanha (domingo, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 1986, no México
Maradona ergue a Taça Fifa Foto: Luiz Pinto / Agência O Globo
Maradona ergue a Taça Fifa Foto: Luiz Pinto / Agência O Globo

Este sim, um jogo espetacular, com uma quase reviravolta alemã graças a duas bola paradas que, a rigor, iam contra a maré do jogo. A Argentina foi quase sempre superior.

Maradona é, sem discussão, o personagem central. A final que consagra a Copa de Diego ficou na memória como o menos brilhante de seus jogos na reta final do Mundial. É fato que não houve um daqueles gols espetaculares, mas tampouco é justo subvalorizar sua atuação. Ele participa dois dois últimos gols iniciando as jogadas e cria outras chances importantes. E aliás, no gol decisivo, marcado por Burruchaga, seu passe é milimétrico.

A final tem uma surpresa: a falha de Schumacher, um dos grandes goleiros da história da Alemanha, no gol que abriu o placar.

Itália 3 x 1 Alemanha (segunda, às 19h)

Final da Copa do Mundo de 1982, na Espanha
Itália comemora o título da Copa do Mundo de 1982 Foto: AGÊNCIA O GLOBO
Itália comemora o título da Copa do Mundo de 1982 Foto: AGÊNCIA O GLOBO

Algoz do Brasil, a Itália coroa sua vitória na Espanha com um jogo de clara imposição diante dos alemães. Por falar em futebol brasileiro, esta foi a primeira de duas decisões seguidas apitadas por árbitro do país: Arnaldo Cézar Coelho conduziu a final de 1982 e Romualdo Arppi Filho apitaria a decisão de 1986.

A imagem histórica da partida é protagonizada por um dos grandes jogadores da final: o meio-campista italiano Tardelli. Sua comemoração emocionada, sua corrida com os punhos cerrados, é daquelas cenas constantemente repetidas quando se quer retratar a emoção que o futebol pode proporcionar. Ele acabara de acertar um belo chute no canto de Schumacher para fazer 2 a 0.

O jogo tem, ainda, um pênalti perdido pelo lateral Cabrini no primeiro tempo. Além de consgrar Paolo  Rossi, o carrasco brasileiro, como artilheiro do Mundial. Ele fez o primeiro gol da final.

Outra curiosidade é que a Alemanha chegava um tanto antipatizada à partida. Primeiro, e mais grave, por ter feito um vergonhoso jogo de compadres com a Áustria na primeira fase. Após o gol alemão que abriu o placar, os times não se agrediram. O resultado servia para que ambos seguissem adiante e eliminassem a Argélia, sensação da Copa após bater os alemães na estreia. Já na semifinal, a Alemanha derrotaria a França, última representante de um futebol expansivo, técnico e ofensivo de uma Copa que ainda lamentava a queda brasileira. E na extraordinária semifinal, os franceses, que chegaram a fazer 3 a 1 na prorrogação, se queixam de uma entrada duríssima de Schumacher em Battiston: o francês perdeu dois dentes. Não foi marcado pênalti, tampouco exibido cartão ao goleiro alemão.

  翻译: