Rodrigo Capelo
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Por Rodrigo Capelo


Abel Ferreira: dois títulos da Libertadores à frente do Palmeiras César Greco/Palmeiras — Foto:
Abel Ferreira: dois títulos da Libertadores à frente do Palmeiras César Greco/Palmeiras — Foto:

O futebol brasileiro levou uma sacudida por técnicos portugueses. Jorge Jesus foi tão marcante no Flamengo, Abel Ferreira é tão bem-sucedido no Palmeiras, que dirigentes passaram a buscar essa competência além das nossas fronteiras. É verdade que alguns contrataram lusitanos só pela bandeirinha no passaporte, sem saber o que faziam, mas este não é o ponto. O fato inegável é que o mercado avançou quando foi buscar conhecimento noutras escolas.

Pergunto-me quando será a vez do diretor de futebol. No Brasil, este profissional ganha destaque ao negociar este ou aquele jogador, geralmente no início do ano. Alguns ficam com boa fama porque contratam muito. Parece até que o trabalho desse diretor se resume ao mercado, quando, na verdade, a sua responsabilidade vai desde a estratégia até a execução de tudo o que envolve o departamento. Falta muito para qualificarmos essa área específica?

Vejamos como funciona a governança de um clube brasileiro genérico. Durante a eleição para presidente da associação, o candidato promete profissionalização e o que há de mais moderno. Depois que assume, ele contrata um diretor e nomeia um vice-presidente para o futebol. Os verbos entregam: enquanto o primeiro é remunerado e se dedica à função em todo o expediente, o segundo ocupa função amadora e não remunerada. A treta começa aí.

A presença desse vice-presidente não se justifica sob nenhum aspecto da administração. Por que dar voz a alguém que não tem nenhum preparo técnico ou acadêmico? Este indivíduo está no comando de um departamento que gasta centenas de milhões de reais por ano, e ainda assim as suas melhores qualificações, dizem, são amor pelo clube e tempo de arquibancada.

A resposta está na política. A vice-presidência de futebol, de tanto poder que acumula, é usada pelo presidente para firmar alianças e arregimentar o apoio necessário para se eleger. Em muitos clubes, ela faz parte da linha sucessória. O vice-presidente de futebol de hoje será o presidente de amanhã. No meio tempo, ele pode viajar o mundo às custas do clube, sentir-se personalidade ao lidar com a imprensa e as redes sociais, de repente se eleger vereador.

De fato, esse modus operandi está em todas as vice-presidências amadoras. Só que nas outras, existe a desculpa de que o nomeado é profissional do ramo. Coloca-se advogado na vice-presidência jurídica, um marqueteiro na de marketing, um financeiro na de finanças. No fundo, o papel político é o mesmo, mas supostamente esses amadores estão ali para guiar o trabalho dos profissionais. No futebol, nem isto dá para dizer, pois inexiste a experiência.

Ao diretor remunerado costuma sobrar a organização interna do departamento, meramente operacional, e a negociação pela compra e venda de jogadores, com diretrizes estabelecidas por quem está acima. Não há estratégia que perdure — algo que se nota pela frequência nas demissões de técnicos —, porque esses profissionais são subjugados pelo amadorismo.

Não é de se espantar que, quando um bom técnico vai embora, ele leve o conhecimento e a organização com ele. Isto nunca pertenceu ao clube. Aconteceu com Jesus no Flamengo. O Palmeiras precisa trabalhar para não acontecer quando Abel se for. E eu continuo me perguntando: quem é que vai dar uma sacudida na maneira como se gere futebol no Brasil?

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