Por maioria de votos, STF descriminaliza porte de maconha para uso pessoal

Ministros devem anunciar amanhã que, a princípio, quem portar até 40 gramas de droga deve ser considerado usuário

Por — Brasília


Plenário do STF durante sessão de julgamento Andressa Anholete/STF/20-06-2024

RESUMO

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GERADO EM: 25/06/2024 - 14:42

STF julga descriminalização da maconha

STF retoma julgamento sobre descriminalização do porte de maconha, com votos divididos entre ministros. Questão central é a quantidade que define usuário e traficante. Toffoli sugere apelo para regulamentação em 18 meses.

Por maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizou o porte de maconha para consumo pessoal. Na prática, a decisão da Corte significa que o uso da substância deixará de ser crime, o chamado ilícito penal, e passará a configurar um ilícito administrativo. Os ministros ainda não definiram qual é a quantidade que será determinada para que se diferencie traficante de usuário – a proclamação final será feita nesta quarta-feira.

Como ficou a votação para o porte de maconha para uso pessoal?

A maioria de seis ministros foi atingida com o voto de Dias Toffoli, que fez um esclarecimento do voto que já havia proferido na última quinta-feira.

Toffoli, que já havia proferido o seu posicionamento na semana passada, disse que seu voto é claro no sentido de entender que "nenhum usuário de droga deve ser criminalizado". O caso começou a ser analisado pelo Supremo em 2011, e ficou paralisado por oito anos.

O julgamento avalia a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, de 2006, que considera crime "adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar".

– O meu voto é claríssimo no sentido de que nenhum usuário de nenhuma droga pode ser criminalizado. Esse foi o objetivo da lei de 2006, descriminalizar todos os usuários de drogas. A lei anterior tratava como crime o uso de drogas, tratava como criminosos os usuários de drogas – disse Toffoli ao fazer o esclarecimento em seu voto.

Para Toffoli, a questão da fixação de quantidades como critério para descriminalização e sustentou que a medida não é suficiente para resolver a questão.

– Fixar a quantidade não resolve o problema. Vamos imaginar um rapaz pego, morador de um lugar muito pobre, com dois mil reais no bolso e cinco gramas de maconha. Ele vai ser preso do mesmo jeito, como traficante – pontuou.

Como fica o consumo de drogas em local público?

Após a explicação feita por Toffoli, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, proclamou a maioria de votos atingida no julgamento. O presidente ainda lembrou que o consumo de drogas em lugares públicos continua sendo um ato ilícito, e que a Corte não estava legalizando a maconha.

Ao votar, o ministro Luiz Fux se pronunciou pela constitucionalidade do artigo 28 da lei de Drogas, mas afirmou entender que a própria norma não criminaliza o usuário. O ministro ainda disse entender não ser papel do Judiciário definir uma quantidade para diferenciar usuários e traficantes, deixando a cargo do Legislativo.

– Peço vênia ao colegiado por essa visão realista de que, sem regulação, sem atuação do Legislativo, a alteração do uso da maconha vai trazer muito mais problema do que solução – pontuou.

A ministra Cármen Lúcia destacou os efeitos nocivos da punição a pessoas que são dependentes químicas e ressaltou os impactos no sistema penitenciário. Ao se juntar à maioria e deliberar sobre as quantidades que devem ser estabelecidas para diferenciar usuário e traficante, Cármen sugeriu a quantidade 60g até que haja uma palavra final do Legislativo.

Quantidade de drogas

Além disso, todos os ministros que votaram consideram que deve haver uma quantidade da droga que faça a pessoa ser presumida como usuária, e não traficante. Ao final da sessão, o presidente do STF afirmou que nesta quarta-feira um número "médio" deve ser anunciado, equalizando as propostas de todos, 40 gramas.

Atualmente, essa definição fica a cargo da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, mas a norma é interpretada de formas diversas dependendo da pessoa e do local em que ocorrer o flagrante.

Para sete ministros, cabe à Corte definir esta quantidade. Dois outros magistrados entendem que compete a outras instituições, como o Congresso Nacional ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a definição desta quantidade.

Os ministros Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Rosa Weber, hoje aposentada, votaram para que o critério que faça alguém ser presumido como usuário seja de 60 gramas ou seis plantas fêmeas. Já os ministros Cristiano Zanin e Nunes Marques, entendem que esta quantidade seja fixada em 25 gramas.

Edson Fachin e André Mendonça consideram que a definição cabe ao Congresso, não ao STF. Mendonça, no entanto, chegou a sugerir um critério provisório, de 10 gramas, até que os parlamentares decidam. Nesta terça, porém, Mendonça recuou da sugestão e disse que a decisão cabe ao Legislativo.

Toffoli votou ainda para fazer um "apelo" para que Executivo e Legislativo, em um prazo de 18 meses, façam a regulamentação de pontos da lei, incluindo o critério que diferencie usuário e traficante.

Nesta terça, os ministros também chegaram ao consenso sobre a liberação de valores contingenciados do Fundo Nacional Antidrogas e a destinação de parte da verba em campanhas educativas, sobretudo para os mais jovens, sobre malefícios do consumo de drogas, de forma semelhante ao que é feito em campanhas sobre cigarro.

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