A prefeitura de São Paulo e o governo do estado instalaram grades de ferro na região da Cracolândia na última terça-feira. Os equipamentos foram colocados na Rua dos Protestantes, no centro velho da capital, local que concentra centenas de usuários de drogas. Foi criado um corredor de tráfego para a passagem de veículos de agentes de saúde e segurança, que ocupa dois terços da via — um terço está sendo usado pelos dependentes químicos.
Na manhã desta sexta (21), os usuários se concentravam na altura do cruzamento da Rua dos Protestantes com a Rua Vitória, onde o poder público instalou as grades. Equipes da prefeitura realizavam ações de limpeza enquanto agentes da GCM vigiavam o fluxo, por volta das 11h.
Agentes no local estimam que o fluxo contava com cerca de 100 pessoas na região. Com a instalação das grades, os usuários ficaram cercados em uma área triangular na lateral da rua, que permite a passagem de carros em um dos lados da via.
Entre alguns usuários o clima era de insatisfação.
— Desse jeito fica muito pior, a gente fica mais amontoado – diz um homem que conversou com a reportagem.
Para equipes de saúde que trabalham no local, o resultado da medida ainda é incerto. Com os usuários concentrados em um espaço pequeno, a circulação dos agentes de saúde entre os usuários fica mais restrita, o que prejudica o trabalho de abordagens, segundo ouviu a reportagem no local.
Nunes explica a ação
O prefeito Ricardo Nunes explicou na manhã desta sexta-feira que a intenção é facilitar o tráfego de agentes de saúde, para que possam fazer abordagem e convencimento dos usuários de droga para encaminhar para tratamento da dependência.
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Segundo ele, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 39% dos dependentes químicos que permanecem na Cracolândia estão no local há mais de 10 anos e outros 57% há mais de cinco anos.
-- Eles têm mais resistência em aceitar o tratamento, em função do tempo sob uso de drogas -- disse o prefeito.
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Nunes afirmou que hoje a Cracolândia tem pouco menos de 1 mil pessoas, mas o local já chegou a concentrar um número bem maior, de 4 mil, dez anos atrás.
Nunes lembrou que todas as ações da Prefeitura são monitoradas e, caso não alcancem o objetivo, são revertidas. Ressaltou ainda que os dependentes químicos podem sair do local a qualquer hora, uma vez que as grades têm aberturas e servem apenas para permitir o tráfego de agentes de saúde.
— A gente só quis criar um corredor de saúde e eles ficaram do lado oposto. A ideia é que os agentes transitem, observem e abordem com mais assertividade. O objetivo é encaminhar para tratamento e parar de perturbar o sossego e a vida das pessoas que vivem e trabalham ali. E mostrar que estão prejudicando a própria vida. Estamos estendendo a mão para que se recuperem e precisamos persistir no convencimento para que se tratem -- disse.
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A iniciativa está inclusa em uma série de ações que vêm sendo realizadas nos últimos tempos na Cracolândia, numa parceria entre a prefeitura e o governo do estado. Um comitê, chefiado pelo vice-prefeito Felício Ramuth, foi criado para coordenar os trabalhos.
A administração municipal chegou a instalar grades na Praça Princesa Isabel, também no centro, em 2022. A Praça da Sé também abrigou equipamentos similares.