Patrícia Kogut
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Nicole Kidman não é uma presença rara nas séries do streaming. Só para citar alguns exemplos recentes, ela brilhou em “Big little lies” e “The undoing”. Ainda assim, quando está no elenco de alguma produção, desperta curiosidade. Assim, fui conferir “Expatriadas”, lançamento do Prime Video da Amazon. E recomendo ao leitor fazer o mesmo. Não apenas pelo bom trabalho da atriz, mas por muitas outras qualidades dessa estreia. Serão seis episódios (há quatro disponíveis).

O enredo é adaptado do best-seller “The expatriates”, de Janice Y. K. Lee.

Nicole vive Margaret Woo, mãe de uma adolescente e de um menino, americana vivendo em Hong Kong, casada com um executivo e com uma vida confortável. A personagem, muito melancólica, organiza a festa de aniversário do marido, Clarke (Brian Tee), que completará 50 anos. Somos apresentados a ela quando está contratando os serviços de uma cerimonialista. Margareth conversa com moça, sempre com o olhar ausente e triste. No geral, responde a perguntas sem interesse. Só se irrita quando a interlocutora sugere que ela é uma dona de casa sem profissão. Esclarece que atuava como paisagista nos EUA, antes de Clarke ser transferido para a Ásia, “mas não há espaço para jardins em Hong Kong”. Notamos seu desânimo com a perspectiva da comemoração, mas não somos informados da razão disso.

Em outra ponta, mas na mesma cidade, conhecemos Mercy (Ji-young Yoo). Inteligente e muito vivaz, ela voltou dos EUA, onde cursou a universidade como bolsista graças a suas grandes capacidades. No entanto, vive de bicos, um atrás do outro, e acredita ser alguém sem sorte na vida. Entendemos que passou por algum acontecimento infeliz.

Finalmente, somos apresentados a Hilary (Sarayu Blue), vizinha de Margaret. Seu casamento vai mal e a amizade com Margareth está estremecida.

Essas personagens centrais têm em comum o desenraizamento, a tristeza, e uma tragédia que só se explica no segundo capítulo. Elas são estrangeiras não apenas em Hong Kong, mas também inadaptadas e desconfortáveis num sentido mais amplo, existencial.

“Expatriadas” estabelece seu suspense de forma refinada, sem truques. A perfeita sintonia entre o roteiro e a direção (assinada por Lulu Wang) é a chave para envolver o espectador numa bruma de pequenos sinais. Eles vão se somando até que o público entenda qual foi o fato brutal que envolveu as três. Quando isso se esclarece, é um choque.

A trama é bem construída e conduzida. E o ambiente colabora para eletrizar. Há muitos outros temas de fundo. Entre eles estão as diferenças sociais, as divergências entre duas culturas e as relações de trabalho entre os estrangeiros endinheirados e a mão de obra barata na Ásia.

Não perca.

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