Patrícia Kogut
PUBLICIDADE
Por

Deliciosa ficção com fundo histórico, “Um cavalheiro em Moscou” chegou à Paramount+. Vale conferir. A série em oito episódios é adaptada do romance homônimo de Amor Towles. Lançado nos EUA em 2016, ele se tornou instantaneamente um best-seller. O leitor entenderá por quê.

A trama começa em 1922. O personagem central, o conde Alexander Rostov (interpretado com comovente entrega por Ewan McGregor), depois que viu seu mundo desmoronar com a Revolução de 1917, estava em Paris. Ele decide voltar para salvar a única sobrevivente de sua família, sua avó. É quando um tribunal bolchevique o condena à prisão perpétua. Mas não numa cadeia comum: Alexander terá de viver para sempre no Hotel Metropol, onde já morava. Ele conserva a pose e a elegância, mas é transferido de sua suíte ampla e equipada para um quartinho de empregados modesto no último andar.

A prisão é ao mesmo tempo uma tragédia e uma benção. Trata-se de uma ilha de luxo dentro da Moscou soviética. O oximoro resume a mistura de simbolismos que compõem a série.

Ewan McGregor/Cavalheiro em Moscou — Foto: Paramount+
Ewan McGregor/Cavalheiro em Moscou — Foto: Paramount+

O clima de fábula domina tudo. O Metropol parece um lugar irreal. Da porta para dentro, o fausto dos tempos do czarismo continua: o hotel funciona como uma vitrine do regime para os visitantes estrangeiros. Os melhores vinhos e os pratos mais refinados são servidos ali. Porém, a nova ordem social invade o ambiente cada vez que um hóspede chega da rua. Mesmo assim, naqueles salões de mármore, escadarias e tecidos brocados, o tempo não passa. A extravagância e o absurdo da situação se traduzem nos figurinos e nos cenários.

A ação se passa quase integralmente dentro do hotel. É um desafio para a direção. A série contudo vence essa limitação com uma história envolvente.

O par romântico de McGregor é a sua mulher na vida real, Mary Elizabeth Winstead. Ela faz a atriz Anna Urbanova e os dois juntos iluminam a tela (eles já estiveram juntos em "Fargo").

A trama fala dos horrores do stalinismo, mas não é essa crítica o que mais importa aqui. É na escolha do elenco que se vê uma um recado político. O papel do amigo de infância de Alexander, o russo Mishka, cabe a um ator negro, Fehinti Balogun. Há outros exemplos dessa mensagem de diversidade na escalação.

“Um cavalheiro em Moscou” é um programão. Não espere, todavia, grande sutileza ou uma trama-cabeça. Ela não chega a ser didática, mas não dificulta a vida do espectador. Há inúmeros clichês. Por exemplo, quando alguém entoa algo em russo, a canção é a conhecida “Ochy chyorne” (“Olhos negros”); ou ainda: a citação literária é a famosa primeira frase de “Anna Karenina” (“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”). E por aí vai.

Nada disso reduz o encanto da série. Entre os seus muitos méritos está justamente a sua falta de reservas em assumir suas escolhas artísticas com honestidade.

Mais recente Próxima 'Bridgerton' 3 estreia sem inovar, mas mantendo o encanto
  翻译: