Patrícia Kogut
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Certos roteiros podem até ser dramáticos, mas têm premissas tão surradas que acabam se reduzindo a meros clichês. É o caso das histórias envolvendo “uma criança desaparecida, a investigação da polícia para descobrir seu paradeiro e a tempestade emocional que a tragédia causa à família”. “Eric”, da Netflix, tem todos esses ingredientes. Seu maior desafio portanto é fazer diferente. A minissérie em seis episódios consegue driblar, pelo menos em parte, alguns de seus obstáculos.

Quem estiver procurando entretenimento sem grandes ambições artísticas e com qualidades honestas não se decepcionará. Esta é uma produção comercial, mas levada por um grande elenco e cheia de sequências externas nas ruas de Nova York. Ela prende a atenção.

Acompanhamos o sumiço de um menino de 9 anos, Edgar (Ivan Morris Howe). Ele é filho de Vincent Anderson (Benedict Cumberbatch) e Cassie (Gaby Hoffmann). O casal vive às turras. Um dia, começam uma acalorada discussão bem na hora em que a criança deveria ser levada para a escola.

O garoto sai sozinho e evapora.

O desaparecimento faz disparar o enredo, que, contudo, não se limita a esse fato. Ele se abre em mil subtramas. Com isso, vai recebendo outros personagens importantes e abordando temas como racismo, homofobia, doença mental, alcoolismo, dependência química e violência policial.

Vincent é marionetista e criador de uma atração de televisão famosa, o “Good day, sunshine!”. A audiência do programa está em crise e a equipe sofre pressões para fazer mudanças. Quando seu filho some, Vincent propõe introduzir um novo personagem, Eric, projetado por Edgar. Isso é feito.

Vincent passa a ter alucinações com o boneco. Dialoga e discute com ele, ora como se fosse um alter ego, ora um inimigo. Convenhamos, um “monstro interior” retratado de forma tão literal parece falta de uma ideia melhor. Só sendo um ator muito talentoso para contracenar com um boneco imaginário sem cair no absoluto constrangimento. E Cumberbatch, felizmente para o resultado final da série, é.

A narrativa não se arrasta. O mistério central é resolvido bem antes do fim e as tramas paralelas são interessantes. Refiro-me sobretudo à do detetive Michael Ledroit (McKinley Belcher III). Ele é um policial do bem, que atua contra tudo e contra todos. Banalidades à parte, o ator merece todos os elogios e os dramas pessoais de seu personagem são mais atraentes que todos os demais.

“Eric” se passa em 1985. Essa cronologia muda tudo. Não se usava a internet ou celular e a investigação é toda analógica. Os telefones — fixo ou público, de cabine — e as fitas de VHS ajudam a polícia. O anacronismo tecnológico não atrapalha em nada o bom ritmo do enredo. Ao contrário, é um charme extra.

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