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Por — Brasília

Após 14 anos desde que fez seu último discurso na ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o lema da diplomacia de seu governo de que o "Brasil está de volta". Lula fez uma defesa enfática do combate à mudança climática, também defendeu a luta contra a desigualdade social e criticou o neoliberalismo econômico que estaria abrindo caminho para o crescimento da extrema direita no mundo.

Veja os recados presentes na fala de Lula na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.

1- Luta contra desigualdade social

Lula reforçou um dos pilares de sua política externa: a redução das desigualdades e o combate à fome. Segundo ele, mais de 735 milhões de pessoas não têm o que comer.

— A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.

O presidente disse que as crianças estão entre as mais prejudicadas nesse cenário de insegurança alimentar.

— A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida.

2- Combate às mudanças climáticas

O presidente voltou a cobrar dos países ricos compromissos assumidos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas no mundo. Ele responsabilizou as nações desenvolvidas pela situação atual.

— Agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas. Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado — afirmou.

Lula reafirmou a defesa de que, em um cenário de aquecimento global, as responsabilidades são comuns, mas diferenciadas. Argumentou que os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera.

— São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima.

3. Proteção das minorias

Lula citou a brasileira Bertha Lutz, pioneira na defesa da igualdade de gênero na Carta da ONU. Lembrou que o Brasil aprovou uma lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função.

— O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar. Se tivéssemos que resumir em uma única palavra esses desafios, ela seria desigualdade. A desigualdade está na raiz desses fenômenos ou atua para agravá-los.

Inspirado na brasileira, ele enfatizou que seu governo combaterá o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres. E disse que seu governo trabalhará em defesa dos direitos de grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência.

4. Críticas ao neoliberalismo

Lula alertou para o crescimento da extrema direita. Disse que o mundo ficou pior com o neoliberalismo.

— O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.

5. Crítica ao protecionismo dos países ricos

Lula defendeu a reforma das relações de comércio no planeta. Disse que o principal foro de discussão, a Organização Mundial do Comércio (OMC), está paralisada, o que dá espaço para o avanço do protecionismo.

— O protecionismo dos países ricos ganhou força e a Organização Mundial do Comércio permanece paralisada, em especial o seu sistema de solução de controvérsias. Ninguém mais se recorda da Rodada do Desenvolvimento de Doha.

Lula na ONU: presidente cobra fim da desigualdade e se compromete com 'igualdade racial'

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6. Crítica aos gastos militares

Para Lula, o ideal seria se os países gastassem menos com armas e mais com alimentos e outras formas de ajudar os mais pobres. Ele destacou que, no ano passado, os gastos militares somaram mais de US$ 2 trilhões.

— As despesas com armas nucleares chegaram a US$ 83 bilhões, valor 20 vezes superior ao orçamento regular da ONU. Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade.

7. Defesa da liberdade de imprensa

O presidente defendeu a liberdade de imprensa e citou Julian Assange, ativista australiano, fundador do WikiLeaks. Assange está preso há quatro anos, em Londres.

— É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima. Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos.

8. Crítica ao embargo econômico a Cuba

Lula criticou o embargo econômico a Cuba, aplicado pelos EUA há décadas. Disse ser contra tentativas de dividir o mundo, como ocorria no tempo da Guerra Fria.

— O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo. Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria.

No último fim de semana, Lula esteve em Havana. Ele se reuniu com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e participou da Cúpula do G77, que reúne 134 países em desenvolvimento.

9. Defesa do multilateralismo

Lula também saiu em defesa do multilateralismo e citou o Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) como resposta à falta de igualdade entre as nações.

— O princípio sobre o qual se assenta o multilateralismo, o da igualdade soberana entre as nações, vem sendo corroído (...) As bases de uma nova governança econômica não foram lançadas. O Brics surgiu na esteira desse imobilismo e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes.

Ele ressaltou que a ampliação do grupo na Cúpula de Johannesburgo, no mês passado, fortalece a luta por essa igualdade. O Brics ganhará mais seis membros: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã.

— A ampliação recente do grupo na Cúpula de Johannesburgo fortalece a luta por uma ordem que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21. Somos uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo num contexto de grave crise do multilateralismo.

O presidente ainda criticou a prioridade dada por entidades internacionais a financiar países desenvolvidos:

— No ano passado, o FMI disponibilizou US$ 160 bilhões em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas US$ 34 bilhões para países africanos. A representação desigual e distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é inaceitável. Não corrigimos os excessos da desregulação dos mercados e da apologia do Estado mínimo. As bases de uma nova governança econômica não foram lançadas.

10. Críticas ao Conselho de Segurança da ONU

Em sua defesa por uma ampla reforma no Conselho de Segurança da ONU, Lula argumentou que o órgão vem perdendo credibilidade. Países como Brasil, Índia, Alemanha, Japão e África do Sul já manifestaram interesse em passar a ocupar vagas permanentes, que hoje são ocupadas por EUA, Reino Unido, França, Rússia e China.

— O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia.

Essa ineficácia, na visão do presidente, é vista na continuidade da guerra na Ucrânia, que foi invadida pela Rússia em fevereiro do ano passado.

11. Amazônia

Lula: 'O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si'

Lula: 'O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si'

Lula ressaltou que o Brasil tem feito sua parte para preservar a Amazônia. Foi aplaudido quando disse que o desmatamento teve uma queda de 48% em seu governo.

— O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si.

Ele lembrou que, há cerca de um mês, o Brasil sediou a Cúpula de Belém, no coração da Amazônia. Disse que os países amazônicos lançaram uma nova agenda de colaboração.

— Somos 50 milhões de sul-americanos amazônidas, cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região.

12. Política interna

Em discurso na ONU, Lula diz que 'a democracia venceu' ao citar as eleições de 2022

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Apesar de discursar em um palco mundial, Lula aproveitou para enviar recados internos ao Brasil em dois momentos. Falou sobre promover a igualdade racial no país:

— No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível. Queremos alcançar a igualdade racial na sociedade brasileira por meio de um décimo oitavo objetivo que adotaremos voluntariamente — afirmou.

Em meio a investigações sobre trama golpistas envolvendo apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonoar, ele também reforçou a defesa da democracia.

— Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país. A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão — disse.

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