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A decisão do Supremo Tribunal da Venezuela, alinhado com o chavismo, de suspender "todos os efeitos" do processo das primárias da oposição, realizadas na semana passada, deixa em aberto o acordo assinado entre governo e oposição, que culminou com a flexibilização temporária das sanções dos EUA em relação ao país. Para o venezuelano Mariano de Alba, analista sênior do Crisis Group, o governo chavista — e até parte da sociedade civil venezuelana — calculou mal o tamanho da participação popular nas primárias, e a estratégia, a partir de agora, será tentar dividir a oposição, mantendo a inabilitação da candidata vencedora, María Corina Machado. Por isso, nesse momento, as flexibilizações alcançadas estão no ar: são os próximos passos de Maduro que irão definir como os EUA vão agir. O provável é que o presidente americano, Joe Biden, se movimente com cautela já que tem muito a ganhar, especialmente na questão migratória, de olhos nas eleições americanas do ano que vem.

O governo calculou mal o tamanho das primárias?

Sim, o governo e até a sociedade venezuelana em geral, que tinha dúvidas de que ela aconteceria de maneira efetiva. Sem dúvida o número de participantes foi uma surpresa: mais de 2 milhões de pessoas, segundo a Comissão Nacional das Primárias (CNP), que fizeram um esforço para sair e se manifestar, mesmo em condições muito adversas. Isso dá uma base importante para a oposição para as eleições de 2024 e deixa muita clara a situação de descontentamento da população em relação ao governo.

O órgão eleitoral fala em 20 milhões de eleitores no total. É um número expressivo mas ainda assim representa apenas 10% das pessoas aptas a votar...

A cifra de 20 milhões de eleitores pode ser enganosa. Há um número muito importante de venezuelanos, de quase 8 milhões, que deixaram o país, segundo a ONU. Pelo menos metade são adultos. Ou seja, há hoje quase 4 milhões de pessoas registradas para votar na Venezuela que vivem no exterior. É o meu caso. Se a eleição presidencial fosse amanhã, eu só poderia poderia votar viajando para a Venezuela. Ou seja, embora o CNE fale em mais de 20 milhões de eleitores registrados, creio que no máximo entre 8 e 10 milhões sejam eleitores em potencial. A participação de 2 milhões nas primárias da oposição é uma cifra importante, uma base de apoio muito relevante.

O analista venezuelano Mariano de Alba, do Crisis Group — Foto: Divulgação
O analista venezuelano Mariano de Alba, do Crisis Group — Foto: Divulgação

A candidata María Corina Machado venceu o pleito por ampla margem, mas está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos. O senhor acredita que o governo aumentará a perseguição política?

A convocação de membros da Comissão Nacional das Primárias para depor [na segunda-feira] é muito preocupante. Mas no caso de María Corina, a estratégia continua sendo ignorá-la e tentar diminuir um pouco sua relevância, mantendo a tese de que ela estava inabilitada e portanto não pode ser candidata de forma alguma. Por ora, acredito que isso não irá mudar.

Quem é José Brito, deputado que abriu o recurso denunciando irregularidades e que foi acatado pelo Supremo? Ele poderia fazer isso legalmente?

Foi um deputado do partido opositor Primeiro Justiça, que fez parte da Assembleia Nacional de 2015, mas foi expulso da legenda em um episódio de denúncias de que havia sido cooptado pelo governo. É provável que não tenha apenas vínculos com o governo, mas que também responda aos interesses do chavismo. A própria CNP o recebeu no começo do ano para uma reunião, mas ele nunca demostrou vontade concreta de participar das primárias. Como o Judiciário responde a critérios políticos, o fato de Brito não ser candidato não foi sequer um obstáculo para que ele apresentasse o recurso. Todos os argumentos mostram que é mais uma decisão política do que jurídica.

Por muitos anos a oposição esteve dividida, mas María Corina venceu por ampla margem. A oposição finalmente está unida?

A possibilidade de novas fraturas não está descartada, até porque o governo incentiva essas divisões. O fato de que María Corina tenha obtido mais de 90% dos votos a coloca em um lugar de maior responsabilidade para chegar a um consenso, de coordenar de forma estratégia os próximos passos da oposição. Mas, em um cenário que ela não possa se candidatar, existe o temor de que isso desemboque em um chamado geral para não participar das eleições, o que ela já fez no passado. Por muitos anos, María Corina manteve a tese de que, diante de uma ditadura, não é possível participar de eleições. Ela mudou de posição com as primárias, e insiste que a inabilitação não a preocupa. Agora, há uma incerteza sobre sua estratégia se não for mesmo candidata: isso poderia dividir setores que querem continuar participando das eleições, apesar da inabilitação. Ou seja, dado o calibre de sua vitória, a responsabilidade é majoritariamente dela.

Juan Guiadó e Henrique Capriles também estão inabilitados e nem sequer participaram das primárias. Haverá outros candidatos da oposição?

Certamente haverá outros candidatos: já temos um comediante que deve lançar sua candidatura [Benjamín Rausseo, conhecido como Conde del Guácharo], e pelo menos outro opositor que está fazendo todos os esforços para se entender com Maduro [Antonio Ecarri]. A aposta do governo é que haja vários candidatos que pelo menos se vendam como opositores, para que o voto termine se dividindo.

Já a candidatura de Maduro é dada como certa, não?

Quase 100%, mas eu não descartaria que o chavismo conclua que é melhor ter outro candidato, graças à baixa popularidade do presidente. O governo irá avaliar se o aumento de divisas com a flexibilização das sanções será suficiente para que Maduro se recupere, ou seja, se haverá melhora econômica e se ela se traduzirá em competitividade eleitoral. Se a economia não melhorar, se não se traduzir num aumento da popularidade do governo, Maduro ficará tentado a não implementar as garantias acordadas.

Hoje o Departamento de Estado dos EUA disse que se o acordo for violado, tomará "as medidas necessárias". As últimas medidas do governo podem mudar a posição dos EUA em relação à flexibilização das sanções?

Acho que os EUA vão ser bastante cautelosos, porque há um grande interesse de que o acordo se mantenha, especialmente sobre a questão migratória, que será um tema importante na campanha americana. Mas à medida que o governo venezuelano aumente a perseguição, acabará impedindo que os EUA adotem outras concessões, inclusive as que já estão acordadas para serem implementadas em curto prazo. De qualquer maneira, é de interesse tanto dos EUA, quanto da Europa e de países da região, que o capítulo de isolamento contra a Venezuela seja encerrado. Por isso, acredito que governo americano vai responder, mas seus instintos vão ser cautelosos.

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