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Por O Globo e agências internacionais

Depois de uma aguardada reunião entre os líderes das duas maiores economias do planeta, EUA e China, o presidente americano afirmou que "progresso real" foi feito ao longo das quatro horas de conversa com Xi Jinping, em uma histórica residência de São Francisco, no estado da Califórnia. De concreto, os dois lados firmaram compromissos para restaurar as comunicações militares diretas, suspensas desde o ano passado, e para controlar a venda de produtos usados na fabricação do fentanil, droga que é problema de saúde pública nos EUA.

"Eu valorizo a conversa que tive hoje com o presidente Xi porque penso ser de suma importância que nos entendamos de forma clara, de líder para líder", escreveu Biden no X, o antigo Twitter. "Há desafios globais críticos que demandam nossa liderança conjunta. E hoje nós fizemos um progresso real."

Na reunião, os dois líderes concordaram em retomar os contatos militares de alto nível, "na base da igualdade e respeito", em ações que incluem reuniões entre os chefes militares dos dois lados. Essas comunicações foram cortadas no ano passado, depois de uma visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, uma viagem que foi duramente criticada pela China e levou a uma série de operações militares nos arredores da ilha.

— Estamos de volta às comunicações diretas, abertas , claras e diretas — disse Biden, em entrevista coletiva depois da reunião. — Estamos reassumindo as comunicações diretas entre militares. Para evitar contatos acidentais e erros de cálculo. Eles podem causar problemas reais.

Será montado ainda um grupo de trabalho voltado ao combate às drogas — os EUA afirmam que boa parte dos produtos usados para a fabricação de fentanil, substância que vem provocando uma crise de saude pública no país, vem da China, e Xi sinalizou que pretende apertar a fiscalização sobre as empresas do setor, afirmaram integrantes da Casa Branca à CNN.

— Essas são ações significativas para reduzir o fluxo dessas substâncias químicas e máquinas de prensagem de comprimidos da China para o Hemisfério Ocidental — afirmou o presidente americano. — Isso vai salvar vidas.

Uma das expectativas de Biden era incluir um canal para a discussão dos limites ao uso de inteligência artificial no mundo, mas não foi firmada nenhuma iniciativa prática — segundo a agência Xinhua, ambos concordaram apenas com o estabelecimento de "um diálogo intergovernamental" sobre o tema, e integrantes do governo Biden afirmaram que essa conversa será liderada pelo conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e pelo chanceler chinês, Wang Yi.

Segundo a agência estatal Xinhua, os presidentes concordaram em aumentar a oferta de voos entre as duas nações, além de incrementar acordos de intercâmbio em educação, cultura e esportes. Xi, por sua vez, expressou sua frustração com os controles impostos pelos EUA à exportação de produtos de alta tecnologia, como semicondutores, para a China, afirmando que eles "prejudicaram seriamente os interesses legítimos da China", e que "privaram o povo da China de seu direito ao desenvolvimento". Não houve sinalização, contudo, sobre mudanças nessa política de Washington.

Os líderes conversaram ainda sobre crises internacionais, a começar pela situação no Oriente Médio. Biden, afirma a Xinhua, pediu à China que use seus canais de diálogo com os iranianos para evitar uma escalada da violência, e Pequim declarou que já o tem feito com frequência. Sobre Taiwan, Xi cobrou de Biden ações mais concretas para garantir que Washington não apoia a independência da ilha, e também criticou a venda de armas americanas para o governo local. Para o líder chinês, esse é o tema "mais importante e sensível" da relação bilateral EUA- China.

— A China eventualmente vai obter a reunificação [com Taiwan], e vai inevitavelmente conseguir a reunificação — disse, de acordo com a Xinhua. — Os dois lados devem entender os princípios uns dos outros, e não mexer ou criar problemas ou cruzar linhas, mas sim se comunicar mais, ter mais diálogo e mais discussões, e lidar com as diferenças e acidentes calmamente.

Biden, por sua vez, disse ter levantado a questão de Taiwan, reafirmando seu compromisso com a política de "Uma China", pela qual os EUA não reconhecem a independência de Taiwan, mas mantêm uma robusta relação, inclusive militar, com a ilha, que tem um sistema político, econômico e social próprio. Ao mesmo tempo, expressou sua preocupação com atividades chinesas no Mar do Sul da China e em toda área da Ásia-Pacífico, e exigiu que os chineses não interfiram em questões internas taiwanesas, como as eleições presidenciais de janeiro do ano que vem.

Nas entrelinhas, ficou a imagem de que os dois líderes mantiveram um encontro mais produtivo do que os últimos dois, em que, segundo representantes dos dois lados, pareceu haver mais disposição para ceder e para avançar em temas espinhosos, embora a maior parte deles tenha ficado sem uma resposta imediata.

— Creio que foram as discussões mais construtivas e produtivas que tivemos — disse o presidente americano aos jornalistas. Ao final da coletiva, ao ser perguntado se ele confiava no líder chinês, disse que era importante "confiar, porém verificar".

Cordialidades

A esperada reunião, a segunda desde 2021, teve início com um aperto de mão, ainda nas escadas da histórica propriedade Filioli, no sul de São Francisco. Biden já havia cumprimentado Xi com um sorriso, após o líder chinês ter descido da limusine preta que o conduziu até o local. Após os cumprimentos iniciais, Biden e Xi deram início às conversas, que por alguns minutos puderam ser acompanhadas pela imprensa.Biden afirmou que as opiniões divergentes não deveriam “entrar em conflito”. Xi concordou, respondendo que “virar as costas não era uma opção” para os países

O presidente americano destacou a necessidade de clareza na comunicação entre Pequim e Washington, apontando ainda que a competição entre os dois países, um conceito que aparece nas bases da política externa do governo do democrata, não evolua para um conflito entre as nações.

— Como sempre, creio que não existe substituto para as conversas frente a frente. Nossas discussões sempre foram diretas e francas — disse Biden, destacando os desafios que vê como prioritários, como as mudanças climáticas, o combate ao tráfico de drogas e o avanço da inteligência artificial.

Por sinal, Xi lembrou da longa relação que tem com o presidente americano, mesmo antes de ele chegar à Casa Branca.

— Ao chegar aqui, lembrei de sua visita à China quando eu era o vice-presidente. Nos encontramos, foi há 12 anos. Ainda me lembro de nossas interações de forma viva, e isso sempre me traz muitos pensamentos — disse o líder chinês.

Ele também mencionou questões que vê como prioritárias sobre a economia global.

— O mundo emergiu da pandemia da Covid-19, mas ainda sente seus impactos. A economia global está se recuperando, mas o momento permanece moroso — disse Xi.

Para ele, a relação entre EUA e China é "a mais importante relação bilateral do planeta", e ela deve se desenvolver "de forma a beneficiar os dois povos e cumprir a responsabilidade com o progresso humano". Sobre as recentes rusgas entre os países, disse que os laços "seguem navegando em frente, em meio a curvas e solavancos".

— Não é realista um lado tentar mudar o outro, e o conflito e o confronto trazem consequências insustentáveis para os dois lados — disse, pouco antes da imprensa ser convidada a deixar a sala de reunião — O planeta Terra é grande o bastante para que os dois tenham sucesso.

Pauta turbulenta

Esta é a primeira visita do presidente chinês aos Estados Unidos desde 2017, e o segundo encontro entre os dois líderes desde que Biden assumiu o cargo, em janeiro de 2021. A última vez que se encontraram pessoalmente foi durante a reunião do G20 em novembro do ano passado, em Bali. Na ocasião atual, o presidente americano lidera a cúpula anual do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), bloco de 21 países — entre eles, a China — que movimenta 60% da economia mundial.

O encontro trouxe uma pauta de atritos, como as disputas em torno do Mar do Sul da China e Taiwan, ilha que a China considera parte de seu território. Esta semana, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, acusou forças externas, sem citar os EUA, e o Partido Democrático Progressista (PDP) em Taiwan de apoiarem uma "agenda separatista" que estariam alterando o status quo, e enfatizou que Taiwan é uma questão interna da China.

Relações abaladas

Os líderes atravessaram uma fase tensa no início do ano, especialmente após o sobrevoo de um suposto balão chinês espião sobre território americano, posteriormente derrubado por ordens de Biden. O incidente exacerbou os atritos entre Pequim e Washington, já balançados desde a visita, em agosto de 2022, da então presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, a Taiwan. A visita levou a uma resposta furiosa da China, com a realização das maiores manobras militares de sua História ao redor da ilha. O mesmo ocorreu após a visita do sucessor de Pelosi, o republicano Kevin McCarthy (deposto do cargo há um mês), em abril deste ano.

Além disso, uma série de declarações recentes do americano irritaram Pequim. Em agosto, Biden afirmou que a China era uma "bomba-relógio", referindo-se a seus problemas econômicos, e classificou Xi como um "ditador", algo que ele repetiu, de forma mais discreta, na coletiva desta quarta-feira. Também restringiu o investimento dos EUA em setores de alta tecnologia na China e proibiu a exportação de microchips de última geração, medida que Pequim considera uma violação dos princípios do livre comércio.

Biden, porém, tem suavizado o discurso desde o último verão (no Hemisfério Norte), quando foram retomados os contatos diplomáticos. Biden enviou este ano vários altos funcionários — incluindo o secretário de Estado, Antony Blinken, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e a secretária de Comércio, Gina Raimondo — à China para deixar claro que, embora os Estados Unidos queiram proteger a segurança nacional, não pretendem cortar os laços econômicos. Durante reunião do Conselho de Segurança da ONU, em setembro, o americano fez outro aceno à China, destacando a capacidade dos países de cooperarem em temas de interesse comum.

Poucas horas antes da reunião, Biden afirmou nesta terça-feira que a China, sob comando de Xi, enfrentava "problemas reais”, o que seria exemplo de “como o restabelecimento da liderança americana no mundo está se consolidando”. Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores sublinhou que todos os países têm problemas, incluindo os Estados Unidos.

Após a conferência, o líder chinês participou um jantar com executivos norte-americanos. Na véspera da conferência, os países também se comprometeram a colaborar mais estreitamente na luta contra o aquecimento global. A Rússia, parceira da China, saudou a reunião de São Francisco, considerando as conversações "importantes para todos".

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